Luciano Ayan
Faça o papel de besta e compre
um bilhete “premiado” da loteria. Você terá uma lição dolorosa ao tentar
receber o prêmio na Caixa Econômica e descobrir que não havia prêmio algum.
Você também pode fazer o papel de trouxa e dar o número e a senha de seu cartão
de crédito para um desconhecido alegando que iria te colocar em um programa de
pontos. Terá outra lição dolorosa ao descobrir que o limite de seu cartão foi
estourado contra sua vontade e que você não receberá nenhum dos produtos.
Esse tipo de aula dura
fornecida pela vida sempre vale como aprendizado. Por sorte, nunca comprei um
falso bilhete premiado de loteria. Também nunca entreguei o número e a senha de
meu cartão para um desconhecido. Mas na vida sempre alguém tenta nos engabelar,
resultando em aprendizado em seguida.
Aquela parte da direita que
mantém a fé cega na crença provavelmente continuará tratando o que aconteceu na
Venezuela como um “equívoco econômico”. Na verdade, foi a consecução de um
plano à risca para tomar o poder totalitário e dar vida boa a Nicolas Maduro e
todos seus aliados. Mas e se o povo venezuelano sofre? Isso não importa, para
Maduro. O que importa é o poder. Assim como o que importa para os fraudadores
de bilhetes premiados e cartões de crédito é o teu dinheiro, e não tua
satisfação.
Os socialistas de Maduro, os
vendedores de falsos bilhetes premiados e usuários indevidos de cartões de
créditos não são “coitados enganados, que precisam aprender sobre como ajudar
os outros”. Ao contrário: eles demonstram o sucesso de ações de fraude,
perpetradas por espertos que se valem de trouxas.
Na quinta-feira (20), cinco
juízes aparelhados bloquearam o referendo na
Venezuela. Tudo conforme o plano. Em seguida, foi aplicado um golpe no
Congresso. Novamente, tudo conforme o plano.
É triste reconhecer, mas
precisamos ser adultos. O fraudador que limpou as contas não é o exemplo de um
“fracasso” na gestão de tuas finanças, mas um exemplo de sucesso da iniciativa
de um esperto mal intencionado fazer um bobalhão de trouxa. A situação da
Venezuela também não é um exemplo do “fracasso do socialismo”, mas uma prova
cabal de como ele é a melhor tecnologia do mundo para que tiranos sádicos
consigam construir um totalitarismo.
A Venezuela é um caso perdido.
Mas pessoas de nações civilizadas ainda podem aprender com isso. Antes de tudo,
porém, será preciso que a direita corrija a doença mental de achar que o
socialismo é “fruto de engano na condução da economia”. Cérebros assim adotam o
“conselho de pai” e não a visualização dos socialistas como eles são.
Se você escolhe ver os
fraudadores de cartão de crédito como “pessoas que querem gerenciar tua conta
adequadamente”, como sua mente poderá se proteger deles? Se você escolhe ver os
socialistas como “pessoas com boas intenções na economia, mas que normalmente
erram” como sua mente conseguirá nos proteger de barbáries como as que ocorrem
na Venezuela?
Que a situação da Venezuela
sirva para que consigamos aprender, de uma vez por todas, o que de fato querem
os socialistas. Passar a rotulá-los de “enganados quanto à economia” já deveria
ser considerado até imoral.
Título, Imagem e Texto: Luciano Ayan, Ceticismo Político, 24-10-2016
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