sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Assédio moral

Alberto José

Ao colega José Manuel:


Se
Se és capaz de manter tua calma, quando,
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa.

Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso.

Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,
tratar da mesma forma a esses dois impostores.

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.

Se és capaz de arriscar numa única parada,
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida.

De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
e, entre Reis, não perder a naturalidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.

Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!
Rudyard Kipling, 1895
Tradução: Vitor Vaz da Silva

(Dizem que o senhor Honorato foi mecânico na aviação. Mas ele tem vocação para NAVEGADOR, pois escolheu o José Manuel como a "estrela" para orientar o seu plano de voo!)
Alberto José, 5-12-2014
Delenda est PT!

NdE:
If, que em português tem o título "Se", é um poema escrito em 1895 pelo escritor e prêmio Nobel, Rudyard Kipling, e publicado pela primeira vez em 1910 numa coletânea de contos e poemas intitulada Rewards and Fairies. É geralmente interpretado como referindo-se ao tradicional estoicismo britânico. Segundo o que próprio autor escreve na sua autobiografia Something of Myself, o poema foi inspirado por Leander Starr Jameson

Há duas traduções conhecidas do poema, em português europeu e brasileiro. São, respectivamente, da autoria de Félix Bermudes e de Vitor Vaz da Silva.

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