André Azevedo Alves
O legado negativo de Fidel transcende em
muito o sofrimento imposto ao martirizado povo cubano. Ao longo de décadas ele
e o seu regime semearam o terror e a destruição em vários pontos do mundo.
A semana ficou marcada pela
morte do brutal ditador cubano Fidel Castro – responsável directo pelo
assassinato de muitos milhares de pessoas e pela pobreza, repressão e desespero
de milhões – e por muitas reacções que comprovaram – uma vez mais – a profunda
duplicidade moral de uma parte importante da esquerda. Entre nós, para além do
expectável – mas nem por isso menos lamentável – desfile de elogios mediáticos,
fica para o julgamento da história a marca dos vergonhosos votos de pesar pelo
brutal ditador aprovados com os votos de comunistas e socialistas inseridos em
vários partidos políticos representados na Assembleia da República.
Entre nós, o melhor resumo breve da vida e obra de Fidel Castro foi provavelmente o
conseguido por João Carlos Espada que, de forma tão sintética como certeira,
lembrou que “o torpe ditador terceiro-mundista construiu em Cuba uma horrível
prisão comunista”. De forma um pouco mais desenvolvida, Sebastião Bugalho
descreveu de forma objectiva e assertiva o essencial da figura de Fidel
enquanto protagonista político: “Fidel Castro não era um “comandante”, um
“líder”, um “ícone” ou um “histórico”. Era um ditador. Um tirano que prendia
quem discordava dele e que se manteve no poder durante cinco décadas sem
eleições.”
Para o povo cubano, o legado
de Fidel é inequivocamente de repressão, isolamento, pobreza e
sub-desenvolvimento, numa ilha-prisão construída à medida dos grotescos e
desumanos planos do castro-comunismo. O gráfico seguinte (via Mário Amorim Lopes com dados do Maddison project
database) ilustra bem as consequências económicas do castro-comunismo:
Como o mesmo Mário Amorim
Lopes resumiu: “Até aos anos 50, Cuba era um país rico, pelo menos em
comparação com os restantes países da América Latina. Mesmo quando ajustado à
bitola dos países ocidentais, Cuba, não sendo um portento económico, comparava
bem com Portugal ou com Espanha, tinha a mesma riqueza per capita do que Itália
e era mais rica do que o Japão.”
O assassinato deliberado de
seres humanos inocentes seria sempre condenável, mas as numerosas tentativas de
redenção de Fidel são ainda mais chocantes considerando a natureza assumida
pelo seu regime ao longo de décadas e o facto de o seu abismal registo de
brutal desrespeito pelos mais elementares direitos dos cubanos ter perdurado
bem para além dos momentos de implantação do regime. A duplicidade moral da
esquerda já foi aqui bem dissecada por Maria João Marques e José Manuel Fernandes, mas parece-me importante reforçar dois elementos.
O primeiro é que Fidel, ao
contrário por exemplo do igualmente celebrado Che Guevara, não era um mero
psicopata a quem o fanatismo ideológico comunista e as circunstâncias
possibilitaram colocar em prática os seus brutais e desumanos delírios
sanguinários contra inúmeras vítimas inocentes. Fidel era bem mais metódico e
oportunista, de tal forma que só caiu nos braços da URSS depois de fracassar na
busca do apoio dos EUA. Foram aliás essas características que lhe terão
permitido perdurar no poder ao longo de décadas.
O segundo é que o legado
negativo de Fidel transcende em muito o sofrimento imposto ao martirizado povo
cubano. Ao longo de décadas – e em especial no auge da Guerra Fria – Fidel e o
seu regime semearam o terror e a destruição em vários pontos do mundo, desde
Angola ao Chile. Este é um aspecto relevante e que importa não esquecer na
avaliação histórica do castro-comunismo e das suas consequências globais.
Por tudo isto, é fundamental
denunciar a duplicidade moral da esquerda e – como bem apelou Zita
Seabra – impedir as tentativas de apagar a memória dos inúmeros crimes do
regime comunista cubano e de Fidel em particular. Segundo os relatos recebidos,
o brutal ditador cubano terá morrido na cama, pacificamente.
Importa recordar que, infelizmente,
as suas milhares de vítimas não tiveram a mesma sorte.
Título, Imagem e Texto: André Azevedo Alves, Professor do
Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, Observador,
3-12-2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-