Jonathas Filho
Estrelado por Clint Eastwood, Lee
Van Cleef e Eli Wallach nos papéis principais, o clássico filme “O BOM, O MAU E O FEIO” se tivesse sido filmado, roteirizado e dirigido pela política
tupiniquim, deixaria de ser do gênero faroeste
e, com toda certeza, seria mais um nonsense
beirando o surreal, por causa dos desafios entre os pistoleiros, que aqui não
são de aluguel porque recebem mensalmente polpudos salários, verdadeiras
fortunas, se comparados com o que ganha o miserável povo da pacata Pindoramstone.
A produção da película seria
astronômica, uma verdadeira fábula e se fosse filmada em Tech’n-Collor custaria
mais uns 20 milhões...
Só o elenco principal parece
que levaria 50%, os cenógrafos que se utilizariam do “faz de conta” em mais 30%, a direção, os defeitos especiais, os
contra-regras (e às leis), as locação de currais, saloons, moças de book
rosa e da árvore do enforcamento do bode expiatório outros 15%, sobrando então somente
5% que seria destinado às despesas de transporte do ferreiro para colocar as
ferraduras nos figurantes cedidos pela Central Única dos Figurantes, além, é
claro, do sanduba de mortadela e do refresco de limão a serem distribuídos à
plebe ignara enquanto agitassem suas foices e martelos nas barricadas.
Para o papel do ex-sheriff
seria contratado um “artista” biriteiro que tem a voz dublada por um pato
rouco que mesmo sem ser interrogado pelo Marshall,
diz a todo instante que não sabia de nada, nem do roteiro do filme e que foi
enganado pela produção.
Eterna coadjuvante, a mocinha que outrora foi participante de estranhos passeios
nas pradarias sob o causticante sol das incertezas, infelizmente numa dessas
cavalgadas caiu do cavalo e bateu com a cabeça numa pedra, por isso hoje só
fala de rodeios relembrando os velhos tempos de “minha sela, minha vida”. Ou seria cela?
Por falar nisso, tem um famoso
bandoleiro fazendo “cena”, trancafiado numa dessas locações esperando fazer
parte do cast num filme intitulado de
“À Espera de Um Milagre”.
Tem gente que disse já ter visto esse filme.
Vale a pena ver de Novo?
Nos sketches aparecem bandidos desafiantes em takes de duelos ao pôr do sol, engendrados para que o BOM povo
acredite que o administrador não é MAU e que só está atirando a esmo com seus
Colts 45 para derrubar certos inimigos tocaiados nos tetos das casas no entorno
do saloon. Todos sabem que a mocinha
com seus seguidores, está criando cágados e defeitos especiais danosos, porém, a
direção do filme afirma que ela age assim por causa da crise criada pelo FEIO
cenário econômico-financeiro internacional.
Ora, quem entende de “cinema”
logo percebe o “teatrinho”, pois percebe-se que estão fazendo fita!
Tudo fake!
Chamado para um duelo, num
convite feito através de sinais de fumaça pelo índio Tonto, de repente aparece
um cowboy renegado, cujos tablóides
de fofocas impressas na antiga tipografia, afirmam ser um excelente atirador
que busca incessantemente o papel de protagonista nesta história.
Mas, apesar do olhar
ameaçador, até então não cometeu qualquer gesto brusco porque está do outro
lado da única e empoeirada rua principal da aldeia, preparado para um combate
de vida ou de morte que travará com a mocinha que se diz dona do pedaço.
Ambos não sabem a hora certa
de sacar suas armas dos coldres e puxar o gatilho.
Na melhor das hipóteses apenas
um vai viver ou será que os dois, como já aconteceu em outros filmes, matarão
um ao outro, com tiros certeiros no peito?
Na plateia, escarrapachados
nas velhas e esfarrapadas poltronas desse cine-pulgueiro, igualmente imóveis,
os medrosos expectadores vendo o trailer,
ainda não sabem como terminará esse duelo quando o filme for colocado em
cartaz.
Caso a mocinha caia fulminada,
o título do filme poderá ser trocado para: “O
Homem que Matou a Facínora”, entretanto, se ocorrer o contrário, o título
será “Wild Woman”.
Na terceira hipótese, já que o
filme é uma obra aberta e o diretor pode escolher as cenas, o editor que se
vire e refaça tudo. No caso de nenhum dos dois restar de pé, o título passará a
ser “O Grande Assalto”, mas isso também dependerá de recursos desviados para
atender à produção.
Ninguém sabe que o bandoleiro
renegado já está ferido e sangrando com um balaço no peito e não foi por bala
perdida.
Um outro xerife já o
procurava, mas estava prestes a acabar seu prazo de validade que foi estendido
pela hábil intervenção da mocinha que disse que uma mão “molha” a outra e é
dando que se recebe. Nesse toma-lá-dá-cá, o xerife janota já reinvestido no cargo e com o brilhante distintivo à
mostra, “pagou geral” e pegando a sua Winchester 44 atirou no ombro do renegado
com um disparo feito a longa distância.
Alvejado, mas de pé...
sangrando mas vivo, ele se sustenta com o cheiro da pólvora no ar e, por ter
sido traído ou atraído “Por Um Punhado de
Dólares” permanece impassível, aguardando a claquete bater.
A tensão aumenta naquela rua
empoeirada daquela pradaria onde fica a aldeia.
Diligências são recolhidas,
cavalos são levados para as estrebarias, as portas do barbershop se fecham e os clientes com espuma no rosto vão para as
janelas, da porta vai-e-vem do saloon
as donzelas do book rosa soltam seus
gritinhos e pedem para o ferreiro interromper o martelar que poderá ser
confundido com disparos, mas por enquanto nada acontece.
A claquete ainda está aberta e
os figurantes começam a se desfigurar, clamando para o Diretor dizer: AÇÃO!
Com tudo parado, sob o intenso
calor de 47 graus, bolas de feno ao vento que assobia nos postes quebrados, mas
mesmo assim tem gente tirando o lenço do pescoço, aproveitando para limpar os
canos das suas pistolas, pois o diretor pode mudar a cena de um instante para
outro, caso considere que é melhor mandar o índio Tonto chamar a 7ª Cavalaria e
com isso impor um novo cenário, com outra iluminação e, quem sabe, com outros
atores e atrizes.
Cenas de cactus espinhosos
aparecem depois de um fade out.
Um grito se ouve... CORTA!
Sergio Leone foi o diretor do
filme “O Bom, O Mau e O Feio” cujo gênero é tido como spaguetti western por ser italiano.
Se fosse filmado aqui, mesmo
com outro título, mas mantendo a história da trama, tendo como fio condutor o
egoísmo, a incompetência e a desfaçatez... não necessariamente nessa ordem,
viraria comédia.
Sim, até porque nessa pacata
louca-lidade tudo parece se contrapor à lógica e certamente a cena final
encerraria esse faroeste caboclo, com uma enorme
pizza fumegante mezzo margherita mezzo peperoni, com o elenco comendo e
rindo.
Título e Texto: Jonathas Filho, é cinéfilo. 23-8-2015
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