domingo, 18 de agosto de 2013

Os perigos de uma trégua/ Não podemos errar sempre

Síndrome de Estocolmo. Pintura de ~Alex-Shan, Venezuela. Aqui
José Carlos Bolognese
Qualquer pausa entre dois oponentes é sempre mais favorável ao lado mais forte. Uma trégua, se por um lado traz alívio à parte mais fraca, permite ao lado (muito) mais forte rearrumar suas forças e decidir quando e como atacar de novo. Dito assim, parece que devemos acreditar que as notícias desta última semana não foram as melhores que tivemos em mais de sete anos de luta por nossos direitos. Ao contrário, como qualquer variguiano esfolado por anos de injustiça e humilhações, eu também me sinto encorajado com as declaradas (mas não oficializadas) intenções do governo propondo uma solução para o caso do Aerus e as demais pendências enroscadas na falência da Varig.

Assim como a notícia me trouxe certo ânimo, também passei a sentir o medo de uma desmobilização geral, o que nós, o lado mais fraco, não podemos nos permitir. Enquanto o lado forte, com sua vantagem consolidada pode se dar ao luxo de não cumprir o que promete, nós só temos a perder se pararmos de falar no assunto e ficar esperando sentados com medo de irritar os dragões com seus sacos de maldades. Como lado mais fraco nessa guerra nós só combatemos armados com a verdade.

O histórico do que passamos nesses mais de sete anos, as privações, as humilhações e, no limite, as perdas de vidas, com certeza prematuramente pela conjugação sinistra de velhice/doenças/falta de recursos, são as armas de que dispomos. Pelo simples fato de serem verdades, assim como suas causas também são tristes e incontestáveis verdades, se essas nossas armas ainda não venceram a batalha é porque neste país ultimamente tanto a verdade quanto o trabalho honesto não andam valendo grande coisa.

Ilustração: Gustavo Duarte, 2005

O perigo no meu modo de ver, não é o de nos indispormos com as autoridades que podem, ou não, cumprir intenções – não promessas ou compromissos – ainda não muito claros. Afinal, nestes mais de sete anos os FATOS - não as intenções ou promessas - falam por si próprios. O perigo de parar de falar em nossos direitos caloteados e suas consequências está em cairmos na mesma categoria de pensamento que nos levou ao caos. Aquela época “Dolce Far Niente” quando, parecidos com “A Velhinha de Taubaté”, aceitávamos como pura verdade todas as maravilhas contadas pelos dirigentes da Varig e do Aerus.

Portanto, contrariando alguns ingênuos compreensivelmente fragilizados e temerosos, penso que este espaço entre as greves de fome e os movimentos de ocupação no Rio e em Brasília - e um anúncio que ainda precisa provar ser verdade - seja preenchido com mais apelos, mais depoimentos, mais fatos sobre o que fizemos para ter uma aposentadoria decente e o que fizeram conosco. Acredito que manter o assunto em pauta mais ajuda do que atrapalha, na medida em que não se possa alegar desconhecimento ou desculpas para nos devolverem (eventualmente) menos do que temos direito.

Não é hora de nos deixarmos envolver por uma variação da “Síndrome de Estocolmo” que é quando o sequestrado, exaurido por anos de cativeiro se apega ao sequestrador e abdica até de sua liberdade de pensamento.
Se o que vem agora é para valer, apesar do estrago já feito... ótimo. Se não, pelo menos continuamos na luta.
Não podemos errar sempre.
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 18-8-2013

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5 comentários:

  1. Sinceramente, desta vez não vou ficar muito eufórico não, pois já por duas vezes que fiquei me
    decepcionei, porém, como sou uma pessoa muito esperançosa, vou aguardar os acontecimentos.
    Espero que não seja mais uma enrolação para forçar a retirada dos guerreiros do acampamento. afinal
    são promessas, promessas e mais promessas e nada se resolve. Gostaria de dizer aos amigos que se
    for mais uma enrolação e se tiver o plano C os amigos poderão contar com minha presença, pois estou
    disposto a tudo que se fizer necessário para o bem dos nossos irmãos Variguianos.
    Forte abraço a todos e,
    SEM LUTAS NÃO HÁ VITÓRIAS.
    Jorge Tartaruga.

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  2. Promessas são promessas e fica tudo nessa, não podemos pensar que está tudo bem quando por longos sete anos por unumeras vezes disseram que iriam cumprir o que ordenava a lei e passaram por cima dela e estamos amargando tudo isso por todos estes anos , temos que ter cartas de reserva no bolso e não pensar que está tudo resolvido pois palavras são palavras e nada mais. O nosso pessoal envolvidos nas negociações tem que estar sempre alerta e cobrando o prometido pois não dá para esperar muito, o tempo passa e estamos lidando com vidas e vidas são muitos preciosas. Fiquem atentos por favor não deem treguas. vamos para a vitória final.paulo melo / AERUS

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  3. Grande Bolognese, certo como sempre.
    Marcio V. Oliveira

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  4. Pensamento clássico: "Depois da tempestade vem a bonança" no caso Aerus, depois da tempestade - ocupação, greve de fome, protestos - vem o silêncio! Na guerra, o silêncio após a trégua, prenuncia o ataque do inimigo reequipado! Isso pode ser constatado em qualquer livro sobre a 2a. Guerra e Vietnam!Será que os aposentados, que preferem comparecer a churrascos e almoços, estão preparados para novo embate contra "as forças do governo"?
    Alberto José

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  5. José Carlos Bolognese,concordo em n*,genero e grau,tudo o que dissestes no teu texto ! já manifestei meu medo,mesclado de esperança,de que tudo seja novamente,apenas promessas vãs(mas,no fundo,esperando que sejam verdadeiras,as promessas,desta vez !)mas sem muita esperança !!e acho que não devemos ficar parados,calados,enquanto esperamos que,quem deveria ter cuidado antes,cuide agora !!

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