Reinaldo Azevedo
O texto é longo, mas vale a pena.
Imaginem se o PSOL fosse um partido grande como o PT... Do que seria capaz a
legenda?
Se há coisa de que gosto, é de
uma boa briga. Até o New York Times ameaça me fazer famoso por isso. Dizer o
quê?
No dia 5 de setembro de 2013,
publiquei aqui um post com um título gigantesco: “Um PT mixuruca,
com complexo de moralidade – Chefona do PSOL, aquela que insuflava greve armada
de PMs, confessa que tomou grana de sindicato para financiar a própria campanha
e o partido; ambos têm de ser cassados, segundo a lei. Agora vamos ouvir o que
têm a dizer o Caetano Veloso, o Chico Buarque e o Wagner Moura”.
Pois é… O PSOL é o partido que
recorreu à Justiça para tirar do site do MBL e do YouTube a campanha de
Fernando Holiday, que disputa uma vaga a vereador em São Paulo. A Justiça
concedeu uma liminar, amparando-se na lei que impede que entidades de personalidade
jurídica apoiem candidatos.
Só que a mesma lei proíbe que
sindicatos façam doações a partidos. E, obviamente, outras leis proíbem que
membros de partidos roubem os sindicatos. Vocês vão notar que até os aparelhos
que uso para indicar o mundo contemporâneo, há meros três anos, já são
obsoletos. Só o PSOL não muda. Desde que os pterodáctilos defecavam na cabeça
de outros seres primitivos.
Então leiam o que segue:
*
O preâmbulo, com os Varões de Plutarco
É claro que, no ambiente propriamente institucional, o PSOL não tem muita importância, embora conte com três figuras públicas que não hesitariam em pedir a própria canonização — materialista, é claro! São figuras muito apreciadas por setores da imprensa como expoentes da ética, da coerência e da moral inquebrantável. Refiro-me ao deputado federal Chico Alencar (RJ) e ao deputado estadual Marcelo Freixo (RJ), mais aclamado pelos socialistas do circuito Leblon-Copacabana-Ipanema do que biscoito na praia.
O preâmbulo, com os Varões de Plutarco
É claro que, no ambiente propriamente institucional, o PSOL não tem muita importância, embora conte com três figuras públicas que não hesitariam em pedir a própria canonização — materialista, é claro! São figuras muito apreciadas por setores da imprensa como expoentes da ética, da coerência e da moral inquebrantável. Refiro-me ao deputado federal Chico Alencar (RJ) e ao deputado estadual Marcelo Freixo (RJ), mais aclamado pelos socialistas do circuito Leblon-Copacabana-Ipanema do que biscoito na praia.
“Biscoito”, leitores do Rio, é
como a gente chama “polvilho” aqui em São Paulo… Freixo passou a ser o
queridinho do Chico Buarque, do Caetano Veloso e do Wagner Moura, três
profundos conhecedores do socialismo com liberdade. O trio forma, assim, o
“magister dixit” da sabedoria política.
O partido, reitero, é
irrelevante na esfera institucional, mas sabe, como é próprio das esquerdas,
velhas ou novas, multiplicar a sua força, aparelhando sindicatos de
trabalhadores, representações estudantis e movimentos populares. Parte da
bagunça que se tenta eternizar no Rio é obra do PSOL. O partido promoveu, por
exemplo, a ocupação da Câmara de Vereadores para impedir o funcionamento da CPI
dos Transportes. É que o PSOL acha que quase todos, com o próprio PSOL entre as
notáveis exceções, são corruptos.
Em São Paulo, o partido está
no comando do Sindicato dos Metroviários, volta e meia se metendo em ações de
caráter puramente político, a muitas estações distantes dos interesses da
categoria. Este é o preâmbulo em que apresento alguns Varões de Plutarco.
A narrativa
Muito bem! Por que essa longa introdução? Na terça passada, veio a público uma história meio enrolada. Dois ex-assessores da deputada estadual do Rio Janira Rocha foram presos, acusados de tentar extorquir R$ 1,5 milhão da parlamentar, que também presidia a Executiva Estadual do PSOL e liderava o partido na Assembleia Legislativa.
Muito bem! Por que essa longa introdução? Na terça passada, veio a público uma história meio enrolada. Dois ex-assessores da deputada estadual do Rio Janira Rocha foram presos, acusados de tentar extorquir R$ 1,5 milhão da parlamentar, que também presidia a Executiva Estadual do PSOL e liderava o partido na Assembleia Legislativa.
