A Real Fábrica do Gelo, também
referida como Fábrica da Neve da Serra de Montejunto, localiza-se na
serra do Montejunto, na freguesia e concelho do Cadaval, no distrito de Lisboa,
em Portugal.
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Foto: Ricardo Martins |
História
O hábito de saborear gelados e matar a sede com bebidas frescas nos meses
quentes de Verão terá sido introduzido em Portugal em finais do século XVI, à
época da Dinastia Filipina. Quando da visita de Filipe III de Espanha a
Portugal, em 1619, todos os meios foram mobilizados para que não faltasse a
neve na mesa Real. Sem que existissem técnicas adequadas de refrigeração, à
época o gelo vinha da serra da Estrela.
A edificação desta fábrica de gelo que abastecia a cidade de Lisboa é
atribuída aos frades dominicanos, em época anterior a 1741. Terá custado 40 ou
45 mil cruzados, despesa elevada, à época. O consumo crescente do gelo no
século XVIII, não apenas na Corte e no seio da nobreza, mas também nas camadas
burguesas e populares, terá motivado a construção da Real Fábrica do Gelo em
Montejunto, que seria a única serra, de entre um conjunto de elevações próximas
de Lisboa, que oferecia as condições climatéricas necessárias à congelação da
água durante a estação invernosa. Adicionalmente, a sua localização apresentava
grandes vantagens sobre o principal centro abastecedor de neve, a serra do
Coentral, situada na extremidade sul da serra da Estrela, e a Lousã.
Um dos seus principais proprietários, o Neveiro Real Julião Pereira de
Castro, mandou fazer obras de ampliação no conjunto em 1782. O espanhol Julião
Pereira de Castro, que explorava os poços de neve do Coentral, ficou também com
a fábrica de Montejunto, garantindo desta forma o monopólio da exploração do
gelo em Portugal. Além disso, o neveiro da casa real e a sua família eram
proprietários de grande parte dos cafés da baixa de Lisboa. A sua filha e neto
sucederam-lhe no negócio de fazer gelo natural.
O processo de fabrico do gelo tinha início anualmente no final de
outubro, momento em que se enchiam de água os cerca de 44 tanques da
instalação. Assim que o gelo se formava, o guarda da fábrica ia a cavalo até à
aldeia vizinha de Pragança e, com uma corneta, acordava as pessoas para que,
antes do nascer do sol, num trabalho árduo e duro, partirem as placas de gelo,
amontoando os fragmentos e depois os carregarem para os silos de armazenamento,
onde era conservado até à chegada do Verão. Após retirados dos poços de
conservação, os blocos de gelo eram envolvidos em palha e serapilheira e
transportados até à base da serra, no lombo de burros e dali, em carros de
bois, até à Vala do Carregado, às margens do rio Tejo. A última etapa era o
transporte até Lisboa nos chamados "barcos da neve". Chegados
a Lisboa, abasteciam desde a Corte até os cafés.
A atividade terá terminado nos finais do século XIX, de acordo com o
testemunho dos mais idosos da aldeia de Pragança, a qual seria, possivelmente,
a principal fornecedora de mão-de-obra para a fábrica. De facto, encerrou-se em
1885, superada que foi pela introdução das primeiras formas de gelo
industrializado no país.
Classificada como Monumento Nacional desde 1997, foi objeto de
intervenção de conservação e revalorização por iniciativa da Câmara Municipal
do Cadaval, com a colaboração do Instituto de Gestão do Património
Arquitetônico e Arqueológico (IGESPAR), e reinaugurada em 27 de março de
2011.
Muito interessante. A visitar, com certeza! 👏👏
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ResponderExcluirA fantástica Real Fábrica do Gelo. Sabe como se produzia gelo em Portugal antes do frigorífico ser inventado?