segunda-feira, 24 de agosto de 2015

À espera do tiro perfeito

Jonathas Filho

Estrelado por Clint Eastwood, Lee Van Cleef e Eli Wallach nos papéis principais, o clássico filme “O BOM, O MAU E O FEIO” se tivesse sido filmado, roteirizado e dirigido pela política tupiniquim, deixaria de ser do gênero faroeste e, com toda certeza, seria mais um nonsense beirando o surreal, por causa dos desafios entre os pistoleiros, que aqui não são de aluguel porque recebem mensalmente polpudos salários, verdadeiras fortunas, se comparados com o que ganha o miserável povo da pacata Pindoramstone.


A produção da película seria astronômica, uma verdadeira fábula e se fosse filmada em Tech’n-Collor custaria mais uns 20 milhões...

Só o elenco principal parece que levaria 50%, os cenógrafos que se utilizariam do “faz de conta” em mais 30%, a direção, os defeitos especiais, os contra-regras (e às leis), as locação de currais, saloons, moças de book rosa e da árvore do enforcamento do bode expiatório outros 15%, sobrando então somente 5% que seria destinado às despesas de transporte do ferreiro para colocar as ferraduras nos figurantes cedidos pela Central Única dos Figurantes, além, é claro, do sanduba de mortadela e do refresco de limão a serem distribuídos à plebe ignara enquanto agitassem suas foices e martelos nas barricadas.

Para o papel do ex-sheriff seria contratado um “artista” biriteiro que tem a voz dublada por um pato rouco que mesmo sem ser interrogado pelo Marshall, diz a todo instante que não sabia de nada, nem do roteiro do filme e que foi enganado pela produção.

Eterna coadjuvante, a mocinha que outrora foi participante de estranhos passeios nas pradarias sob o causticante sol das incertezas, infelizmente numa dessas cavalgadas caiu do cavalo e bateu com a cabeça numa pedra, por isso hoje só fala de rodeios relembrando os velhos tempos de “minha sela, minha vida”. Ou seria cela?

Por falar nisso, tem um famoso bandoleiro fazendo “cena”, trancafiado numa dessas locações esperando fazer parte do cast num filme intitulado de “À Espera de Um Milagre”.

 Tem gente que disse já ter visto esse filme. Vale a pena ver de Novo?

Nos sketches aparecem bandidos desafiantes em takes de duelos ao pôr do sol, engendrados para que o BOM povo acredite que o administrador não é MAU e que só está atirando a esmo com seus Colts 45 para derrubar certos inimigos tocaiados nos tetos das casas no entorno do saloon. Todos sabem que a mocinha com seus seguidores, está criando cágados e defeitos especiais danosos, porém, a direção do filme afirma que ela age assim por causa da crise criada pelo FEIO cenário econômico-financeiro internacional.

Ora, quem entende de “cinema” logo percebe o “teatrinho”, pois percebe-se que estão fazendo fita!
Tudo fake!

Chamado para um duelo, num convite feito através de sinais de fumaça pelo índio Tonto, de repente aparece um cowboy renegado, cujos tablóides de fofocas impressas na antiga tipografia, afirmam ser um excelente atirador que busca incessantemente o papel de protagonista nesta história.

Mas, apesar do olhar ameaçador, até então não cometeu qualquer gesto brusco porque está do outro lado da única e empoeirada rua principal da aldeia, preparado para um combate de vida ou de morte que travará com a mocinha que se diz dona do pedaço.

Ambos não sabem a hora certa de sacar suas armas dos coldres e puxar o gatilho.

Na melhor das hipóteses apenas um vai viver ou será que os dois, como já aconteceu em outros filmes, matarão um ao outro, com tiros certeiros no peito?

Na plateia, escarrapachados nas velhas e esfarrapadas poltronas desse cine-pulgueiro, igualmente imóveis, os medrosos expectadores vendo o trailer, ainda não sabem como terminará esse duelo quando o filme for colocado em cartaz.

Caso a mocinha caia fulminada, o título do filme poderá ser trocado para: “O Homem que Matou a Facínora”, entretanto, se ocorrer o contrário, o título será “Wild Woman”.

Na terceira hipótese, já que o filme é uma obra aberta e o diretor pode escolher as cenas, o editor que se vire e refaça tudo. No caso de nenhum dos dois restar de pé, o título passará a ser “O Grande Assalto”, mas isso também dependerá de recursos desviados para atender à produção.

Ninguém sabe que o bandoleiro renegado já está ferido e sangrando com um balaço no peito e não foi por bala perdida.

Um outro xerife já o procurava, mas estava prestes a acabar seu prazo de validade que foi estendido pela hábil intervenção da mocinha que disse que uma mão “molha” a outra e é dando que se recebe. Nesse toma-lá-dá-cá, o xerife janota já reinvestido no cargo e com o brilhante distintivo à mostra, “pagou geral” e pegando a sua Winchester 44 atirou no ombro do renegado com um disparo feito a longa distância.

Alvejado, mas de pé... sangrando mas vivo, ele se sustenta com o cheiro da pólvora no ar e, por ter sido traído ou atraído “Por Um Punhado de Dólares” permanece impassível, aguardando a claquete bater.

A tensão aumenta naquela rua empoeirada daquela pradaria onde fica a aldeia. 

Diligências são recolhidas, cavalos são levados para as estrebarias, as portas do barbershop se fecham e os clientes com espuma no rosto vão para as janelas, da porta vai-e-vem do saloon as donzelas do book rosa soltam seus gritinhos e pedem para o ferreiro interromper o martelar que poderá ser confundido com disparos, mas por enquanto nada acontece.

A claquete ainda está aberta e os figurantes começam a se desfigurar, clamando para o Diretor dizer: AÇÃO!

Com tudo parado, sob o intenso calor de 47 graus, bolas de feno ao vento que assobia nos postes quebrados, mas mesmo assim tem gente tirando o lenço do pescoço, aproveitando para limpar os canos das suas pistolas, pois o diretor pode mudar a cena de um instante para outro, caso considere que é melhor mandar o índio Tonto chamar a 7ª Cavalaria e com isso impor um novo cenário, com outra iluminação e, quem sabe, com outros atores e atrizes.
Cenas de cactus espinhosos aparecem depois de um fade out.

Um grito se ouve... CORTA!

Sergio Leone foi o diretor do filme “O Bom, O Mau e O Feio” cujo gênero é tido como spaguetti western por ser italiano.
Se fosse filmado aqui, mesmo com outro título, mas mantendo a história da trama, tendo como fio condutor o egoísmo, a incompetência e a desfaçatez... não necessariamente nessa ordem, viraria comédia.

Sim, até porque nessa pacata louca-lidade tudo parece se contrapor à lógica e certamente a cena final encerraria esse faroeste caboclo, com uma enorme pizza fumegante mezzo margherita mezzo peperoni, com o elenco comendo e rindo. 
Título e Texto: Jonathas Filho, é cinéfilo. 23-8-2015

Um comentário:

  1. Vi o filme e amei. Todos os que o viram o colocam entre os seus favoritos. A chegada do feio ao cemitério com a banda sonora é para mim a melhor cena da história do cinema. Quando aconselho alguém a ver o filme peço que veja num grande televisor e jamais numa computador ou qualquer tela pequena. (nem que para isso tem de esperar a longo prazo). A cena e a banda sonora são boas demais para se assistir num ecrã qualquer.

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