Tavares Moreira
Nestes últimos dias têm-se
multiplicado, na nossa distintíssima comunicação social – com a generalidade
dos “opinion-makers” em forte sintonia – as referências aos reparos e reservas
que tanto a Comissão Europeia, já na versão Juncker (CE), e o Fundo Monetário
Internacional (FMI) dirigiram à política orçamental portuguesa para 2015, na
sequência da 1ª missão de avaliação efectuada após a conclusão do PAEF.
Tenho anotado, em particular,
o estilo bastante festivo e aprovador com que essa mesma comunicação social +
“opinion-makers” acolheram aqueles reparos e reservas que - com algum
fundamento, devo admitir - consideram a proposta de OE/2015 desprovida de
ambição em matéria de cumprimento dos objectivos de consolidação orçamental
(apesar de) sempre afirmados pelos decisores políticos…
Ou seja, a mesma comunicação
social que passou grande parte do tempo, nestes últimos anos, a zurzir e a dar
palco privilegiado aos que se dispunham a zurzir a Troika e o Governo pelo que
entendiam ser a excessiva austeridade imprimida à política económica e
financeira, no âmbito do PAEF, acusando mesmo o Governo de querer ir mais longe
do que a Troika…
…essa mesma comunicação social
está agora saudando, alegremente, a CE e o FMI pelas advertências e avisos que
lançam sobre a política orçamental para 2015, tida por excessivamente amiga da
procura interna e pouco ou nada comprometida com os objectivos de consolidação
orçamental e de redução do nível da dívida pública…
Decididamente, já pouco ou
nada se percebe neste palco de debate político-económico em Portugal: então os
que até agora criticavam ferozmente o excesso de austeridade e ao mesmo tempo
propunham mais crescimento (leia-se despesa) “viraram” apoiantes da CE e ao FMI
quando estes apontam o dedo à falta de vontade em levar mais longe o esforço de
consolidação orçamental em 2015?
Quem diria que ainda iríamos
assistir a esta espectacular mudança de camisolas, na querela austeridade
versus crescimento: o Governo (supostamente neo-liberal e anti-social) vestindo
a camisola do crescimento e da promoção da procura interna…e a comunicação
social sufragando a necessidade de maior exigência orçamental que a CE e o FMI
recomendam…
Que novas surpresas nos
esperam neste volátil universo opinativo?
Título e Texto: Tavares Moreira, “4R – Quarta República”, 6-11-2014
Relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-