terça-feira, 4 de outubro de 2011

32º capítulo (daquela Série): Um filme e uma bíblia

Capítulo anterior:

Outubro de 1969. Estava trabalhando (Éts. Miranda) quando um homem, com sotaque brasileiro, perguntou por mim. “Sim, sou eu”. Contou-me o que queria: estavam realizando um filme em Brazzaville e precisavam de alguns figurantes de "raça branca" para os papéis de mercenários; tinha chegado a mim por indicação do Sr. Marques, dos Éts. Marques. “Ok!”, respondi.

Consegui juntar uns dez “brancos” para esse “trabalho”.

O assistente do realizador chamava-se André. E o realizador chamava-se Glauber Rocha.

O produtor executivo, que me contratou para subcontratar os demais com a promessa de me pagar xis, nada nos pagou. O nome dele: Giancarlo Santi. Tinha sido antes deste filme produtor de “Era uma vez no Oeste”, de Sergio Leone.

Participei numa meia dúzia de cenas.

O filme, lá no Congo, na fase de realização, chamava-se “O Leão do Congo” - para agradar às autoridades congolesas. Depois chamou-se “O leão das sete cabeças”.

Alguns atores:
Hugo Carvana
Rada Rassimov
Giulio Brogi
Reinhard Kolldehoff
Gabriele Tinti
Jean-Pierre Léaud

Este último fazia papel de pregador, ou padre. Por isso, me pediram que lhes arrumasse uma bíblia, primeiro testamento, acho. Pois bem, consegui a bíblia através de um senhor que também trabalhava nos Éts. Marques, cujo nome, lamentavelmente, esqueci. Era o primeiro volume de uma bíblia em dois tomos. Daqueles tijolos, capa duríssima, relevos, fios de ouro… estão a ver? Esse volume nunca foi devolvido. Alegaram que se havia perdido, sei lá, mas estavam todos procurando-a… Felizmente, a pessoa que cedeu o livrão compreendeu perfeitamente com quem estávamos lidando. Supliquei, quase chorei, coloquei um papel no bolso do paletó de André, quando eles estavam embarcando no aeroporto de Maya-Maia, lembrando-o da bíblia… Ó santa ingenuidade!

Nunca ficarei sabendo quem a roubou, se o ator ou o produtor.

Ah, sobre o filme, vi-o mais de dez anos depois. Assisti-o no Centro Cultural Cândido Mendes, na Joana Angélica, Ipanema, numa sessão única, à meia-noite. Nada entendi.

Quando pesquisava sobre este filme deparei-me com esta notícia no “Estado de S. Paulo”, de 01-12-2010, “O Leão de Sete Cabeças confirma perenidade da obra de Glauber”. Informa que o DVD estará disponível em 2011. Hummm…


A única foto que me sobrou. Eu estou com boné, atrás de Glauber. 
O "contrato"
Um cartaz do filme, em alemão. Achei aqui
Próximo capítulo:
33º capítulo (daquela Série): Un mazout, s’il vous plaît

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