Maria Lucia Victor Barbosa
“A praça pública é maior que as
urnas”
Ulysses Guimarães
Na atualidade a palavra
impeachment tornou-se o veredito das multidões que encheram as ruas do Brasil
no histórico dia 16 de agosto. Foi o maior julgamento popular de um presidente
da República, no caso, da presidente Dilma Rousseff.
O movimento, como os dois
anteriores foi espontâneo, consciente, apartidário, ordeiro, pacífico, com
objetivo claro e definido: Fora Dilma. Fora Lula. Fora PT. Grandes faixas com a
palavra impeachment exibiram a tônica do “plebiscito”, pedindo a saída da
governante que quebrou o País e jogou a conta nas costas do povo depois de
tê-lo enganado nas eleições com mentiras.
Emblematicamente, em Brasília,
o gigantesco balão com a cara de Lula da Silva, vestido de presidiário e com o
número dos Irmãos Metralha no peito, indicava que o presidente de fato já não
passa de um Pixuleco das falcatruas.
Neste cenário soou falso o
discurso do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência,
Edinho Silva, que do alto do seu pomposo e inútil cargo acusou o povo de
intolerante e pediu otimismo. O ministro esqueceu que as pessoas costumam ir
aos supermercados onde a realidade da inflação e da queda de renda é
inequívoca.
Edinho Silva também mandou
recado para a oposição, que nunca existiu, declarando numa linguagem lulesca:
“Só esperamos que, quando os interesses são do País, que, em vez de ficarmos
cultivando questões partidárias, a gente possa enxergar aquilo que é do
interesse nacional”.
Portanto, o ministro pede aos
outros o que nunca foi feito por seu partido, o PT e, ao mesmo tempo, não tem
noção de um fato básico: Não tem governo que resiste quando a economia vai mal.
Tampouco, Edinho Silva leu “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel, onde está
escrito: “Os homens esquecem mais facilmente a morte do pai do que a perda do
patrimônio”. Mas ler, ainda mais “O Príncipe”, seria pedir demais ao ministro.
Sobre a oposição, que na
linguagem petista significa PSDB, o PT pode ficar sossegado. O ex-presidente,
Fernando Henrique Cardoso, sempre foi o maior defensor de Lula e do PT, no que
foi seguido por seus correligionários. Aguentou oito anos ouvindo “Fora FHC” e,
depois de ter entregado ao recém-eleito presidente Lula um governo sem
inflação, seus melhores quadros e políticas sociais que o PT imitou, ouviu por
mais 12 anos indo para 13 que sua herança era maldita. E tem mais: em agosto de
1999, Lula da Silva disse: “Renúncia é um gesto de grandeza e FHC não tem essa
grandeza”. O pedido de renúncia depois pareceu pouco e o PT passou também a
encampar uma campanha pelo impeachment de Fernando Henrique Cardoso. Naquela
ocasião não era golpe.
Agora foi dito que FHC
unificou o PSDB em torno do pedido de renúncia da Presidente. Um mimo dado a
Rousseff, que jamais irá renunciar. E assim, entre impeachment, novas eleições
ou cassação de Rousseff, o PSDB aceitou, por enquanto, que pedir a impossível
renúncia da presidente é melhor. E se Eduardo Cunha, a única oposição real
pedir o impeachment, os tucanos aprovam. Pelo menos é o que é dito agora. Se
bem que os tucanos já estão com a bandeja pronta para entregar a cabeça de
Cunha depois que o Procurador-geral, Rodrigo Janot, o denunciou.
Enquanto isso, a classe
dirigente petista conta com Renan Calheiros para salvar a pele da presidente e,
é claro, a sua própria, no tapetão institucional. Também aumentam as
performances da presidente diante de públicos selecionados que a aplaudem. E
não poderia faltar um contra-ataque dos ditos movimentos sociais sustentados
pelo governo e que foram realizados dia 20 deste a favor de Rousseff e,
paradoxalmente, contra o ajuste fiscal e a Agenda Brasil.
Os “exércitos” de Stédile,
Boulos e da CUT, com exceção de São Paulo onde houve mais gente, nas demais
capitais não passaram de grupelhos do pixuleco. Mesmo porque, os manifestantes
chapa-branca fazem parte dos 8% que apoiam Rousseff contra os 70,1% da
população, uma quantidade descomunal de coxinhas, de conservadores da classe
média de direita e, como disse Lula da Silva, de nazistas.
O PT, que também participou do
impeachment do ex-presidente Collor, hoje chama de golpistas os que querem se
ver livre do pior governo presidencial de nossa história. Isso lembra uma
entrevista de Ulysses Guimarães antes da queda de Collor.
Disse o deputado, que a praça
pública era maior que as ruas e que Collor não era mais presidente. Teria este
se tornado um fantasma, mas um fantasma que provocava inflação, desemprego,
queda da bolsa e que devia ser exorcizado. O cidadão havia votado em Collor,
mas acordara e estava nas ruas. Na Câmara, se não votassem o impeachment seriam
considerados cúmplices.
Agora não temos governo, mas
um fantasma que provoca um cortejo de desgraças para o País. Os cidadãos
acordaram. É hora do Congresso relembrar que a praça pública é maior que as
urnas. Caso contrário, os parlamentares serão cúmplices.
Título e Texto: Maria Lucia Victor Barbosa, Socióloga,
21-8-2015
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Lisboa, 16 de agosto de 2015 |
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