Paula Rosiska
A articulista da Folha viu na prostituta
Marcela de Machado de Assis um exemplo melhor às novas gerações do que o dado
pela primeira-dama.
“No Brasil, fazer sucesso no
Brasil é ofensa pessoal” disse o Maestro Tom Jobim. Não poderia ser mais atual,
especialmente se entendermos a beleza como sucesso. E isso explica os
comentários cheios de ódio, deboche e desprezo cada vez que Marcela Temer
aparece em público.
Li o rançoso artigo da Folha, “A República das Marcelas, o reino das princesas e o sonho das meninas“, no qual a autora afirma: “A primeira-dama reza por breviário mais
simples e bem conhecido. Trafega em zona ultrassegura, nada precisa prover ou
provar. Tem as contas pagas, as falas prontas, a vida decidida. Nem o nome do
filho careceu escolher: no menino se reproduziu o senhor seu pai”. Como se esse
fosse um exemplo de vida triste, na gaiola. Como se a mulher que é obrigada a
pegar 4 ônibus por dia e trabalhar até doente para não deixar o filho, que ela
sustenta sozinha, morrer de fome fosse muito mais livre do que a primeira-dama.
Ao compará-la à Marcela de
Brás Cubas, a colunista faz o que outros tantos
petistas/feministas/progressistas têm feito: chama-a de prostituta. “Mais perigosa que sua xará
ficcional, a Marcela de verdade encarna um ideal: o da princesa”, segue . Devo
presumir que se ela encarnasse o ideal de viver num cafofo, trocando sexo pelo
sustento, seria melhor exemplo às meninas.
Em uma busca rápida no Twitter, encontram-se dezenas de mensagens parecidas. |
Claro que a Escola de Princesas, empreendimento
cuja franquia paulistana será aberta por Silvia Abravanel, não deixaria de ser
mencionada como a realização do devaneio de uma mulher rica. O slogan da escola
é “o sonho de toda menina é tornar-se uma princesa”. Angela Alonso rebate
dizendo que “o sonho de toda menina devia ser se tornar o que quiser”, não
percebendo que ela própria está determinando o que deveria ser o sonho de toda
menina e criticando as que queiram ser princesa ou primeira-dama.
As mulheres da minha geração
brincavam de Barbie e queriam ser uma. Não exatamente pelo padrão estético da
boneca, mas porque a casa e os acessórios dela eram rosa. Eu sou formada na
USP, trabalho em duas escolas, adoro dirigir, já fui guiando até a Argentina,
sei trocar pneu, viajo e saio sozinha, mas se houvesse carros cor-de-rosa à
venda, eu certamente compraria um. Ninguém se torna submissa, presa numa
gaiola de ouro cercada de frivolidades por também sonhar com um mundo de
corações, flores e vestidos de princesa na infância.
Ainda tentando entender como ser corajosa como a Mulan, empreendedora como a Tiane, inteligente como a Bela pode ser nocivo para as meninas. |
Em suma, o artigo da Folha reforça o conceito progressista de ódio ao casamento e desprezo pela “princesa”. Exceto se o casamento for entre homossexuais, pois esse é celebrado como a coisa mais bela da modernidade. É a oficialização do amor verdadeiro. As meninas também não devem ser incentivadas a gostar de rosa e se vestirem como personagens Disney. Isso deveria estar no passado. No entanto, fossem meninOs realizando o sonho de ser princesa, haveria aplausos e comoção.
Vamos falar sobre essa coisa moderna, libertadora e empoderadíssima que é vestir o filho de princesa? |
Título, Imagens e Texto: Paula Rosiska, Senso Incomum, 24-10-2016
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