Pedro Santos Guerreiro
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Hoje começamos pelos jornais
brasileiros e não é por faltar assunto nos portugueses. É pela importância do
que está a acontecer no Brasil, depois de um domingo de protestos que mostram
como o escândalo da corrupção do caso Lava Jato se tornou um caso político
contra o governo que pode conduzir ao “impeachment” (impugnação, a queda
de Dilma).
Junte milhares de pessoas na rua a bater em tachos e panelas, isso é um panelaço. Junte milhares de manifestantes em dezenas de locais e chame-lhe um abalo de regime. Ontem houve manifestações em 169 cidades brasileiras. Em São Paulo terão estado nas ruas 135 mil pessoas, segundo dados da Datafolha na Folha de São Paulo. Os números ficaram aquém de manifestações semelhantes em março – mas o facto de as manifestações se centrarem agora em Dilma e em Lula preocupa o governo. “É injusto dizer que o governo não tem agenda”, ironizou o senador José Serra, citado no Estado de São Paulo. “Tem sim: evitar o impeachment. Tudo gira em torno disso, até a agenda de viagens”. Vera Magalhães, editora da Folha, nota isso mesmo: é um erro comparar números, pois o facto marcante deste domingo é a convergência para o grito “Fora Dilma!”. O “impeachment”, escreve, “era um clamor geral”. As fotografias das manifestações mostram-no: Lula vestido de presidiário, Dilma de “irmã” metralha. A presidente tem agora uma taxa de reprovação de 71%.
Recorde-se que Lula não é um dos investigados no caso Lava Jato,
estando sim sob investigação das autoridades fiscais. Mas os protestos ligam
também Lula aos esquemas de corrupção, titula o Estadão.
“O povo anseia Lula na cadeia” foi um dos gritos da tarde, de
manifestantes que empunhavam cartazes em que o chamavam de “corrupto”, “chefe
de quadrilha” ou “bandido”. Os “protestos deixam claro que os brasileiros
não aceitarão tentativa de frear a investigação do Lava Jato”, escreve Alberto Bombig no Estadão. Os brasileiros não querem “a confeção de uma
nova pizza em Brasília”. Não é gastronomia não, uma “pizza” seria empatar (e
amputar) politicamente as investigações. O juiz federal Sérgio Moro foi
aliás uma das imagens das manifestações – não apupado, mas apoiado.
“Pela terceira vez em cinco meses, o Brasil mostrou nas ruas que está farto
de corrupção, incompetência e vigarice”, escreve Augusto Nunes. Vale a pena ver um vídeo da Veja que explica como Dilma pode deixar a presidência e o que pode acontecer
depois.
O editorial do Estado de São Paulo é especialmente duro: “Nos últimos dias, Dilma
transformou o Palácio do Planalto, onde ela é inquilina passageira, em um
bunker.” É de lá que a presidente estabeleceu um discurso vitimização
perante uma suposta “conspiração para tirá-la do poder”.
“O voto é a fonte da minha legitimidade e ninguém vai tirar essa
legitimidade que o voto me deu”, afirmou já Dilma. “Trata-se de um
entendimento indigente do que vem a ser o regime democrático em vigor no
Brasil”, comenta o Estadão. Como analisa João Otávio Noronha, relator dos
ações movidas no Tribunal Superior Eleitoral, Dilma “tem a presunção da
legitimidade do voto, que pode ser destituída por uma ação de investigação
eleitoral ou impugnação”. O Estadão conclui: “Se a Presidente da
República realmente tem apreço pela democracia, está disposta ao diálogo e
quer ver reconhecida a legitimidade do seu mandato, deve tratar de acalmar os
ânimos de sua tropa, baixar o tom e aceitar o facto de que o Estado não é
ela.”
Em Portugal, a crise também é analisado na imprensa. Em editorial, o Público escreve que “a corrupção mina o regime (…) e a
recessão económica obriga Dilma a adoptar algumas medidas de austeridade para
reequilibrar as contas públicas.” Sim, “no Brasil também há austeridade”,
escreve João Marques de Almeida no Observador, que acusa o partido do governo, o PT, de “olhar para recursos
públicos como propriedade privada”. “Resta saber até quando resistirá
Dilma no Planalto”, conclui o Público. Sérgio Figueiredo, no melhor texto
sobre o tema, remata no Diário de Notícias: “Dilma está feita. Ela própria feita num partido
que implode e tresanda com a podridão, a corrupção.”
Entrámos na segunda quinzena de agosto. Estamos aqui na redação do Expresso
todo o dia e, já sabe, às 18 horas há Expresso Diário. Amanhã estará aqui o
Ricardo Costa para lhe servir o Expresso Curto.
Tenha um dia bom. Ou, pronto, muito bom.
Título e Texto: Pedro Santos Guerreiro, 17-8-2015
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segunda-feira, 17 de agosto de 2015
Panelaço
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