quarta-feira, 10 de junho de 2015

No país errado

José Carlos Bolognese

Outro dia, em uma instituição onde sou voluntário, minha tarefa era colocar quadros de avisos, de cortiça, nas paredes. Para minha surpresa, na embalagem do produto lia-se: feito na China. De outra feita, num supermercado, peguei um pacote de espetinhos de churrasco e, antes de chegar ao caixa, notei na embalagem: fabricado na China. Uma amiga que gosta de jardinagem comprou um saco de esterco e descobriu estupefata que era importado da China. Para alguém como eu, que acredita mais nas virtudes do que nos defeitos da globalização, o que digo pode parecer um nacionalismo bobo, rejeitando o que vem de fora.

 Mas o que quero tratar aqui se refere mais à forma inteligente ou burra com que o governo de um país lida com seus recursos, suas potencialidades e como se engrandece ou fracassa no cenário mundial. O Brasil não é pobre de recursos, mas as oportunidades que deixa passar por ignorância, burrice e até má-fé, aceleram a nossa locomotiva nativa com toda a força, mas... para trás, em marcha ré. O que era o país do futuro precisa voltar a ser um país com futuro e para isto exemplos de bons empreendimentos não faltam mas, ou não prosperam, ou são liquidados, como foi feito com a Varig. Importar até produtos ordinários demonstra a que ponto chegou a nossa desindustrialização. Seria até um sonho se o Brasil só precisasse importar produtos primários e exportasse produtos e serviços de alta qualidade desses que, por exemplo, necessitam de mão-de-obra bem treinada, isto é, trabalhadores bem-educados – de fato.

É estranho, para não dizer vergonhoso, ver o país exportar primordialmente matéria-prima para a China e importar badulaques. Porém, para lá de estranho porque, isto sim, vergonhoso, é saber que o governo – sim, o governo, não a indústria e nem o comércio – faz o que chama de “exportação de serviços”, um eufemismo para os mais de 99% de dinheiro do BNDES, isto é, dinheiro nosso, que é repassado a apenas cinco grandes empreiteiras - os campeões nacionais - para obras em países amigos do PT - mas não do Brasil - a juros impossíveis a qualquer um de nós que geramos os recursos que vão parar nos cofres desse...“banco nacional de desenvolvimento econômico social”... para quem acredita nisso. Só para o tal porto de Mariel, em Cuba, saem 682 milhões de dólares, uns 3 bi em reais que dariam para construir cerca de 14 hospitais com 250 leitos cada ou 1400 UPAS. Realmente, um grande negócio... para os cubanos... a amigáveis juros entre 4,4% e 6,9% ao ano. Mas não é Cuba quem leva mais. Angola, um país que há longos 36 anos “elege” o mesmo presidente e onde, segundo o FMI, descobriu-se o sumiço de 32 bilhões de dólares, leva do BNDES 3,4 bi, de dólares também, a suaves juros de 2,8% a 7,7% ao ano. Estranho descobrir-se um sumiço quando o sumiço é que deveria o motivo da busca de algo que sumiu, provavelmente recursos do povo angolano. É para indivíduos em governos desse tipo que vai o nosso dinheiro...que não serviu para ajudar a salvar a Varig. Fico imaginando, se houver uma empresa aérea em algum desses países que esteja como a Varig estava há dez anos...

Não preciso imaginar por razões muito simples: a Varig exportava serviços de alta qualidade, um deles a manutenção de aeronaves estrangeiras dentro dos rigorosos padrões internacionais. Outra exportação variguiana, algo que me é particularmente caro, era o nosso serviço de bordo aplaudido e copiado por grandes empresas aéreas em várias partes do mundo. Isto, é óbvio, beneficiou por muito tempo o próprio país. No entanto nada disso foi levado em conta quando decretaram a morte da empresa. Então é triste, vendo para onde e para quem vai o nosso dinheiro, concluir que como nós, que nascemos no país errado, a Varig também deveria ter outra nacionalidade. Se fosse de um desses países amigos do PT – e nada amigos dos brasileiros que prestam – bastava o ditador de plantão pegar o telefone e pronto!, lá ia alto voando a grana com os juros ao baixíssimo nível do chão.

Assim, embora muito mais possa ser lançado na conta deste partido miserável que destruiu a Varig e está afundando o país, não posso deixar de lamentar também a inoperância do nosso sistema judiciário. Altamente remunerado, abrigado, alimentado, bem vestido, transportado, prenhe de benefícios escancarados e ocultos, custa-nos uma fortuna e devolve aos que precisam de justiça apenas o benefício da dúvida e da insegurança dos contratos – mas só do lado dos que são pobres e sem recursos, pois estes, como os trabalhadores da Varig, só muito tarde percebem que nasceram no país errado. 
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 10-6-2015

Um comentário:

  1. Li e estudei seu texto atentamente.
    Não posso discordar, mas apenas lamentar os acontecimentos.
    Eu não acredito que nascemos num país errado, creio que as escolhas dos imbecis é errada.
    No meu blog eu já escrevi que a CHINA está acabando com o "Brasiu", certas coisa mostraram essas evidências.
    As tomadas brasileiras são únicas no mundo e todas produzidas na china.
    Os chineses acabaram com o nosso setor calçadista, e já produzem grandes estragos no setor moveleiro e de tecidos.
    O setor de brinquedos brasileiros famosos pela estrela e a trol simplesmente acabou.
    Nosso setor de computação do lado de periféricos escafedeu-se, tudo é chines, mouse, teclados, até gabinetes estão vindo da china.
    Falta protecionismo.
    Não temos mais nenhum automóvel brasileiro sem peças importadas, e muitas dela são chinesas.
    Agora o mercado de lâmpadas também está ameaçado.
    Outro dia meu monitor pifou, tive que por fora, a peça importada da coreia custava mais caro que um novo.
    Fui comprar almofadas, pois com o tempo elas se deformam, outra surpresa, todas eram chinesas.
    Você vai numa loja de 1,99 tudo que está lá dentro vem da china.
    Agora querem saber o que os chineses levam daqui?
    Ferro, manganês, alumínio e nióbio, carne, café e açúcar.
    Agora o PT aluga parte da PTbrás para investimentos chineses.
    Eu gostaria de mandá-los para a puta que os pariu, mas não posso, ela está na china.
    Aliás aqui no sul china é apelido de PUTA.
    bom dia

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