"É com imenso pesar que nos despedimos da nossa amiga querida. A
Bebel da Suipa faleceu no último dia 06/08. Foi o seu coração que lhe pregou
uma peça. Morreu rodeada de animais, que permaneceram ao seu lado, leais e
sinceros.
A despedida é sempre dolorosa, mas quando lembramos da Bebel viva, ativa,
firme em suas convicções e verdades, tudo se transforma em orgulho. Até porque
é muito confortador ter a certeza de que uma pessoa tão querida realizou tudo
aquilo que se prontificou a fazer.
Ela sempre foi admirável e um exemplo de força e coragem, que merece ser
copiado e, esperamos, do fundo do nosso coração, que onde estiver possa colher
todas as maravilhas que plantou.
Não faltaram os grandes obstáculos, que com a sua obstinação e
determinação eram enfrentados de frente e ultrapassados. Ela transpôs abismos e
as subidas e descidas fizeram parte de sua vida "suipana". A nossa
saudade será eterna, pois Bebel é insubstituível. Ela deu a sua vida pela
Suipa, era a essência e a alma da Suipa e os animais vão sentir muita falta do
seu aconchego, da sua pronta defesa e do seu amor incondicional.
Embora seja uma certeza que nasce com todos nós, a de que um dia
partiremos dessa vida, o choque foi tremendo, pois não estávamos preparados
para a despedida, sem aviso, sem tempo de preparar o nosso coração. É terrível
dizer adeus quando tomamos consciência de que jamais voltaremos a encontrar
essa pessoa, pelo menos não neste plano de existência.
Nossa querida amiga partiu para sempre e, junto com a eterna saudade que
deixou no coração daqueles que a amavam e admiravam, ficou a sensação de
impotência.
Não posso deixar de recordar a primeira vez em que vi a Bebel, pelo menos
a que me lembro como se fosse ontem, Tínhamos ido a uma audiência trabalhista,
e seguíamos sérias e caladas à sala de audiências. De repente, uma pessoa
começa a ter convulsões à nossa frente e a Bebel, que estava linda, toda
arrumada, saia lápis (ainda não havia se aposentado) se ajoelha na frente do
homem, coloca a cabeça dele sobre as suas pernas e imediatamente solicita que
eu lhe entregue o lenço que estava em meu pescoço a fim de evitar que ele
travasse a boca. Ela, simplesmente ajudou a quem precisava de ajuda, enquanto
todas as outras pessoas olhavam estupefatas, inclusive eu que não era médica, mas,
como sempre afirmou, era aeronauta da Varig e conhecia bem todos os
procedimentos aplicáveis no caso. O homem se acalmou, pararam as convulsões e
ela só disse: "Fique calmo, está tudo bem, vou lhe ajudar a sentar em uma
cadeira". Simples assim. Ser extraordinário.
De uma outra feita, estávamos indo à Itaboraí assinar a escritura de
compra de uma grande área para onde iria transferir os cavalos e animais
maiores. Paramos em um posto de gasolina, e lá estava deitado um cachorro
imenso, parecendo doente. Ela manda: "Vamos lá, precisamos colocá-lo no
meu carro para levarmos para a Suipa. E eu: "Como assim? Ele é enorme, vai
nos morder". E ela: "Vai nada. Está com leishmaniose, está sem
forças, está morrendo e eu não vou deixar"! E lá fui eu... Quando
começamos a transportá-lo um frentista veio dizer que ele não poderia ser
retirado, que era do posto. Ao que ela informou: "Vou providenciar
tratamento veterinário. Do jeito que ele se encontra vai morrer. Prometo que
trago de volta, desde que vocês cuidem dele melhor". Assim ficou combinado
e ele nos ajudou a transportar o imenso "sobrinho", que se manteve
dócil o tempo inteiro.
Em uma outra vez, me chamaram correndo pois estavam querendo prendê-la em
Niterói pois estava contabilizando os animais de um presídio para fins de
esterilização e não estavam querendo deixar. Ah! Não posso esquecer, em uma
audiência em Niterói, onde uma vizinha requereu a retirada de animais da casa
onde Bebel residia e em que um juiz, ainda novo, após ouvir a Bebel falar que o
seu cuidado era com o planeta, enquanto a vizinha estava preocupada com a sua
vidinha, ele acabou por dizer que mandaria tirar todos os animais, se assim
entendesse e que ela teria que respeitar tal decisão. E ela respondeu: "V.
Exa. é muito novo para falar desse jeito. Muito reacionário, Vai fazer, vai
acontecer, prender. Não está no lugar certo, não". E eu beliscando e
chutando a Bebel por debaixo da mesa e pensando, vai ser presa. Ele não mandou
prender não, mas determinou a retirada de todos os animais de sua casa e ela
foi com eles, foi morar bem longe, onde depois morreu cercada de seus
"sobrinhos" que viviam felizes contentes sob a sua proteção. Igual a
nossa presidente não havia. Feroz quando precisava, ela não falava, rosnava:
protetora, ativista fenomenal. Não vamos deixar a sua obra acabar. Não podemos.
Conclamamos a todos que vivenciaram com a nossa querida Bebel histórias reais,
sérias, sinceras e até hilariantes que relatem no site da Suipa (http://www.suipa.org.br) onde existe uma
seção só para isto, a sua experiência, para que possamos compartilhar com todos
os outros suipanos.
Por favor, contatem a Suipa e encaminhem os seus relatos. Não vamos
deixar a sua memória morrer. E, em cada nova circular da Suipa, estaremos
compartilhando a sua experiência vivenciada com a nossa eterna presidente.
Embora nada vá ser como antes, pois estamos todos os suipanos e
"sobrinhos" tristes com a nossa perda, não devemos deixar o desalento
nos contaminar.
Ficou muito por dizer e fazer, mas de algo temos a mais absoluta certeza:
é que jamais vamos esquecê-la, passe o tempo que passar, doa a quem doer, vamos
lembrar sempre dela e manter viva a sua memória. Que Deus dê paz e descanso à
sua alma, mas que, de onde estiver, temos certeza de que estará zelando pelos
animais da Suipa, por quem se doou em vida. E, em tempos que tanto se fala em
de legado, não deixemos que o legado de Bebel pereça. Ainda há muito por fazer!
O seu grande legado foi os animais e o trabalho da Suipa voltado à defesa
e proteção desses que, embora conscientes, não têm voz. Então, só nos resta a
responsabilidade de manter viva a voz da Bebel, a voz da Suipa. Vamos preservar
não só o que foi o legado da Bebel mas a sua vida. Não vamos deixar a Suipa
perecer pois, então, a vida da Bebel teria sido em vão. E, isto não podemos
permitir. Contemos com a força da Bebel, através das suas incontáveis atitudes
proativas, em benefício de nossa luta diária para não deixar a Suipa perecer.
Os queridos "sobrinhos" agradecem, abanando os seus rabinhos em
reverência a ela.
Colaboração: Aberto José, 16-10-2016
Relacionados:
Sensacional o seu depoimento sobre a Isabel. Tive também a oportunidade de conhecê-la e conviver com ela durante 12 anos de trabalho. Uma fera e ao mesmo tempo de uma gentileza e carinho imenso. Muita falta dela. a SUIPA precisa de vida e metade de seu batimento cardiaco foi-se com a Bebel. Mas a SUIPA vai vingar, vai deixá-la orgulhosa. Obrigado por deixar essa página no ar.
ResponderExcluir