Luciano Henrique
E não é que a oportunidade de
tirarmos algumas coisas a limpo está mais próxima do que esperávamos? O fato é
que o procurador-geral de Dilma, Rodrigo Janot, vai passar pela sabatina nesta
quarta-feira, 26/8, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ).
Antes de tudo, aqui vai uma lista de perguntas a serem feitas (compiladas com a
ajuda de leitores). Depois das perguntas, vamos às dicas do que fazer:
· Você denunciou Eduardo Dunha, mas os blogs
estatais já sabiam da data de sua denúncia dias antes. Você não acha que isso
leva a suspeitas de ação orquestrada? Teriam sido espíritos que invadiram seu
escritório e leram sua denúncia, levando-a para estes blogueiros?
· Você usou uma epígrafe em sua denúncia contra Eduardo
Cunha, que conclui com uma frase em estilo de ameaças de Valeska Popozuda, no
padrão “vou te derrubar, você vai cair”. A frase, uma citação de Gandhi, é
algo como “tiranos… no final sempre caem”. Você não acha que isso é baixar o
nível demais, ou, melhor dizendo, algo incompatível com um cargo tão
importante?
· Você quer que Cunha seja condenado a 184 anos de
prisão. Podemos então esperar um pedido seu de no mínimo 5.000 a 10.000 anos
para Lula e Dilma?
· Você afirmou que tem provas contra Eduardo
Cunha, mas em todas as “provas” apresentadas vimos alegações de gente dizendo
“ele me disse isso”, e não coisas como um áudio com a gravação da conversa, o
que seria uma prova de verdade. Aliás, já existem áudios de gravações de
conversa até de Lula com Alexandrino. Qual é sua melhor evidência (a mais
contundente) sobre Eduardo Cunha? [se ele se recusar a dizer, é bom afirmar que
em toda a ação não existem provas, e daí ficará mais difícil para que ele use
recursos de indignação a fim de fazer as pessoas se convencerem de que ele
não está usando o cargo para fins políticos].
· Os petistas dizem que pedir impeachment de Dilma
é “golpe”. Por outro lado, em duplo padrão, eles dizem que pedir afastamento de
Eduardo Cunha “não é golpe”. Parece que qualquer coisa contra o PT é “golpe”,
mas qualquer coisa a favor é “mais democracia”. Seja claro em sua
resposta, por favor: impeachment e afastamento só não são golpes se forem
feitos contra adversários do PT? Pedir impeachment é golpe? Explique-nos se
você concorda com este truque retórico usado pelo PT.
· O cocalero Evo Morales ameaçou usar as Forças
Armadas de seus país contra nós caso Dilma sofrer impeachment. Usando a mesma
retórica suja do PT, ele diz que “é golpe” um possível impeachment de Dilma.
Isso é claro desprezo do PT e de seus aliados à Constituição, a qual você tem a
obrigação de defender. Há abundantes evidências de que Dilma valida todos os
acordos comerciais do Brasil com a Bolívia, que agora é um país hostil. A
manutenção destes acordos comerciais irá resultar em uma denúncia de crime de
responsabilidade contra a presidente?
· Por que você excluiu políticos do PT das
investigações, sendo que havia indícios mais fortes para investigá-los do que
os indícios de adversários políticos do partido, como Eduardo Cunha?
· A deputada Mara Gabrilli, do PSDB, deu
declarações duríssimas que relacionam Lula ao caso do assassinato de Celso Daniel. Há
expectativas de alguma denúncia relacionada a este caso?
· O presidente da CUT ameaçou pegar em armas em
pleno Palácio do Planalto e, pior, na presença da presidente Dilma. Ultimamente
essas ameaças de guerra civil têm sido constantes. Em muitos casos, estes
grupos são financiados com verbas estatais. O que será feito em relação à Dilma
Rousseff neste caso? Em complementação, esclareça qual o seu papel e como o
senhor pensa em defender o Estado Democrático de Direito das ameaças de luta
armada contra a sociedade vinda dos defensores internos e externos da
presidente.
· Renan Calheiros é suspeito de corrupção ativa e
lavagem de dinheiro, enquanto no caso de Eduardo Cunha temos suspeitas de
corrupção passiva. Por que Renan Calheiros não foi denunciado, mas Eduardo
Cunha sim?
· Até a mídia bancada por verbas estatais (cujos
quartéis generais são blogs como Conversa Afiada, Brasil247 e Viomundo, que
depois injetam seu conteúdo na mídia de grande porte) diz que o “acordão” entre
Renan Calheiros e o PT, com o envolvimento de organizações de mídia, ajudou a
livrar o presidente do Senado de denúncias. Se até a mídia governista está
falando desta forma, como podemos acreditar que não há algo de sujo em toda
essa história?
· O mais incrível ainda é isto aqui. O delator
Júlio Camargo mencionou a relação do operador do PMDB não apenas com Eduardo
Cunha, mas também com Renan Calheiros e Michel Temer. Como tentar
convencer o povo de que há isenção em sua atividade?
