domingo, 28 de junho de 2015

O rosto jovial do engano e da má-fé

José Mendonça da Cruz


Chamam-lhes crianças, não-adultos, irresponsáveis, mas talvez não sejam isso, talvez os novos governantes gregos, e Tsipras mais que todos, sejam afinal adultos, resolutos, e decididos a usar de todos os enganos, de toda a má-fé para promoverem a sua agenda oculta.

O governo do Syriza foi eleito democraticamente. Em democracia um povo é livre de escolher mal, de dar tiros no pé, de conseguir para si um futuro sombrio. António Lobo Xavier dizia na passada 5ª feira que não enviaria a negociar com capitalistas, com reponsáveis do euro e com responsáveis da UE uma pessoa que fosse anti-capitalista, anti-euro e anti-UE. Mas foi isso que os eleitores gregos fizeram. Julgavam que tinham uma segurança, a de ser público e notório que 70% dos gregos querem o euro e a UE, e elegeram ingenuamente o Syriza.

Mas as vanguardas querem lá saber de 70% do povo, ou mesmo de 100%. As vanguardas estão ali para o educar, para lhe impor a sua visão iluminada. Assim, o Syriza agradeceu e, desde Janeiro até hoje, tratou de alienar todas as simpatias, todas as alianças, todas as possibilidades de manter a Grécia no euro.

O Syriza alienou os países antes assistidos chamando-lhes invejosos, frustrados, cegos e desleais. O Syriza indispôs países bálticos e Europa de leste com sucessivas aproximações a Moscovo. O Syriza indispôs a Alemanha (e Merkel, a maior aliada da Grécia) exigindo indemnizações e ostentando um orgulho ofensivo de querer mais dinheiro e não querer pagar. O Syriza alienou os possíveis apoios da Itália de Renzi e da França de Hollande convidando-as a apoiar exigências ridículas. O Syriza alienou as escassas simpatias e confianças entre os membros da troika chamando-lhes chantagistas, promotores de ultimatos, gente sem visão nem futuro, e, de forma mais geral, mentindo descaradamente (mentindo factualmente) sobre as negociações, sobre quem disse o quê, sobre o conteúdo de documentos e reuniões.

Depois de seis meses de prática da mais desonesta diplomacia que há muito se via na Europa, já próximo do desastre que desejou e quer, o Syriza apresenta agora aos gregos o saldo extraordinário de um referendo, em que votarão sim ou não sobre medidas que terão caducado na data da votação; um referendo em que o governo Syriza defende o não (ou seja, a saída do euro), mas promete ao povo que tratará de gerir o sim se ele vencer.

Tsipras (e a figura patética cuja reivindicação de fama assenta basicamente na roupa preta, numa mochila e num cachecol), afinal, pode ter feito tudo muito bem, ou seja, como sempre tencionou. Levará a Grécia à saía do euro e à tragédia. E, como sempre faz a esquerda que se imagina num pedestal político e moral, proclamará que a culpa é da UE, a culpa é do BCE, a culpa é da Europa toda, a culpa é de Portugal. A culpa também será dos gregos, que serão privados de democracia a bem da reeducação.
Título, Imagem e Texto: João Mendonça Cruz, “Corta-fitas”, 28-6-2015

Um comentário:

  1. Dizem que, no teor original da ACP 0010295-77.2004.4.01.3400, todos os aposentados do Aerus seriam contemplados. Como aposentado do Aerus Variglog desde 2008, recebi os valores relativos à primeira resolução do Desembargador Daniel Paes Ribeiro. Depois, nas demais resoluções do Desembargador, ficaram só os aposentados Aerus Varig e Transbrasil. Gostaria de saber qual foi o problema que causou a retirada dos demais aposentados do Aerus na ACP 0010295-77.2004.4.01.3400. Como todos sabemos, os danos causados pelo uso do dinheiro do Aerus na tentativa de salvar a Varig, afetou o Aerus como um todo. como sabemos também, as Empresas Rio Sul, Nordeste, Vem, Variglog, etc., pertenciam ao Grupo Varig. Assim, nada mais justo que todos os aposentados do Aerus, sejam incluidos nesta ACP.

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