Rosário Boavida
Não me parece crime usar a palavra
“toxicodependente” para fazer ver aos pais que se deve acolher uma pessoa seja
qual for a sua realidade: toxicodependente, homossexual, heterossexual,
empresário...
Exmºs Srs,
Escrevo a propósito do
comunicado da OPP “A propósito das declarações da Dr.ª Maria José Vilaça à
revista ‘Família Cristã'”, do passado 13 de novembro.
Após reflexão sobre a
entrevista original, o esclarecimento da Drª Maria José e o vosso comunicado,
estas são as considerações que desejo partilhar.
Existem na nossa sociedade
pais que, infelizmente, têm dificuldade em aceitar um filho homossexual.
Parece-me óbvio que esta não aceitação não contribui para o bem-estar destes
filhos – não é fácil não ser aceite pelos próprios pais, que são aqueles de
quem esperamos uma aceitação incondicional. Até aqui, parece-me consensual.
Não conheço de perto
associações como a ILGA ou outras mais ou menos formais que se empenham em
fazer valer direitos LGBT, mas acho louvável que se preocupem com o bem-estar e
aceitação destas pessoas. Isto porque acho que todos nos devemos preocupar com
o bem-estar e aceitação de todos os seres humanos.
O que leio como mensagem
profunda e essencial nas declarações da Drª Maria José, seja na entrevista
original, seja no esclarecimento prestado à posteriori, é que os
pais devem acolher e amar os seus filhos homossexuais. Penso, assim, que teria
sido muito mais feliz por parte dos diferentes grupos ativistas LGBT chamarem a
atenção para isso mesmo: que a Dra. Maria José Vilaça exorta os pais de filhos
homossexuais a acolhê-los e amá-los. É este o passo que deve ser dado, se de
facto nos preocupamos com o sofrimento de pessoas LGBT que não se sentem
acolhidas ou amadas pelos próprios pais. Para mais, não me parece descabido
esperar que os pais com mais dificuldade nesta aceitação sejam pais muitas
vezes considerados “mais conservadores”, que provavelmente podem ler a revista Família
Cristã. Também não me parece descabido que esses pais possam considerar
mudar de atitude em relação aos seus filhos, tendo em conta o que disse uma
psicóloga de uma fonte que poderão considerar mais credível, porque mais
semelhante ao nível dos valores morais.
O que quero dizer é
simplesmente isto: se eu fosse uma mãe educada num contexto mais conservador e
fosse cristã, e descobrisse que o meu filho era homossexual, poderia ter
dúvidas sobre o que poderia fazer que fosse o melhor para ele. Ao ouvir as
declarações da Drª Maria José, podia sentir-me confirmada na minha intuição de
que o devo amar tal como ele é. E isto podia ter um impacto positivo na vida do
meu filho. Este impacto positivo na vida deste homossexual é do interesse de
todos: do filho, dos pais, dos grupos defensores das pessoas LGBT, dos
psicólogos e da sociedade em geral. E, portanto, do interesse da Ordem dos
Psicólogos Portugueses.
Por esta razão esperava que a
OPP encorajasse a Drª Maria José Vilaça. Em vez disso, verifiquei um comunicado
apressado emitido a um domingo, dando a sensação de ter sido escrito com medo
da pressão de grupos que exigiam medidas imediatas.
Lamento. Porque isso faz-nos
polarizar grupos e posições, quando toda esta história podia e devia ter sido
aproveitada para construir pontes e construir paz.
Não me parece crime usar a
palavra “toxicodependente” para fazer ver aos pais que se deve acolher uma
pessoa seja qual for a sua realidade: toxicodependente, homossexual,
heterossexual, dono de uma empresa,… este caminho é indiferente, era um meio
para atingir um fim, uma mensagem.
Considero que a OPP deveria
sim valorizar as diferenças de opinião entre os seus profissionais e promover o
direito à liberdade de expressão. Considero, particularmente, que a OPP devia
valorizar os ótimos profissionais que tem: conheço pessoas acompanhadas pela
Drª Maria José e vejo o quanto isso as ajuda. Não tenho a menor dúvida que é
uma excelente profissional.
Assino esta carta confiando
que será lida e tida em conta de coração aberto, com boa vontade e honestidade
intelectual.
Melhores cumprimentos,
Rosário Boavida, Formada em Psicologia Social e das Organizações,
Observador,
4-12-2016
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