Marcos Paulo Alves e Cristiano
Ribeiro Valladão diziam ter gravações que comprovavam que Janira havia desviado
recursos do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho e Previdência Social
(Sindisprevi), do qual foi diretora financeira, antes de se afastar para
disputar uma vaga na Alerj, em 2010. O flagrante foi armado com a ajuda da
secretária estadual de Defesa do Consumidor, Cidinha Campos. Janira, boa
esquerdista, tomou as precauções na sua mímica de socialista incorruptível: já
havia alertado o Ministério Público de que estava sendo vítima de extorsão e
advertido o presidente da Alerj, Paulo Mello (PMDB).
Tudo muito bom, tudo muito bem…
Ocorre que a gravação que integra o dossiê dos dois que tentaram extorquir esta
expressão do “Socialismo com Liberdade” confirma que Janira, de fato, desviou
dinheiro do Sindsprevi/Rio com fins eleitorais e para ajudar a criar o PSOL.
VEJAM QUE COISA ORIGINAL, NUNCA ANTES FEITA NESTE PAÍS: DINHEIRO DE SINDICATO,
QUE DEVERIA ATENDER ÀS NECESSIDADES DOS ASSOCIADOS E DA BASE QUE REPRESENTA,
FOI USADO PARA PAGAR A CAMPANHA ELEITORAL DE POLÍTICOS DO PARTIDO E EM
BENEFÍCIO DA PRÓPRIA LEGENDA.
Como vocês sabem, o PSOL,
originalmente, é uma costela rebelde do PT, que se queria a autêntica esquerda.
Em certo sentido, havemos de convir, nada é mais autenticamente esquerdista do
que isso.
Prestem atenção a esta fala de
Janira, que está na fita, que ela diz ter sido editada — as desculpas dos
flagrados com a boca na botija não têm ideologia são sempre iguais:
“Nós sentamos lá nas finanças [do sindicato]. Pegamos o relatório do Conselho Fiscal e fomos atrás de todas as informações. O que foi e não foi. O que foi para a regional A, B C. Não tem nenhum companheiro de regional que tenha roubado nada, que tenha ficado com dinheiro. Tem companheiro que está levando pecha de coisas com o dinheiro. Mas ele nem ao menos chegou a ver o dinheiro. Ele assinou (que recebeu), mas o dinheiro foi usado para ações políticas que nós fizemos. Ou viajar de avião para o Acre é barato? Ou fazer eleição na Bahia é barato? Ou fundar o PSOL foi barato? Ou dar dinheiro para o movimento classista foi barato? Foi para ação política.”
“Nós sentamos lá nas finanças [do sindicato]. Pegamos o relatório do Conselho Fiscal e fomos atrás de todas as informações. O que foi e não foi. O que foi para a regional A, B C. Não tem nenhum companheiro de regional que tenha roubado nada, que tenha ficado com dinheiro. Tem companheiro que está levando pecha de coisas com o dinheiro. Mas ele nem ao menos chegou a ver o dinheiro. Ele assinou (que recebeu), mas o dinheiro foi usado para ações políticas que nós fizemos. Ou viajar de avião para o Acre é barato? Ou fazer eleição na Bahia é barato? Ou fundar o PSOL foi barato? Ou dar dinheiro para o movimento classista foi barato? Foi para ação política.”
Entenderam?
Ora, ora, ora… Enquanto escrevo este texto, o Jornal da Globo noticia que a
Samsung lançou o smartwatch, um relógio que recebe mensagem de texto, toca
música, tira fotografia, faz e recebe ligações telefônicas… Mas Janira? Ora,
Janira está ali, ocupada em explicar que tomar dinheiro do sindicato para
financiar campanha eleitoral e fundar o partido, afinal de contas, não é roubo.
Os companheiros, como ela diz,
não “roubam nada; foi tudo para ação política”. Enquanto o Google lança os
óculos inteligentes, Janira enxerga um futuro socialista, compreendem?, mas com
muita liberdade! Uma lei esdrúxula, bem anterior ao smartwatch, do tempo em que
os pterodáctilos cruzavam os céus, garante aos sindicatos a mamata do imposto
obrigatório. Lula, então presidente, manobrou para que o primitivismo fosse
mantido.
