quinta-feira, 7 de junho de 2012

Cuba: "Que insatisfação é essa que não se transforma em revolta?"

Fidel Castro e Luiz Inácio Lula da Silva, Cuba, fevereiro 2010. Foto: Ricardo Stuckert/Presidência


Caro Chico,
Não concordo com alguns aspectos de sua análise. Vai em azul intercalando seu texto.

Otacílio,
Lamentavelmente, tenho que concordar contigo. Mas existe muita insatisfação em Cuba e também muito 'complexo de vira-latas', quando o povo sente que o que há de bom na ilha está reservado apenas para turistas estrangeiros (e para os membros da reduzida burguesia estatal do politiburo socialista).
E por que se acomodam com este estado de coisas que já dura há mais de 50 anos? Que insatisfação é esta que não se transforma em revolta?
Não acho que seja insatisfação, mas sim, covardia. Um homem quando sente que tem um opressor, ou mata o opressor ou o opressor o mata. Não dá para oprimido e opressor viverem juntos. A independência dos Estados Unidos, conquistada através de uma sangrenta guerra contra a Inglaterra, aconteceu por causa da opressão que o império britânico exercia sobre as suas colônias na América do Norte. A diferença está na qualidade humana dos que fizeram a guerra pela independência dos Estados Unidos e dos que se acomodam sob a tirania do regime comunista cubano. 

É claro que os cubanos endinheirados que estão na Flórida só voltariam para a ilha caso o regime dos Castros fosse varrido do país e o regime que o substituísse lhes dessem sobejas garantias jurídicas de estar inserido no sistema financeiro global, MESMO QUE CONTINUASSE DE CARÁTER AUTORITÁRIO.
Nenhum regime de caráter autoritário merece o respeito de quem tem dignidade e auto respeito. Há uma realidade que muitos não percebem: a maioria das pessoas já nasceu fracassada e por por isto tão poucos são ricos. Defeito de fabricação. Poucos se dispõem a pagar o preço do sucesso, que é muito alto. A mesma coisa acontece com países. Cuba, assim como o Brasil, já nasceram fracassados. 
O que me pergunto é se há homens em Cuba que possam liderar tal reviravolta política para propiciar tamanha recuperação econômica, uma vez que o povo em si não é capaz de ajudar em nada que isso ocorra.
Não, não há ninguém em Cuba capaz de liderar um movimento no sentido de mudar o regime. Cuba vai acabar como o Haiti. Aliás, já está quase como o Haiti. 

No Brasil, a coisa já é um pouco diferente, embora a raíz do problema seja a mesma, ou seja, a baixa qualidade da cidadania. Pelo menos, aqui, há homens que podem liderar mudanças, como ocorreu em 1964, oportunidade de ouro perdia pelos patrícios para lançar as bases de uma democracia meritocrática e de um sistema econômico capaz de fomentar a agregação de valor à exportação e privilegiar a universidade, à educação e ao ensino.
É ai que você está mais enganado. O Brasil se transformou num valhacouto de canalhas e toda a culpa pelo que hoje acontece pode ser debitada aos militares que tomaram o poder em 1964. O que fizeram eles? Criaram uma verdadeira democracia capitalista? Qual nada! Estatizaram o país de modo a deixar os soviéticos morrendo de inveja. Fecharam o país ao comércio exterior imaginando que a xenofobia doentia e o nacionalismo provinciano iriam transformar o Brasil numa potência econômica às suas próprias custas. Foram bonzinhos com os comunistas em plena guerra fria quando os comunistas lutavam para dominar o mundo.
Quem você acha que no Brasil atual, dominado pelo capital internacional, teria coragem de liderar um movimento para mudar o estado deplorável de imoralidade em que o país está mergulhado? Nem os poderes místicos seriam capazes de tal façanha. Os militares? Fala sério! Militar tem a cabeça quadrada e hoje estão muito bem pagos para ficarem quietos e calados. Essa história de que militar é patriota, ama o Brasil a ponto de defendê-lo com o sacrifício da própria vida é conversa para boi dormir. E você tem que admitir que os militares de hoje não são os de ontem. Castelo Branco e Emílio Médici morreram faz tempo. Os de hoje são meros guardiões desse regime prostituído que o Lula instituiu. São lacaios desse regime apodrecido.
Me aponte um homem sequer, ou um grupo de homens que tenha coragem nesse país de merda de mudar o rumo dessa situação calamitosa em que está mergulhado o Brasil. 

Resta saber se esses homens estão dispostos ou não em entrar na luta para tanto.
É, resta saber se esses homens... Mas que homens, Chico? Eu tenho que rir!

Abração,
CHICO
Abração,
Otacílio
Encontro de Lula e Fidel aconteceu em uma casa. Foto: Ricardo Stuckert/Presidência
Fonte: G1
 Linda casa, Fernandinho! É padrão em Cuba?

2 comentários:

  1. Caro, Jim,

    Infelizmente, segundo o nosso amigo Otacílio - australiano por opção -, em seu realismo deceptivo, não há nada a fazer com o Brasil, a nao ser destruir e começar de novo, ou simplesmente buscar outro lugar decente para se viver. É possível que ele tenha razão, mas para quem está aqui, a opção é lutar, é tentar transformar a bosta em creme de cheiro, buscar a construção de uma sociedade melhor e mais preparada para desempenhar um papel de principal potência mundial. Pode ser que não consigamos, pode ser que consigamos apenas uma melhora discreta. Mas o que não podemos fazer é deixar de tentar. Os argumentos do Otacílio, a quem prezo muito, são poderosos e históricos e lhe alicerçam as convicções que sedimentou a respeito de sua terra natal. Só espero que, um dia, que acredito não estarei aqui para ver (nem ele) esse panorama sombrio possa ter mudado para melhor. Para tanto, a nossa ação de hoje será fundamental. É isso ou ir embora para outro país...

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  2. Caro Chico, efetivamente concordo, particularmente, com esta sua assertiva:
    "É possível que ele tenha razão, mas para quem está aqui, a opção é lutar, é tentar transformar a bosta em creme de cheiro, buscar a construção de uma sociedade melhor e mais preparada..."
    No entanto, o que mais aprecio na prosa de Otacílio é o desassombro! Julgo que essa é uma forma de luta, mais eficaz, de tornar o Brasil o que ele merece ser. Quero dizer, só chamando as coisas pelos seus nomes, sem contemplação e sem medo de ser feliz, pode causar reação. Penso que já passou da hora da auto indulgência e da auto complacência, tipo, como ainda leio (não ouço, porque não moro no Brasil) "Ah, mas o Rio é lindo", "Amo o meu Brasil", "em todo o mundo é assim", "também tem assaltos em Nova Iorque, etc..." ... porque, caro Chico, se auto indulgência e a auto complacência não estivessem tão arraigadas o Brasil não estaria desse jeito, onde a degradada qualidade de vida - favelas - é acariciada e protegida e serve para propaganda turística! e outros exemplos...
    Enfim, se já estão arraigadas, cabe a uns poucos, como vocês, impedir que se transforme em DNA, se é que me entende...
    Grande abraço./-

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