Rodrigo Constantino
No primeiro debate para prefeito de SP após a cadeirada de Datena em Pablo Marçal, o atual prefeito Ricardo Nunes deu lição de moral... em Marçal. O candidato aproveitou sua primeira fala para repudiar o ato de agressão do qual foi vítima, mas Nunes achou melhor culpar Marçal.
"Datena não é homem e
aqui eu ratifico. Ele não é homem, é um agressor. As cadeiras foram parafusadas
aqui no chão porque ele teve comportamento análogo a um orangotango, em uma
tentativa de homicídio contra mim", disse Marçal.
Não importa se você confia ou não em Marçal, se acha que ele passou
dos limites verbais ou não; ele foi a vítima de uma agressão física e Datena
deveria ter sido preso no ato, além de ser afastado da campanha pelo PSDB
O prefeito reagiu repudiando o
comportamento de Marçal, dizendo estar “decepcionado com a sua participação
nesse processo eleitoral”. "Você chegou só agredindo a todos: é o pai da
Tabata, o Datena, o Boulos e a mim. Acho que isso é muito ruim pra você, e
estou falando como se fosse teu pai que te deu tantos conselhos lá atrás.
Precisamos elevar o nível", declarou Nunes.
Elevar o nível do debate... com Boulos, um comunista invasor de propriedades sendo levado a sério pela imprensa? Com Leonardo Sakamoto, uma figura caricata da extrema esquerda, sendo parte da banca entrevistadora da TV Cultura, ao lado da militante de esquerda Vera Magalhães?
Causa algum espanto que o
candidato apoiado por Jair Bolsonaro dedique tanta energia para atacar Pablo
Marçal, e quase nenhuma contra Boulos, o líder do criminoso movimento MTST. Que
Marçal chegou provocando, isso é fato. Que ele tratou o circo como circo, idem.
Mas mesmo quando é ele quem leva uma cadeirada de um desequilibrado narcisista
do PSDB, ele continua sendo o algoz, o agressor, o culpado?
É como nos Estados Unidos,
onde Trump é sempre a ameaça à democracia, mesmo quando sofre duas tentativas
de assassinato em menos de dois meses. O mestre Guzzo, em sua coluna na Gazeta
do Povo, diz que o "novo normal" é negar a proteção da lei para a
direita.
"A imprensa em geral
se mostra abertamente irritada com o fato de Trump ser a vítima, e não o
assassino", escreve. Poderíamos dizer o mesmo no Brasil: os
jornalistas odeiam o fato de que Marçal sofreu uma agressão com uma cadeira, em
vez de ter sido o agressor. Guzzo conclui:
Nada ou ninguém que seja de “direita”, ou descrito como tal, tem o direito moral de contar com a proteção da lei. Podem ser censurados, ter suas contas no banco bloqueadas e ser indiciados em inquéritos sem data para acabar. Se estão refugiados em outro país, podem ser sequestrados por “uns jagunços” e trazidos de volta à força. Podem morrer na prisão sem o tratamento médico a que têm direito. Se são empresas, podem ter os seus ativos expropriados para pagar multas, sem que tenha havido processo judicial regular para autorizar a expropriação – e nem a aplicação das multas. Hoje em dia, é assim que se salva a democracia. Ou assim, ou à bala.
Confesso estar bem
decepcionado com alguns bolsonaristas que estão justificando a agressão do
tucano Datena, que teve sua "honra" manchada. E o império das leis,
fica onde? Alguém acha mesmo que se fosse uma pessoa de direita reagindo assim
teria o salvo-conduto que Datena está tendo? O próprio Bolsonaro foi alvo de
ataques pérfidos, alguns envolvendo sua filha, e nunca deu cadeirada em
ninguém.
Não importa se você confia ou
não em Marçal, se acha que ele passou dos limites verbais ou não; ele foi a
vítima de uma agressão física e Datena deveria ter sido preso no ato, além de
ser afastado da campanha pelo PSDB. O fato de nada disso ter acontecido, e o
atual prefeito Nunes ainda dedicar suas críticas ao Marçal em vez do Datena
mostra como o sistema está unido contra o "coach". E isso faz
aumentar a percepção de que ele é o único "outsider" ali, que sofre
tanta perseguição não por seus defeitos, mas por suas virtudes – os
contundentes ataques ao sistema comunista.
Título e Texto: Rodrigo
Constantino, Gazeta
do Povo, 17-9-2024, 12h07
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Esse aí que jogou o celular era o mediador do debate que teve cadeirada: “Vai para a puta que te p…! Filha da p…!”
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