Aí está! Uma das heranças malditas de seu antecessor fez com que a Presidente Rousseff tivesse que se explicar com o Secretário da FIFA.
Pensei que um(a) Presidente da
República dialogasse com o Presidente da FIFA, mas não com um Secretário.
Um parêntesis: o antecessor da
Sra. Rousseff não quis receber um “funcionário de terceiro escalão” do governo
da América do Norte, como ele designou o então Chefe do USTR, responsável pelas
negociações de comércio internacional e com “status” de Ministro. O Sr.
Zoelnick é hoje Presidente do Banco Mundial...
Será que o Secretário da FIFA
é o futuro Presidente da entidade?
Volto ao meu tema. Aparentemente,
quando o Sr. da Silva e todos os outros funcionários do Governo e as outras
personalidades presentes vibraram com a nomeação do Brasil para sediar a Copa
de 2014, nenhum deles sabia – ou ignorou propositadamente, o que essa escolha
realmente representava.
Digo isso porque de lá para cá
muitíssimo pouco, quase nada, se fez para preparar o Brasil com vistas a sediar
uma Copa do Mundo.
De repente, parece que o
Governo está querendo acordar e se dar conta do problema, que não é pequeno.
Começa pela porta de entrada
do País para a maioria dos estrangeiros: os aeroportos, pois nenhum de nossos
atuais está em condições de receber os visitantes com um mínimo de decência e
de eficiência.
Serão licitados brevemente,
para que sejam transferidos para o setor privado, os aeroportos de São Paulo
(Cumbica), de Campinas (Viracopos) e de Brasília. Mas, e os demais, em que já
se diagnosticou a necessidade de algumas obras fundamentais (cito o exemplo do
aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre, no inverno sujeito a constantes
fechamentos por causa de nevoeiro, requerendo a compra e instalação de
equipamento, e o alongamento da pista; obra pendente há uns oito anos!).
Em seguida vêm os estádios,
também sujeitos a condições especiais, exigidos pela FIFA. A isso se somam a
desordem no trânsito em quase todas as cidades, a adequação da rede hoteleira,
etc., etc.
A Senhora Presidente deve
achar que o fato de realizarmos a Copa no Brasil nos torna mais ricos, podendo
resolver quase todos nossos muito prementes problemas na saúde, no ensino, nas
estradas, nos portos e por aí vai.
Doce ilusão da Senhora
Rousseff. E não adianta pensar em fazer o elefante branco do trem bala Rio-São Paulo-Campinas,
pois jamais ficará pronto até lá e é, efetivamente, uma obra absurda nesse
momento.
Aliás, entre as exigências da
FIFA há uma realmente bizarra: tem que ser permitida a venda de bebidas
alcoólicas nos estádios. Por que será isso?
Mas antes disso: tem cabimento
a organização que tem os direitos sobre a realização de copas do mundo de
futebol fazer exigências como essa?
Em nosso país temos estados
(pelo menos um, o Rio Grande do Sul) em que é proibida a venda de bebidas
alcoólicas nos estádios de futebol, por lei estaduaL; Será que o estado terá
que alterar sua lei, ou abrir mão de sua aplicação durante a realização de
jogos da Copa? Ou terá que fazer uma concessão especial, suspendendo essa lei
nos dias em que serão realizados jogos? Isso é viável, juridicamente? Isso é
aceitável moralmente?
O povo se perguntará: por que
será que pode só nesses jogos? Qual a razão de não se poder sempre?
Ofereço uma resposta: um
GRENAL, o maior clássico do futebol gaúcho, mexe muito mais com os nervos dos
gaúchos do que um jogo Alemanha x França! É verdade, mas um jogo do Brasil
contra qualquer outro país também mexe muito com os sistemas nervosos dos
assistentes.
Deduzo, então: tomar pileques
no estádio não importa, na Copa, ainda que seja muito importante, condenável,
em jogos do campeonato gaúcho. É piada!
O que não é piada é que o Brasil terá que fazer gastos enormes, inestimáveis por enquanto, para ter a duvidosa honra de sediar uma copa.
Pessoalmente, penso que o Sr.
da Silva e seu xará Ministro dos Esportes, Orlando Silva Jr. fizeram besteira para
o Brasil; pode talvez fazer sentido para as suas contas bancárias no exterior,
mas não faz bem ao País como um todo.
Infelizmente, e há que pensar que pouco depois virão os Jogos Olímpicos de 2016, que pesarão sobremaneira no estado do Rio de Janeiro.
No caso, o País está fazendo o
que Julio Cesar, ao verificar que não tinha condições de alimentar seu povo,
decidiu: dar-lhes circo, distraindo-os nas gigantescas arenas; Maria Antonieta
recomendou aos franceses: se não se puder dar pão aos pobres, que se lhes dêem brioches!
E a Copa, para os brasileiros, são o circo ou os brioches, já que não lhes
podemos dar saúde e educação em doses adequadas para a sua vida.
O lamentável nisso tudo, o
mais lamentável realmente, é a quantidade de dinheiro que será gasto por uns, e
ganhos por outros, ilegalmente. Sabe-se que no Brasil a corrupção é uma das
maiores do mundo; até já chega a ser endêmica.
Triste futuro nos espera. Não
é o que Stefan Zweig pensava do Brasil, chegando a escrever um livro com o
título de “Brasil, País do Futuro”. Nosso futuro continua como tal; será que um
dia chegará?
Peter Wilm Rosenfeld, Porto
Alegre, 12 de outubro de 2011
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