Fitas gravadas por Sérgio Machado servem
apenas para criar confusão; desafio advogados e juristas a apontar onde estão
os crimes nas conversas divulgadas até agora
Reinaldo Azevedo
Parece que o presidente Michel
Temer estava disposto a bancar a permanência de Fabiano Silveira no Ministério
da Transparência, mas o já ex-ministro preferiu cair fora. Optou por não
enfrentar a guerra que viria pela frente com os petistas da pasta a gritar
pelos quatro cantos. As fitas de Sérgio Machado são, já escrevi aqui e reitero,
a Escola Base da imprensa destes dias, com a diferença de que o não escândalo
se dá agora na política.
Jamais houve no país, e creio
que não haverá outra, operação que se movesse com tanta liberdade e, como
dizer?, com tamanho arbítrio como a Lava-Jato. Ela faz literalmente o que quer,
o que pode e o que não pode, e ninguém ousa lhe pôr freios. Estaria eu
sugerindo alguma coisa? Sim! Que todos sigam a lei. Nada além disso. Parece-me
um bom conselho.
Jucá, Sarney, Renan, Silveira…
Todos sabemos que nenhum deles poderia mover uma palha contra a operação, a
menos que contassem com a conivência de Rodrigo Janot, de Sergio Moro, da
Polícia Federal e de todos os loquazes procuradores da Lava-Jato, que nunca
pediram licença para conceder entrevistas, nas quais falam o que bem entendem.
Meu tom é crítico? Não! Só
estou aqui a perguntar onde estão os freios da Lava-Jato e quem os está
colocando. Que outro assunto derrubou dois ministros em dez dias? Que eu me
lembre, nenhum! Mas esperem: os dois que caíram fizeram contra a Lava-Jato
exatamente o quê? E ninguém saberia responder. Nem na imprensa.
Se a moda pega, só poderão ser
nomeados para os ministérios os mudos. E, ainda assim, há que se ter a certeza
de que não falam a língua dos sinais. Essas fitas de Sérgio Machado são uma
aberração sob qualquer aspecto que se queira.
Aí o petralha e os olavetes
tiram as patinhas dianteiras do chão: “Ah, o Reinaldo reclama dos vazamentos
agora. Por que não reclamava quando eram contra o PT?”. Procurem no meu blog
textos defendendo tal procedimento. Não há. O que eu defendo é outra coisa: que
a imprensa os publique se os conseguir. Propugnar pela liberdade de imprensa
não é sinônimo de endossar os procedimentos.
Mas avanço um pouco: é preciso
distinguir uma gravação que evidencie crime contra a ordem pública de outras
que nada mais revelam do que considerações adjetivas e subjetivas sobre o que
está em curso. E é precisamente o caso das conversas gravadas por Sérgio
Machado. É evidente que a Procuradoria-Geral da República não terá o que fazer
com elas. Desafio qualquer advogado ou jurista a dizer qual prescrição legal —
seja da Lei Maior, seja das menores — foi arranhada pelos interlocutores. Não
há.
O que se tem, por óbvio, é a
intenção deliberada de desestabilizar o governo a partir do nada. Aí é evidente
que os instrumentos para a apuração de ilícitos estão sendo empregados não mais
para enquadrar criminosos, mas apenas para fazer política.
Dilma Rousseff, claro!, não
perdeu tempo e afirmou que ela nunca teve um ministro da CGU forçado a pedir
demissão. É verdade… Os ministros do governo Dilma, mesmo quando flagrados ou
denunciados, jamais se demitiam. Nesse particular, o governo Temer, então,
parece um pouco mais exigente.
Sim, é preciso tomar cuidado!
A turma da Restauração está toda assanhadinha. A história não se repete nunca.
Os eventos não existem primeiro como tragédia e depois como farsa. Isso tudo é
bobajada literária. Mas é claro que existe uma espécie de ordem pendular no
mundo, não é? Se existem jacobinos se divertindo com a possibilidade de não
deixar pedra sobre pedra na política, cumpre lembrar que as sociedades rejeitam
a desordem e o vácuo. Alguma ordem sempre se impõe.
Se a Lava-Jato corre algum
risco, ainda que remoto, esse risco está com a possibilidade da Restauração,
não é? Ou será que existe gente na tal operação imaginando que esta
sobreviveria a um eventual retorno do PT ao poder?
Ou a gente começa a separar o
que é crime do que não é, ou as coisas acabarão ficando bem confusas. E sempre
que o crime não se distingue do não crime, é evidente que os criminosos saem
lucrando.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, VEJA,
31-5-2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-