quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Troca de camisolas na querela Austeridade versus Crescimento? Será possível?

Tavares Moreira
Nestes últimos dias têm-se multiplicado, na nossa distintíssima comunicação social – com a generalidade dos “opinion-makers” em forte sintonia – as referências aos reparos e reservas que tanto a Comissão Europeia, já na versão Juncker (CE), e o Fundo Monetário Internacional (FMI) dirigiram à política orçamental portuguesa para 2015, na sequência da 1ª missão de avaliação efectuada após a conclusão do PAEF.

Tenho anotado, em particular, o estilo bastante festivo e aprovador com que essa mesma comunicação social + “opinion-makers” acolheram aqueles reparos e reservas que - com algum fundamento, devo admitir - consideram a proposta de OE/2015 desprovida de ambição em matéria de cumprimento dos objectivos de consolidação orçamental (apesar de) sempre afirmados pelos decisores políticos…

Ou seja, a mesma comunicação social que passou grande parte do tempo, nestes últimos anos, a zurzir e a dar palco privilegiado aos que se dispunham a zurzir a Troika e o Governo pelo que entendiam ser a excessiva austeridade imprimida à política económica e financeira, no âmbito do PAEF, acusando mesmo o Governo de querer ir mais longe do que a Troika…

…essa mesma comunicação social está agora saudando, alegremente, a CE e o FMI pelas advertências e avisos que lançam sobre a política orçamental para 2015, tida por excessivamente amiga da procura interna e pouco ou nada comprometida com os objectivos de consolidação orçamental e de redução do nível da dívida pública…

Decididamente, já pouco ou nada se percebe neste palco de debate político-económico em Portugal: então os que até agora criticavam ferozmente o excesso de austeridade e ao mesmo tempo propunham mais crescimento (leia-se despesa) “viraram” apoiantes da CE e ao FMI quando estes apontam o dedo à falta de vontade em levar mais longe o esforço de consolidação orçamental em 2015?

Quem diria que ainda iríamos assistir a esta espectacular mudança de camisolas, na querela austeridade versus crescimento: o Governo (supostamente neo-liberal e anti-social) vestindo a camisola do crescimento e da promoção da procura interna…e a comunicação social sufragando a necessidade de maior exigência orçamental que a CE e o FMI recomendam…

Que novas surpresas nos esperam neste volátil universo opinativo?
Título e Texto: Tavares Moreira, “4R – Quarta República”, 6-11-2014

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