Carina Bratt
NO TOTALMENTE sem luz, ou no pouco claro do silêncio profundo da noite, onde o mistério e o medo da ausência da claridade se entrelaçam, há uma figura grotesca e sombria, fantasmagórica e dilacerante, que se esconde nas sombras das almas atormentadas: não outra, queridas amigas, senão a ‘satânica e pegajosa crucificação.’ Essa coisa maléfica e meio que ‘endiabrada’ não é uma infâmia poderosa que possa ser considerada incomum, nem tampouco uma entidade vazia que se manifesta ao acaso em pesadelos explícitos. Sua presença em nosso cotidiano (apesar dos pesares) é mais sutil; ou seja, está mais para uma maceração psicológica branda que adentra à revelia de nossas mentes. Grosso modo, é um peso doloroso e quase imperceptível. Se formos espertas, superaremos sempre mandando tudo para os quintos com o capeta junto, de contrapeso.
Este
‘tenebroso’ ao qual me refiro (apesar de não ter muita força) não carrega
chifres ou cauda; ao invés disso, se veste (não de Prada, como no romance da
Lauren Weisberger), todavia se apresenta com a aura da angústia mais profunda e
da dúvida irritantemente desleal. Sua essência se revela em momentos de crise
medonha e desespero consternado, quando o ser humano se vê à beira de um
abismo, tipo um sofrimento profundo. Ele, o abismo, é o reflexo sombrio dos
próprios pensamentos sujos que carregamos, um símbolo do sacrifício não
compreendido e da fúria despropositada que se torna, às vezes, um fardo
insuportável.
Na simbologia da crucificação, o ‘chifrudo’ encontra seu habitat. A crucificação não é apenas um evento histórico ou uma alegoria religiosa; é um espelho cristalino para darmos de frente com os desafios pessoais e universais. É a porta para a jornada do sofrimento que cada ser humano enfrenta em sua busca pelo significado do que aprendemos a respeitar como redenção. O ‘coisa ruim’ da crucificação é ainda o sussurro da amargura ou a voz aguda e tonitruante do tormento que, em muitos casos, parece infinitamente egoísta e impuro. Em outras palavras, injusto, garabulhento e chamboqueiro.
Ele se manifesta em momentos de dúvida, de incerteza, de insegurança, notadamente da melancolia existencial; ou seja, quando o sentido da vida nos parece desfocado e obscurecido pela agudeza do martírio. Este anjo caído (vamos chamá-lo assim) é a voz sussurrante que diz que o sacrifício é em vão, que a flagelação nunca cessa e que a libertação é uma ilusão distante. Ele, o anjo depauperado, se alimenta da desesperança e da sensação de impotência e se torna uma dolência exacerbada, quase um pé no meio do saco na mente daqueles que estão profundamente feridos.
Contudo,
assim como o ser pregado num madeiro é um ato de transcendência e esperança na
narrativa bíblica, o satanás das profundas do martírio não é invencível. Jamais
será. Fogo no rabo dele. Sua influência é uma prova de resistência e de força
interior. É através da compreensão e do enfrentamento deste flagelo suplicioso
que a verdadeira superação positiva será construída. Ao confrontar a fraqueza
da alma e a dúvida de como ser feliz, ao buscar a luz mesmo nas piores fases
das trevas (me refiro àquelas mais densas e ferozes), o ser humano pode
encontrar uma forma de remissão, ou de livramento pessoal.
O anjo caído
da exulceração nos lembra da fragilidade da condição humana, mas também nos faz
ver a olhos claros e bem abertos a capacidade de superar o sofrimento. Ele não
é um inimigo a ser derrotado como nos romances vampirescos de Stephenie Meyer,
por exemplo; contudo, é uma parte do caminho que nos leva a uma compreensão
mais profunda de nós mesmos e do nosso lugar no mundo. Euzinha diria que é como
um lembrete sombrio, ou essencial, de que, mesmo nas horas mais escuras e
cruciais, há uma luz forte e pulsante no final do túnel escuro que pode ser
encontrada, e obviamente será, se estivermos dispostas a enfrentá-la de peito
aberto.
E assim, no
derradeiro, o que chamamos de ‘expiação da crucificação’ acreditem, minhas
amigas da ‘Grande Família Cão que Fuma,’ não é apenas um símbolo da
‘desventurança,’ ou de mazela, ou ainda de um padecimento eterno; também e
sobretudo, se transformará num catalisador (como uma ponte cruzando um rio
caudaloso) para a transformação e para a força que se esconde dentro de cada
uma de nós se agigantar e criar vida nova e forma benfazeja. Ele, o demônio
(como o da senhorita Prym, de Paulo Coelho) é o desafio que nos força a
procurar a esperança e a renovação, e através dessa busca diária, encontramos a
verdadeira essência da nossa humanidade.
Título
e Texto: Carina Bratt, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, 4-8-2024
Anteriores:
Em poucas palavras
O trote
A nossa meta deve ser uma só
Alguns poetas ficaram esquecidos
Senhor Jim, bom dia.
ResponderExcluirHoje queria lhe dizer algo especial, pois hoje é um dia também especial. Mas não consegui encontrar palavras que fossem especiais para lhe dizer. Então resolvi pedir a Deus que hoje lhe dê uma bênção especial.
Que os desejos do seu coração se tornem realidade, que a felicidade seja constante em sua vida, que o senhor continue a lutar pelos seus objetivos e não desista nunca.
Que o dia de hoje seja também o início de mais um ano de vitórias em sua vida, que a prosperidade venha ao seu encontro, e que o senhor nunca se esqueça da pessoa especial que é.
Feliz aniversário, meu amigo!
Carina Bratt
Ca
Da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro.
Muito obrigado, Carina! 💛
Excluir