Guilherme de Carvalho
Escrevo a contragosto,
arrancado do meu exílio blogosférico pela força das circunstâncias.
Deveria estar agora trabalhando em meu livro encomendado em eras passadas,
inacabado e, aparentemente, inacabável. Mas é dura cousa golpear os aguilhões
do processo histórico.
Para encurtar, lancemo-nos
diretamente ao assunto, introduzido de forma pedante no título por uma absoluta
falta de imaginação nessa tarde fria de sexta feira: afirmo que o problema da
política evangélica hoje é um problema estético; um problema de aisthesis,
de distúrbios de percepção e de efeito sentimental, que ocultam uma fragilidade
mais profunda: a falta da fonte verdadeira dos sentimentos verdadeiros, que é a
beleza verdadeira, a que nasce da união entre o bem e a verdade.
DOIS EVANGELICISMOS
POLÍTICOS
Assisti ontem a dois vídeos emblemáticos. O primeiro, publicado pela Carta Capital (veja aqui), mostra alguns líderes Cristãos bastante conhecidos, como Ed René Kivitz, Levi Correa e o Deputado Carlos Alberto Bezerra explicando ao público estupefato da TV Carta que os evangélicos não são todos iguais: há evangélicos progressistas que compreendem as complexidades da vida moderna, que são pluralistas e dialógicos e, acima de tudo, que não devem ser confundidos com a “bancada evangélica”, a famigerada corja fundamentalista e (na maioria) neopentecostal que se apossou da representação política do protestantismo nos últimos anos. No conjunto, o vídeo constitui um ato político pedagógico ou educacional, visando publicizar divergências políticas dentro da comunidade evangélica; seu interesse parece duplo: (a) proteger a respeitabilidade pública do evangelicismo progressista e, quem sabe, de quebra, da fé evangélica; e (b) agremiar e capitalizar o setor mais progressista da igreja evangélica, hoje bastante “órfão” ou, ao menos, abandonado diante do crescente avanço do neopentecostalismo fundamentalista.
Assisti ontem a dois vídeos emblemáticos. O primeiro, publicado pela Carta Capital (veja aqui), mostra alguns líderes Cristãos bastante conhecidos, como Ed René Kivitz, Levi Correa e o Deputado Carlos Alberto Bezerra explicando ao público estupefato da TV Carta que os evangélicos não são todos iguais: há evangélicos progressistas que compreendem as complexidades da vida moderna, que são pluralistas e dialógicos e, acima de tudo, que não devem ser confundidos com a “bancada evangélica”, a famigerada corja fundamentalista e (na maioria) neopentecostal que se apossou da representação política do protestantismo nos últimos anos. No conjunto, o vídeo constitui um ato político pedagógico ou educacional, visando publicizar divergências políticas dentro da comunidade evangélica; seu interesse parece duplo: (a) proteger a respeitabilidade pública do evangelicismo progressista e, quem sabe, de quebra, da fé evangélica; e (b) agremiar e capitalizar o setor mais progressista da igreja evangélica, hoje bastante “órfão” ou, ao menos, abandonado diante do crescente avanço do neopentecostalismo fundamentalista.
O segundo vídeo, gravado pela
TV Câmara ontem (veja nota d'O Globo'), mostra mais uma façanha do excêntrico e
impagável Silas Malafaia. Poderia ser uma comédia, se o assunto não fosse tão
grave. No vídeo o pastor, ícone, para as esquerdas, da bancada “BBB” (Bíblia,
Bala e Boi) submete as ideias da deputada esquerdista Érika Kokay a um
impiedoso escrutínio público, mostrando as inconsistências manipulativas de seu
discurso, sua flagrante inconstitucionalidade, sua dependência da ingerência do
ativismo judiciário brasileiro sobre o legislativo, e sua visão distorcida
sobre a laicidade do Estado, que faria do legislativo uma casa laicizante –
sonho impossível e perverso, como apontou o pastor, já que a casa representa
toda a sociedade em sua pluralidade, incluindo, com isso, as populações
religiosas. A deputada abandona o plenário a certa altura, enquanto as
expressões de apoio ao BBB e a chacota à dignitária humilhada em público
transformam o lugar em um campo de futebol. Fragorosa derrota. (Veja vídeo)
O BELO, O FEIO E O MAU
O problema é notoriamente estético. Não apenas isso, naturalmente; mas é impossível não observar a trama estética que se desenha. O pastor Silas Malafaia é um desastre estético; fere a percepção; é iracundo, agressivo, gritando atropeladamente seus argumentos com aquela vozinha desesperadamente irritante, sem pausas, sem nuances, sem pedir atenção, gesticulando loucamente, como se estivesse em um bate-boca de adolescentes no intervalo da escola. Uma coisa horrorosa.