A deputada Janira, como vocês
podem perceber, está até um tanto indignada com falsas acusações. Ela não só
não vê mal nenhum na coisa toda como, tudo indica, considera muito natural. Mas
fiquem calmos aí, que a confissão vai ficar ainda mais explícita. Janira está
irritada porque membros do Conselho Fiscal do Sindicato estavam apurando se
havia irregularidades. Então ela afirma:
“Se o Cristiano não
intercepta o documento da Elba da Lagos (diretoria regional do Sindsprevi/Rio),
eu não estava mais aqui. A minha cassação estava garantida da forma como ela
respondeu. ‘Ah, eu fiz sim. Eu assinei que recebi o dinheiro, mas não vi o
dinheiro. Assinei a pedido de uma assessora da deputada Janira. Esse dinheiro
foi todo para a campanha da deputada Janira’. Qual é o problema? Todos sabem
que foi dinheiro para minha campanha, para a campanha do Jefferson, do Pierre…
O problema é ter um documento em papel timbrado de uma regional do sindicato de
que o dinheiro foi para a minha campanha.”
Retomo
Não sei quem é o tal “Cristiano”, mas, dá para perceber, trata-se de alguém que parece ter dado um jeitinho para esconder a falcatrua. Sim, ela recebeu mesmo, diz de peito aberto, mas não só ela: também o Jefferson (?), o Pierre (?)… A deputada acha tudo normal, necessário, quiçá revolucionário. Ela só não quer saber de papel timbrado. Isso não!
Não sei quem é o tal “Cristiano”, mas, dá para perceber, trata-se de alguém que parece ter dado um jeitinho para esconder a falcatrua. Sim, ela recebeu mesmo, diz de peito aberto, mas não só ela: também o Jefferson (?), o Pierre (?)… A deputada acha tudo normal, necessário, quiçá revolucionário. Ela só não quer saber de papel timbrado. Isso não!
Quando essa maravilha toda foi
gravada? Segundo Janira, trata-se de uma assembleia do Sindsprevi de 2012,
quando se discutia se as contas de sua gestão, entre 2007 e 2010, seriam ou não
aprovadas. Como herança, esta gigante da administração do socialismo com
liberdade deixou uma dívida com a Receita de R$ 8,3 milhões e empréstimos
contraídos com pessoas físicas (!!!) de R$ 1,3 milhão.
Na fita, ela faz uma síntese
espetacular da gestão da diretoria a que ela própria pertenceu:
“Nós fizemos merda! Contratamos uma porrada de gente para esse sindicato. O sindicato tem orçamento de R$ 1,5 milhão e temos R$ 800 mil de folha de pagamento. Pegamos dinheiro emprestado por fora das regras do mercado. Porque pegamos direto com agiota. O que temos que fazer? Tem roubo? Não tem roubo. Mas quem tá de fora não entende, não quer saber que é para ação política. Para eles, é merda, é golpe!”
“Nós fizemos merda! Contratamos uma porrada de gente para esse sindicato. O sindicato tem orçamento de R$ 1,5 milhão e temos R$ 800 mil de folha de pagamento. Pegamos dinheiro emprestado por fora das regras do mercado. Porque pegamos direto com agiota. O que temos que fazer? Tem roubo? Não tem roubo. Mas quem tá de fora não entende, não quer saber que é para ação política. Para eles, é merda, é golpe!”
Entendi. Está tudo muito claro.
Janira também retinha uma parte do salários pagos a assessores, mas sempre,
fica claro, para “fazer política”. Em outro trecho, este monumento moral alerta
que é preciso fraudar a prestação de contas do Sindsprevi. Literalmente: “A
gente pode botar no relatório que o dinheiro foi para atividades políticas,
mobilizadoras. Não pode dizer que foi para construção do PSOL. Para eleger deputado. Isso
não pode, isso é crime”.
