quarta-feira, 12 de outubro de 2011

COPA 2014 – Uma das heranças malditas do Sr. da Silva

Peter Wilm Rosenfeld
Aí está! Uma das heranças malditas de seu antecessor fez com que a Presidente Rousseff tivesse que se explicar com o Secretário da FIFA.
Pensei que um(a) Presidente da República dialogasse com o Presidente da FIFA, mas não com um Secretário.
Um parêntesis: o antecessor da Sra. Rousseff não quis receber um “funcionário de terceiro escalão” do governo da América do Norte, como ele designou o então Chefe do USTR, responsável pelas negociações de comércio internacional e com “status” de Ministro. O Sr. Zoelnick é hoje Presidente do Banco Mundial...
Será que o Secretário da FIFA é o futuro Presidente da entidade?
Volto ao meu tema. Aparentemente, quando o Sr. da Silva e todos os outros funcionários do Governo e as outras personalidades presentes vibraram com a nomeação do Brasil para sediar a Copa de 2014, nenhum deles sabia – ou ignorou propositadamente, o que essa escolha realmente representava.
Digo isso porque de lá para cá muitíssimo pouco, quase nada, se fez para preparar o Brasil com vistas a sediar uma Copa do Mundo.

De repente, parece que o Governo está querendo acordar e se dar conta do problema, que não é pequeno.
Começa pela porta de entrada do País para a maioria dos estrangeiros: os aeroportos, pois nenhum de nossos atuais está em condições de receber os visitantes com um mínimo de decência e de eficiência.
Serão licitados brevemente, para que sejam transferidos para o setor privado, os aeroportos de São Paulo (Cumbica), de Campinas (Viracopos) e de Brasília. Mas, e os demais, em que já se diagnosticou a necessidade de algumas obras fundamentais (cito o exemplo do aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre, no inverno sujeito a constantes fechamentos por causa de nevoeiro, requerendo a compra e instalação de equipamento, e o alongamento da pista; obra pendente há uns oito anos!).

Em seguida vêm os estádios, também sujeitos a condições especiais, exigidos pela FIFA. A isso se somam a desordem no trânsito em quase todas as cidades, a adequação da rede hoteleira, etc., etc.
A Senhora Presidente deve achar que o fato de realizarmos a Copa no Brasil nos torna mais ricos, podendo resolver quase todos nossos muito prementes problemas na saúde, no ensino, nas estradas, nos portos e por aí vai.



Doce ilusão da Senhora Rousseff. E não adianta pensar em fazer o elefante branco do trem bala Rio-São Paulo-Campinas, pois jamais ficará pronto até lá e é, efetivamente, uma obra absurda nesse momento.
Aliás, entre as exigências da FIFA há uma realmente bizarra: tem que ser permitida a venda de bebidas alcoólicas nos estádios. Por que será isso?
Mas antes disso: tem cabimento a organização que tem os direitos sobre a realização de copas do mundo de futebol fazer exigências como essa?
Em nosso país temos estados (pelo menos um, o Rio Grande do Sul) em que é proibida a venda de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol, por lei estaduaL; Será que o estado terá que alterar sua lei, ou abrir mão de sua aplicação durante a realização de jogos da Copa? Ou terá que fazer uma concessão especial, suspendendo essa lei nos dias em que serão realizados jogos? Isso é viável, juridicamente? Isso é aceitável moralmente?

O povo se perguntará: por que será que pode só nesses jogos? Qual a razão de não se poder sempre?
Ofereço uma resposta: um GRENAL, o maior clássico do futebol gaúcho, mexe muito mais com os nervos dos gaúchos do que um jogo Alemanha x França! É verdade, mas um jogo do Brasil contra qualquer outro país também mexe muito com os sistemas nervosos dos assistentes. 
Deduzo, então: tomar pileques no estádio não importa, na Copa, ainda que seja muito importante, condenável, em jogos do campeonato gaúcho. É piada!

O que não é piada é que o Brasil terá que fazer gastos enormes, inestimáveis por enquanto, para ter a duvidosa honra de sediar uma copa.
Pessoalmente, penso que o Sr. da Silva e seu xará Ministro dos Esportes, Orlando Silva Jr. fizeram besteira para o Brasil; pode talvez fazer sentido para as suas contas bancárias no exterior, mas não faz bem ao País como um todo.

Infelizmente, e há que pensar que pouco depois virão os Jogos Olímpicos de 2016, que pesarão sobremaneira no estado do Rio de Janeiro.
No caso, o País está fazendo o que Julio Cesar, ao verificar que não tinha condições de alimentar seu povo, decidiu: dar-lhes circo, distraindo-os nas gigantescas arenas; Maria Antonieta recomendou aos franceses: se não se puder dar pão aos pobres, que se lhes dêem brioches! E a Copa, para os brasileiros, são o circo ou os brioches, já que não lhes podemos dar saúde e educação em doses adequadas para a sua vida.
O lamentável nisso tudo, o mais lamentável realmente, é a quantidade de dinheiro que será gasto por uns, e ganhos por outros, ilegalmente. Sabe-se que no Brasil a corrupção é uma das maiores do mundo; até já chega a ser endêmica.
Triste futuro nos espera. Não é o que Stefan Zweig pensava do Brasil, chegando a escrever um livro com o título de “Brasil, País do Futuro”. Nosso futuro continua como tal; será que um dia chegará?
Peter Wilm Rosenfeld, Porto Alegre, 12 de outubro de 2011

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