António Barreto
Dentro de dias, começa um
curioso ano de comemoração: os cem anos da Revolução Russa. Será um desfilar de
colóquios, filmes, livros e programas de televisão. Teremos de tudo e não
faltará o elogio beato.
De fevereiro (que, na Rússia
de 1917, era em março) a Outubro (já em novembro), será quase um ano em que
teremos a oportunidade de recordar e estudar aquele que foi o "maior
embuste da história do século XX", na expressão de Mário Soares. Após
aquele ano de "revolução", houve outros cinco, ditos de "guerra
civil", revolução para todos os efeitos. Depois, mais vinte de depuração,
deportação, limpeza étnica, coletivização e trabalhos forçados aos milhões. Sem
esquecer milhares de julgamentos e execuções de políticos, generais, médicos,
sindicalistas e escritores! Lenine morre em 1924 e Estaline em 1953. Até à
derrota final, em 1989, entre lutas intestinas e saneamentos, sucedem-lhes
vários como Kruchtchev, Brejnev, Andropov, Chernenko e Gorbachev.
O centenário vai servir para
muitas tentativas de branqueamento. Com certeza. Mas também para novos
balanços, seja porque a distância ajuda, seja porque os estados-maiores
comunistas já não têm muito poder nem controlam o pensamento, seja porque,
finalmente, de Moscovo a Praga, os arquivos se vão abrindo e revelando todos os
dias factos novos, por vezes surpreendentes.
Que nos deixou o comunismo
como legado de liberdade? Praticamente nada! Como luta de resistência dos
comunistas, para bem dos seus direitos, muito! É mesmo do domínio do heroísmo.
Mas, para bem da liberdade dos outros, de todos, praticamente nada. Pelo
contrário: deixa um dos piores legados modernos de supressão das liberdades, de
repressão exercida sobre os cidadãos, de negação radical do Estado democrático,
de violação permanente dos direitos humanos e dos mais desumanos métodos de
manutenção da ordem, com tortura, assassinato, deportação, rapto e prisão em
números que se elevam a muitos milhões. Em todos os países em que um partido
comunista dominou o poder, o resultado foi sempre o mesmo: nem liberdade nem
Estado de direito.
Que nos deixou o comunismo
como legado de independência e autonomia dos povos, outra das suas bandeiras?
Por um lado, apoio aos movimentos subversivos e revolucionários do mundo
inteiro, desde que em luta contra as metrópoles coloniais, contra as
democracias e contra os países do mundo ocidental. Por outro lado, a mais feroz
submissão dos Estados, países, nacionalidades, minorias e regiões vizinhas, com
o resultado visível da constituição de um dos maiores impérios da história,
feito e regulado à força, por intermédio dos métodos mais bárbaros, incluindo
deportações massivas, fomes programadas, genocídio e pura opressão. A implosão
da União, após a queda do comunismo, é o mais rigoroso certificado de
existência do imperialismo soviético. E da sua bondade.
Que nos deixou o comunismo
como legado social e económico, tecnológico e científico? Uma enorme ficção
daquele que poderia ser, com os seus colossais recursos, um dos mais ricos países
na Terra e que acabou por só ser poderoso militarmente, mas incapaz de
progredir economicamente e de permitir a prosperidade dos seus cidadãos,
impotente para o desenvolvimento tecnológico e científico, áreas em que esteve
sempre atrás dos países ocidentais e com atrasos crescentes até ao
desmoronamento final.
É um dos mais seguros sinais
do atraso de Portugal: a persistência do Partido Comunista, das suas ideias e
do seu programa. Os principais partidos comunistas do mundo democrático
desapareceram por entre fumarolas! Parece que apenas dois Estados têm qualquer
coisa de parecido com o comunismo soviético: Cuba e Coreia do Norte! Que bela
companhia para os comunistas portugueses!
Título e Texto: António Barreto, Diário de Notícias, 5-2-2017
Relacionados:
Foi o maior genocídio mundial até hoje. Nada se compara ao que os bandidos " Camaradas " fizeram há humanidade. Mas o mundo está cheio de idiotas de plantão e de olho gordo nas propriedades alheias, até hoje e sempre estará. Tenho um tio no Porto, que acordou com um burburinho à sua porta e foi ver pela janela do seu quarto do que se tratava. A sua casa é uma três andares em estilo Inglês, fruto da construção do porto de Leixões pelos ingleses. Ao chegar à janela, a camarilha comunista disse que a casa era muito grande e que tinha que dividi-la com eles. Foi ao armário pegou o seu rifle, voltou à janela, apontou a arma para baixo e disse. "Todos vocês estão convidados a entrar ", apenas desculpem a recepção.
ResponderExcluirEstá esperando por eles até hoje.
É assim que se tratam comunistas
José Manuel
É do Norte, carago!
ExcluirTenho a impressão, para não dizer convicção, que se não fossem as gentes do Norte, Portugal seria hoje uma Cuba encravada na Europa...