Cassar Janira e o PSOL
Janira está certíssima numa coisa: trata-se mesmo da confissão de uma penca de crimes. Ela recebeu doação ilegal, de maneira confessa e inequívoca, o que resulta, segundo a lei, em cassação de mandato. Mas não só ela. Também o registro do PSOL, se a lei for cumprida, tem de ser cassado. Eu sei que o PSOL quer o socialismo e que não reconhece os valores dessa sociedade burguesa e coisa e tal. Tudo bem! Só que está estruturado como um partido, não é? Seus parlamentares ocupam lugar na institucionalidade, e a legenda recebe dinheiro do Fundo Partidário e dispõe de tempo na TV para os horários político e eleitoral gratuitos, o que também custa dinheiro público. Logo, é regido por leis, muito especialmente a 9.096, que trata dos partidos políticos. Assim, sou obrigado a lembrar a esses patriotas o que dispõe o Inciso IV do o Artigo 31 dessa lei:
Art. 31. É vedado ao partido receber, direta ou indiretamente, sob qualquer forma ou pretexto, contribuição ou auxílio pecuniário ou estimável em dinheiro, inclusive através de publicidade de qualquer espécie, procedente de:
(…)
Janira está certíssima numa coisa: trata-se mesmo da confissão de uma penca de crimes. Ela recebeu doação ilegal, de maneira confessa e inequívoca, o que resulta, segundo a lei, em cassação de mandato. Mas não só ela. Também o registro do PSOL, se a lei for cumprida, tem de ser cassado. Eu sei que o PSOL quer o socialismo e que não reconhece os valores dessa sociedade burguesa e coisa e tal. Tudo bem! Só que está estruturado como um partido, não é? Seus parlamentares ocupam lugar na institucionalidade, e a legenda recebe dinheiro do Fundo Partidário e dispõe de tempo na TV para os horários político e eleitoral gratuitos, o que também custa dinheiro público. Logo, é regido por leis, muito especialmente a 9.096, que trata dos partidos políticos. Assim, sou obrigado a lembrar a esses patriotas o que dispõe o Inciso IV do o Artigo 31 dessa lei:
Art. 31. É vedado ao partido receber, direta ou indiretamente, sob qualquer forma ou pretexto, contribuição ou auxílio pecuniário ou estimável em dinheiro, inclusive através de publicidade de qualquer espécie, procedente de:
(…)
IV – entidade de classe ou
sindical.
Combine-se o que vai acima com
o disposto no Inciso III do Artigo 28, e o PSOL tem de ter seu registro cassado:
Art. 28. O Tribunal Superior Eleitoral, após trânsito em julgado de decisão, determina o cancelamento do registro civil e do estatuto do partido contra o qual fique provado:
III – não ter prestado, nos termos desta Lei, as devidas contas à Justiça Eleitoral;
(…)
Art. 28. O Tribunal Superior Eleitoral, após trânsito em julgado de decisão, determina o cancelamento do registro civil e do estatuto do partido contra o qual fique provado:
III – não ter prestado, nos termos desta Lei, as devidas contas à Justiça Eleitoral;
(…)
Mas quem age? O Parágrafo 2º
do mesmo Artigo 28 define:
§ 2º O processo de cancelamento é iniciado pelo Tribunal à vista de denúncia de qualquer eleitor, de representante de partido, ou de representação do Procurador-Geral Eleitoral.
§ 2º O processo de cancelamento é iniciado pelo Tribunal à vista de denúncia de qualquer eleitor, de representante de partido, ou de representação do Procurador-Geral Eleitoral.
Assim, qualquer eleitor pode
fazer a denúncia. Mas espero que a Procuradoria-Geral Eleitoral se encarregue
de cumprir a sua tarefa. Afinal, a fala da deputada do PSOL, que veio a
público, não deixa a menor dúvida.
Conhecida do blog
A deputada Janira é uma velha conhecida deste blog. Escrevi dois posts sobre esta senhora quando, em 2012, ela atuou como uma insufladora de greves na Polícia Militar. Ela foi flagrada, então, numa articulação de uma greve nacional de policiais militares.
A deputada Janira é uma velha conhecida deste blog. Escrevi dois posts sobre esta senhora quando, em 2012, ela atuou como uma insufladora de greves na Polícia Militar. Ela foi flagrada, então, numa articulação de uma greve nacional de policiais militares.
Enquanto isso, a Samsung cria
smartwatch, e o Google, os óculos inteligentes. Nós vamos lidando aqui com
nossos pterodáctilos. Não pensem que o PT se financiou ou se financia de modo
muito diferente. Observem que até a moralidade é a mesma: quando o roubo se dá
em benefício da causa, então não se trata de roubo, mas de luta. Na festa da
CUT, o presidente da central recebeu os mensaleiros Delúbio Soares e José
Dirceu e declarou que tinha muto orgulho de tê-los lá.
O PSOL é só um PT mixuruca,
com complexo de superioridade moral e o apoio charmoso do Caetano, do Chico e
do Capitão Nascimento. Vai, Janira! Pede pra sair!
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, VEJA,
28-9-2016
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