Rafael Marques de Morais
Pinda
Simão é ministro da Educação desde 2010, altura em que o nefasto Burity da
Silva saiu do posto que ocupou durante uma eternidade, com a falta de
resultados que se conhece.
Não vale a pena falar das
escolas primárias ocupadas por pocilgas dos funcionários superiores da
Educação, nem dos estudantes angolanos no estrangeiro que passavam fome porque
o ministro, alegadamente, se apropriava do dinheiro das suas bolsas. Basta
lembrar as reacções de vários estudantes quando Domingos Bernardo Ebo, antigo
director do INAGBE (Instituto de Gestão de Bolsas de Estudo), foi condenado
pelo Tribunal de Contas a devolver aos cofres do Estado a quantia de US $3.5
milhões por danos causados no período de gerência 2000/02.
Estes foram os escândalos
típicos de Burity. Com Pinda esperava-se um novo alento.
Seis anos volvidos, talvez não
existam escândalos de grande corrupção, excepto aquele em que Pinda Simão
confrontou o ex-sócio Burity da Silva acerca da propriedade da Universidade
Independente, episódio que aparentemente terminou com uma divisão de despojos.
Pinda ficou com o Lubango, e Burity com Luanda.
Mas existe uma política
educativa desastrada e sem sucesso.
Não querendo repetir o que a
reitora da Universidade Agostinho Neto afirmou recentemente acerca dos estudantes
que chegam à Universidade, a realidade é que qualquer professor do ensino
superior verifica que a massa de estudantes que chega a este grau de ensino vem
com imensos problemas. Problemas na área da escrita, sendo raros os jovens que
conseguem escrever uma página de texto sem erros ortográficos; problemas na
área da argumentação, tornando-se muito difícil utilizar regras de lógica e
estabelecer contrapontos dialécticos; problemas de síntese, já que a maior
parte dos estudantes precisa de muitas palavras para expressar uma ideia ou um
conceito simples.
O problema não reside nos
estudantes, reside na formação que lhes é dada, que não fornece os instrumentos
necessários à uma aprendizagem de sucesso. É por isso um problema de política
educativa, em que a última responsabilidade recai sobre Pinda Simão, e
naturalmente sobre o presidente, que constitucionalmente quis açambarcar todos
os poderes.
Comecemos pelo Orçamento da
Educação. Segundo os dados mais actuais, apenas 3.5 por centodo PIB são gastos
em Educação. Para utilizar as não comparações do presidente no seu último e
afamado discurso, no Senegal gasta-se 5.6 por cento do PIB, em Cabo Verde cinco
por cento, e em Portugal 5.3 por cento. Já agora, no Botswana, tão perto de
Angola, despende-se na Educação nove por cento do PIB. Vê-se assim que os
números desmentem quaisquer palavras “bonitas” acerca da Educação. O esforço do
Orçamento é diminuto, muito longe do que seria razoável para um país tão
carenciado de recursos humanos.
Um outro número assusta. No
ensino primário, 68% das crianças desistem antes de chegarem ao fim do ciclo.
Isto quer dizer que apenas cerca de 30 por cento dos jovens passa para um nível
acima do básico. Este número é aterrador para uma população jovem como a
angolana. Queria-se uma população instruída e com competências adequadas ao
desenvolvimento, quer do país, quer da personalidade individual. Ora, deixar
mais de 2/3 dos jovens para trás equivale a condenar o país e as pessoas à
pobreza e ao subdesenvolvimento. Em vez de discursos ocos e estéreis sobre a
diversificação da economia ou a culpa dos americanos no que diz respeito aos
males do mundo, o discurso e a prática deviam centrar-se na formação de todas
as crianças, não deixando ninguém para trás. Neste momento do desenvolvimento
angolano, a educação das crianças e dos jovens é mais importante que qualquer
outra tarefa.
Muito mais poderia ser dito
sobre o estado calamitoso da Educação em Angola. Por exemplo, em Luanda, as
escolas continuam em mau estado, como no tempo da pocilga, e por isso o Governo
Provincial anunciou recentemente que vai cobrar 150 kwanzas como
comparticipação de cada aluno para a manutenção das casas de banho, dos
jardins, do material higiénico, etc. Até estaria bem, se não fosse a
necessidade ingente de criar condições para mais crianças estudarem e da
pobreza de muitas e muitas famílias com numerosos filhos, para quem 150 kwanzas
é já um esforço titânico e muitas vezes impossível. Além do mais, a medida vai
contra os princípios de gratuitidade estabelecidos na lei.
Por tudo isto se vê que o
mandato de Pinda Simão não teve ainda qualquer efeito positivo na Educação,
revelando-se, pelo contrário, um fracasso.
Título, Imagem e Texto: Rafael Marques de Morais, Maka Angola, 28-10-2016
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