Dilma Rousseff é, finalmente, carta fora
do baralho, apesar da trama, urdida por Renan Calheiros com apoio dos petistas
e a benevolência de Ricardo Lewandowski, para lhe garantir a manutenção dos
direitos políticos
Estadão
Se “a mais firme, incansável e
enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer” – como prometeu em seu
discurso de despedida a ex-presidente Dilma Rousseff – inclui insuflar
irresponsavelmente a escalada da violência nas ruas, como tem acontecido em São
Paulo e outras capitais do País, a própria banida e as chamadas “forças
progressistas” que se alinharam contra o impeachment terão de assumir que a
barbárie é um meio plenamente justificado para defender “os interesses
populares”. Esse, na verdade, é o argumento daqueles que pregam a adoção de
regimes de força ou o emprego de meios do terror para dobrar a sociedade a seus
desejos – ou “sonhos”, como gostam de dizer.
O que está acontecendo nas
ruas – mas também em repartições públicas e universidades – é extremamente
preocupante. Em primeiro lugar, porque pode ser o prenúncio de uma grave
disruptura política e social cuja simples possibilidade é preciso exorcizar. Em
segundo lugar, porque ocorre no momento em que a pacificação nacional é
indispensável para que toda a energia do governo e da sociedade se concentre no
enorme desafio da reconstrução nacional.
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Grupo de manifestantes coloca
fogo em lixo na Avenida Eusébio Matoso, em Pinheiros. Foto:
GloboNews/Reprodução
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A ex-presidente já se havia
dedicado, com sua incompetência, arrogância e sectarismo, a levar o País à
beira do abismo. Alardeando sua condição de “mulher honesta”, ela se beneficiou
sem hesitação do ambiente de corrupção generalizada que sempre esteve ao seu
redor tanto para se reeleger como, no primeiro mandato, para manter uma base
parlamentar que coonestou todas as barbaridades da “nova matriz econômica”.
Agora, ela própria dá um passo adiante, incitando os brasileiros à divisão, por
todos os meios. Despenca no abismo que ela própria abriu a seus pés, mas quer
ser seguida pela Nação.
Dilma Rousseff é, finalmente,
carta fora do baralho, apesar da trama, urdida por Renan Calheiros com apoio
dos petistas e a benevolência de Ricardo Lewandowski, para lhe garantir a manutenção
dos direitos políticos. Ela muito dificilmente conseguirá ter voz ativa em
qualquer articulação política de oposição ao governo. Mas os insensatos
frequentemente sofrem a tentação do abismo e, infelizmente, não perdem a
capacidade de convencimento e arregimentação de quem pensa – ou pensa que pensa
– como eles. O discurso de despedida da ex-presidente, por exemplo, é um claro
estímulo à extrapolação dos limites legais para as manifestações de protesto
contra o governo.
Cabe às autoridades constituídas
reprimir a baderna e impedir que a desordem se torne rotina. É preciso saber
distinguir o legítimo e democrático direito a manifestação no espaço público da
baderna que atenta contra o direito da população de viver seu cotidiano em paz.
No primeiro caso, o poder público tem o dever de oferecer aos cidadãos a
garantia de se manifestar pacificamente. No segundo, tem a obrigação de impedir
a ameaça potencial ou a ação daqueles que infringem a lei. A baderna nas ruas,
longe de ser uma forma legítima e democrática de manifestação popular, é um
grave atentado ao direito fundamental que os cidadãos, o povo, têm de viver em
paz.
Agrava a configuração
criminosa das manifestações de crescente violência nas ruas o fato de que, como
se tem visto em São Paulo, os confrontos com a polícia são deliberadamente
provocados pelos próprios baderneiros, que têm sistematicamente descumprido os
acordos previamente estabelecidos com a polícia a respeito de percursos a serem
cumpridos, exigência óbvia de qualquer esquema de segurança pública.
O que se viu na quarta-feira
nas ruas de São Paulo e ontem em pleno recinto do Senado Federal – onde
baderneiros interromperam os trabalhos de uma comissão presidida pelo senador
Cristovam Buarque – são exemplos de que os movimentos “populares” estão a
transgredir de forma abusiva os limites estabelecidos pela lei. Pois não há
“direito” que justifique a violência nas ruas ou a ela sobreviva.
Se as autoridades responsáveis
– de modo especial o governador paulista, sempre hesitante nesse assunto – não
tiverem a coragem de adotar medidas duras, mas necessárias para impedi-la, essa
escalada da violência alimentada pelo ressentimento e pelo revanchismo colocará
em risco, real e imediato, as liberdades fundamentais dos cidadãos.
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