Gonzalo Guimaraens
A Espanha continua
politicamente à deriva. A Câmara de Deputados encontra-se de tal modo
fragmentada, que há oito meses tenta sem sucesso articular uma maioria para
eleger o chefe de governo. Os parlamentares têm fracassado na escolha do
primeiro-ministro do país, desde o Partido Popular (PP), de centro-direita,
passando pelo PSOE, socialista, até os novos partidos como “Ciudadanos” e
“Podemos”.
Um problema delicado consiste
em que tal fragmentação política parece estar contagiando os diferentes setores
da sociedade e acostumando-os com um governo acéfalo quase permanente. Por sua
vez, o Rei da Espanha — que, entre suas atribuições, detém o poder de convocar
os líderes políticos para formar o governo — tem fracassado em suas tentativas.
É o caso de ressaltar que, perdendo assim a sua razão de ser, o monarca está
ficando perigosamente à margem dos acontecimentos.
Vai tomando conta da população
um sentimento de irritação, impotência, frustração, cansaço e desinteresse pela
coisa pública. Até quando poderá se prolongar essa situação em uma nação da
importância da Espanha, para a qual continuam olhando os países
latino-americanos?
Estará a Espanha se
transformando em uma espécie de “laboratório experimental” para a América
Latina? Baseados em teorias sociológicas do caos, alguns dizem que a Espanha
estaria passando por um momento de mudança de paradigmas sociais e políticos, e
levantam hipóteses no sentido de que esse caos poderá fazer germinar novas
formas de governo e de sociedade.
Nesse sentido, o filósofo
chileno Fernando Flores, ex-ministro de Allende, entrevistado pelo jornalista
Héctor Aguilar Camin, faz uma interessante lista dos “estados de ânimo” suscitados
pelas crises profundas: estados de ânimo “conjunturais”,
referentes às mudanças sociais; estados de ânimo“fundacionais” de
novos tempos políticos ou econômicos; estados de ânimo “crepusculares” de
crises e desarticulações de países e regiões inteiras; e, por fim, os estados
de ânimo “sazonais”, aludindo às profundas mudanças de
paradigmas que dariam lugar a novas “civilizações”.
Na realidade, o receio é de
que os operadores sociais neo-revolucionários possam forjar de algum modo tais
estados de ânimo a partir dos bastidores, para empurrar Espanha e a América
Latina rumo a aventuras políticas, sociais e morais perigosas.
Título e Texto: Gonzalo Guimaraens, ABIM,
27-9-2016
Notas de “Destaque
Internacional”. Documento de trabalho, em 23 de setembro de 2016. Este texto
interativo, traduzido do original espanhol por Paulo Roberto Campos, pode ser divulgado livremente.
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