O problema é notoriamente estético. Não apenas isso, naturalmente; mas é impossível não observar a trama estética que se desenha. O pastor Silas Malafaia é um desastre estético; fere a percepção; é iracundo, agressivo, gritando atropeladamente seus argumentos com aquela vozinha desesperadamente irritante, sem pausas, sem nuances, sem pedir atenção, gesticulando loucamente, como se estivesse em um bate-boca de adolescentes no intervalo da escola. Uma coisa horrorosa.
Horrorosa, sim; mas só ouvi
verdades. Não humilhou Érika Kokay porque foi indelicado, ofensivo ou
estridente, mas porque expôs a hipocrisia biopolítica da esquerda. Expôs sua
perversa intenção de contornar instâncias menores da estrutura social – a
família, acima de tudo – para atingir diretamente a criança e o adolescente
através da pregação politicamente correta de um estado aparelhado pela
ideologia de gênero (que alguns “evangélicos” a serviço sabe-se lá de quem,
insistem em negar). Um amigo disse que Malafaia “mitou”. Mitou mesmo, meus
amigos; odeio admiti-lo, pois odeio a teologia da prosperidade pregada e
praticada por esse indivíduo, mas… Noblesse Oblige.
Mesmo assim, foi feio,
desagradável, indigesto; esteticamente desastroso. Nesse sentido, a fala do
Pastor Levi Correia no vídeo da Carta Capital é mais do que iluminadora:
“derrepente se juntam,
formam uma tal de uma bancada da bíblia, que junto com a bala, que junto com a
bancada do boi, que junto com a bancada da jaula, formam a bancada mais
horrorosa que esse país já teve, e o pior: com batuta de camarada que se diz
evangélico…”
Claro, claro, o termo
“horrorosa”, aqui, tem o sentido de uma analogia estética; é como quando
dizemos que “o fulando teve uma vida bonita”, querendo com isso dizer que foi
uma vida ética e coerente. A bancada é horrorosa porque é imoral, ou injusta,
ou perversa.
Mas isso está claro? De jeito
nenhum. A bancada mais horrorosa que o país já teve não é a bancada da Bíblia;
ou melhor: talvez ela seja a mais horrorosa, mas isso é insuficiente. A feiura
é a desproporção, a desarmonia; muitas coisas podem tornar algo horroroso;
entre elas, o desarranjo de uma coisa bela forçada entre coisas feias. A
bancada da Bíblia pode ser horrível porque há uma desarmonia entre suas
bandeiras e o seu comportamento; ou pode ser horrível porque suas bandeiras são
todas horrorosas; ou pode ser horrível porque não combina com a estética
política da esquerda.
Mas sem dúvida há coisas
igualmente ou até mais horrorosas do que a bancada da bíblia, no circo de
horrores da política Brasileira. Por exemplo: o governo petista tem se tornado
uma das coisas mais feias que o país já viu. Lula virou o sapo-barbudo de novo.
E os evangélicos progressistas que apoiaram o avanço recente da esquerda,
estão, em sua incrível recalcitrância, virando sapos também, um a um – pelo
menos do ponto de vista do evangelicismo e do catolicismo conservador. A
esquerda perdeu grande parte da sua “beleza” nos últimos meses, e a feiura da
conivência e do silêncio está ferindo os olhos e ouvidos até dos mais
simpáticos.
[…]
Título e Texto: Guilherme de Carvalho, 26-6-2015
Colaboração: Vitor Grando
Leia a íntegra do artigo aqui.
Relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos.
Se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-