· Na delação premiada, Ricardo Pessoa relata que
doou dinheiro desviado da Petrobrás para a última campanha de Dilma. Ele cita o
tesoureiro de sua campanha, além de Gabriele e Mercadante. Ainda assim o senhor
não vê indícios para denunciar estes personagens?
· A blogosfera governista tem afirmado que a saída
de Eduardo Cunha, ou mesmo seu enfraquecimento enquanto presidente da Câmara,
reduz as chances quanto ao pedido, análise e julgamento do impeachment da presidente.
Se até os blogs do governo estão tratando tudo como um jogo político, que
argumentos seriam convincentes para que você não apenas argumente, mas
principalmente prove, que há qualquer tipo de isenção em sua atuação?
· Esta mesma mídia garante que o apoio de Renan
Calheiros para que você seja reeleito hoje estará livrando as costas dele. Como
a Presidente da Alemanha, o senhor também estaria disposto a sacrificar as
amizades que o levaram a tão alto posto, para defender a sua nação? Não seria
esse um dever de ofício?
· Eduardo Cunha e Narizinho (Gleisi Hoffman) foram
mencionados por delatores. Contra Gleisi, há até mais provas contra ela do que
contra Cunha. Se você usa o argumento “ah, foi a delação” para denunciar Cunha,
podemos dizer que Gleisi também foi delatada. Então você precisa explicar quais
os princípios jurídicos que diferenciam os dois casos. [É importante que a
justificativa da diferença de tratamento tenha que partir dele, enquanto ao
questionador cabe demonstrar os pontos em comum]
· Como já tratado aqui, Dilma foi citada 11 vezes
em delações. Sabemos que a corrupção petista é feita para nos transformar em
uma ditadura, assim como já ocorre na Venezuela, na Bolívia e no Equador. Você
está consciente de que qualquer atuação visando beneficiar Lula e Dilma é parte
de um processo de destruir nossa democracia e transformar o povo brasileiro em
um amontoado de escravos do PT? Com isso acontecendo, como você conseguiria
encarar seus familiares de frente?
· Você até agora engavetou 84 processos. Você não
acha que se mantiver este ritmo, sua recondução ao cargo irá lhe
transformar no Super Engavetador Geral da República?
Enfim, estas são algumas
perguntas.
As regras do jogo agora são as
seguintes. É preciso pressionar senadores que (a) não sejam bolivarianos, e (b)
não se chamem Renan Calheiros. A pressão deve ser no sentido de que eles se
organizem e garantam que estas perguntas sejam feitas. As regras aqui valem não
apenas para direitistas, como para todos os republicanos em geral (ou seja,
incluem-se direitistas, centristas e esquerdistas moderados).
No meio do caminho, você
ouvirá alguns direitistas depressivos dizendo “ah, mas não adianta”. Mande-os
pastar, usando termos os mais fortes possíveis. A turminha da depressão já
encheu demais nossa paciência e já perdeu qualquer legitimidade em todo o
debate público (sempre com aquela conversinha irritante: “ah, não vai
adiantar, já pressionamos na época do Fachin e não adiantou, tá tudo
dominado”).
Por exemplo,
vários desses que surgem com o discurso da depressão o fazem para defender
a intervenção militar, e portanto não estão participando do verdadeiro jogo
político. Eles são um grupo minoritário, mas sempre aparecem, vez por outra,
arrogantemente, para tentar desanimar os que estão lutando democraticamente.
Esse tipo de direitista depressivo colhe suas vitórias se você se desanimar.
Não os deixe ter este gostinho.
Outra legião de pensamento,
também danosa, surgiu no blog O Antagonista, cujo trabalho admiro e cito várias vezes,
mas na questão Janot está pisando na bola. Eles defendem que “Janot na hora
certa vai denunciar os políticos que tiver que denunciar”. Isso é fé cega,
inimiga mortal da pressão política. Adotar fé cega em Rodrigo Janot, na atual
conjuntura, beira a insanidade. Bizarro é pouco para descrever. Esta linha de
pensamento é tão devastadora, em termos políticos, quanto o é aquela adotada pelos
direitistas depressivos.
Tendo afastado estes
obstáculos, o negócio é pressionar no limite do possível todos os senadores
não-bolivarianos (menos o Renan Calheiros, é claro). Aqui publiquei 10 dicas de como pressionar congressistas a seu favor.
Atenção: o objetivo principal
não é impedir a recondução de Janot ao cargo, uma vez que isto está
praticamente fechado. Tudo por causa do “acordão”, conforme a BLOSTA já deu com
a língua nos dentes.
O objetivo é levar as questões
ao debate público, e inserir os argumentos (escondidos no meio das questões)
nos senadores não-bolivarianos, nos deputados (que estarão acompanhando
tudo), e aumentar a pressão sobre Rodrigo Janot, manchando-o politicamente e
aos que nele votarem.
Enfim, mãos à obra:
Título, Imagem e Texto:
Luciano Henrique, Ceticismo Político, 23-8-2015
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