sábado, 12 de outubro de 2024

O auricular e a carteira

Henrique Pereira dos Santos

Púrpuro acaso, ontem passei algum tempo no carro e, por isso, tive oportunidade de ouvir, ao vivo e em direto, a quantidade de idiotices que jornalistas perguntaram a Luís Montenegro sobre auriculares e afins. 

A situação não nasceu do vácuo, resulta de umas declarações tontas de Luís Montenegro que os senhores jornalistas consideraram ofensivas, razão pela qual se sentem na obrigação de sinalizar a sua virtude fazendo perguntas ainda mais tontas que as declarações iniciais, a que ninguém liga nenhuma a não ser os jornalistas, claro. 

Em paralelo, um senhor cuja carreira jornalística se resume a ser jornalista de bola (e de "A Bola"), que ninguém conhece a não ser os jornalistas (afinal foram eles que o elegeram presidente do seu sindicato), veio dizer que nós, os vulgares espectadores de televisão, fomos completamente enganados porque pensávamos que estava a ser feita uma entrevista a Montenegro por uma jornalista, quando na verdade era uma entrevista feita por Maria João Avillez, que usurpou funções, enganando toda a gente.

Presidente do Sindicato de Jornalistas, Luís Simões, foto: Miguel A. Lopes/Lusa

Para evitar problemas gravíssimos destes, em que as pessoas são enganadas por não jornalistas que fazem perguntas, o senhor em causa vai tratar do caso com o mais absoluto rigor, porque os espectadores não podem ficar à mercê de pessoas como Maria João Avillez que têm a ousadia de fazer perguntas sem terem carteira de jornalista, em vez de terem, por exemplo, um jornalista de bola, como o senhor presidente do sindicato, a entrevistar Luís Montenegro.

Foto: Nuno Fox/Lusa

 Que o senhor seja um jornalista de bola que não tenha um décimo da experiência de jornalismo político de Maria João Avillez é evidentemente irrelevante, face ao magno problema da carteira que, esse sim, deveria ser o primeiro problema a resolver, impedindo que pessoas que não são jornalistas, no sentido de que não têm carteira, façam perguntas a quem lhes dê na gana, enganando o público em geral que, coitado, não tem capacidade para entender a importância da carteira e, por isso, deve ser defendido de usurpadores. 

Sobre isto, nem os jornalistas fazem perguntas ao presidente do seu sindicato, nem ao Governo, para se saber o que justifica que um sindicato possa decidir quem tem, ou não tem, carteira, por razões poderosíssimas como fazer publicidade a um banco (que parece que terá sido a razão para ser retirada a carteira a Maria João Avillez). 

Que se promova um aldrabão sem verificação dos factos, como fez o atual presidente da RTP, que foi antes presidente da LUSA, isso é pacífico e em caso algum deve levar uma pessoa qualquer a ser impedida de ser jornalista.

Presidente da RTP, Nicolau Santos, foto: Álvaro Isidoro/Global Imagens

Título e Texto: Henrique Pereira dos Santos, Corta-fitas, 12-10-2024

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