Rodrigo Constantino
Sou grande admirador do
filósofo Luiz Felipe Pondé e não perco uma coluna sua às segundas na Folha.
Critiquei a postura dele na entrevista ao Roda Viva, quando disse preferir Jean Wyllys a Bolsonaro e algumas
outras escorregadas esquerdistas, mas continuo levando muito a sério o que ele
tem a dizer.
E hoje ele fez uma crítica
relevante a nós, da direita liberal. Uma crítica que eu mesmo já faço há algum
tempo: focamos demais na economia e não temos conseguido falar às emoções das
pessoas. Pondé defende uma direita mais “festiva”, algo que já tinha elaborado
num texto anterior, que comentei aqui.
Ele volta ao tema agora, com
mais contundência ainda. Primeiro Pondé provoca a direita dizendo que ela tem
que aprender a “pegar mais mulher”, ou seja, chegar ao coração feminino é uma
vantagem evolutiva que não se pode ignorar. Depois ele parte para o
aprofundamento dessa falha dos liberais:
Mas, há uma outra dificuldade
estrutural da direita liberal: só acredita em economia e não acredita em
ideias, por isso nunca investe nelas e considera um intelectual um animador de
festa e jantares. Acredita mesmo que tudo pode ser comprado e aí apanha da
esquerda, que tem uma visão mais abrangente do Sapiens, mesmo que a use para
mentir ou criar mundos absurdos. Falta à direita um repertório humanista, por
isso é meio tosca.
Isso pode parecer uma questão
de detalhe, mas não é. Claro que não se trata de uma regra geral, mas, diria,
se trata de um caso quase perdido. A direita liberal acha que o pragmatismo
econômico é a única forma de ação que existe no homem. Aqui já aparece sua
pobreza de espírito: deixa para a esquerda toda a rica reflexão acerca da
humanidade e do “cuidado” para com nosso sofrimento, agonia e inseguranças. A
falta de compreensão para com o sofrimento humano é uma das piores faces que a
direita liberal apresenta para o mundo. E isso cria a reserva do “mercado
humanista” para a esquerda.
A “mania econômica” da direita
liberal a cega para o fato que muito já se produziu em matéria de reflexão
sobre a humanidade ao longo dos séculos, e, com isso, condena os mais jovens às
inutilidades do humanismo raso da esquerda, nascido do ressentimento. Por
isso, essa direita será sempre incapaz de enfrentar a esquerda no plano das
ideias. Contará sempre com partidos fisiológicos para lidar com a
inquestionável hegemonia intelectual da esquerda no país. E nunca terá
interlocução no mundo da produção de conteúdo porque, exatamente, não acredita
na inteligência.
Esse talvez seja um dos
motivos que me levaram mais para o lado conservador do liberalismo. Sempre
achei que esses “conservadores de boa estirpe” tinham noção disso, eram mais
maduros, sabiam que não era possível focar apenas em economia como os “cabeças
de planilha” fazem. Era preciso ter “imaginação moral”, na expressão de Russell
Kirk.
Esse assunto já foi abordado
por mim aqui na resenha de The Conservative
Heart, de Arthur Brooks, do American Enterprise Institute. Em linhas
gerais, os liberais não podem achar que basta ter razão para vencer o debate.
Eles precisam saber embalar melhor a mensagem, colocar pitadas de emoções,
demonstrar mais sensibilidade. Caso contrário, a esquerda continuará com o
monopólio das virtudes, das boas intenções, apesar de toda a sua hipocrisia e
seu terrível histórico.
Se a direita liberal não mudar
nesse aspecto, veremos candidatos supostamente liberais falando que são também
de esquerda, pois se preocupam com os mais pobres. É isso que
precisa ser revertido. Os eleitores têm que associar a direita liberal com a
causa dos mais pobres, das minorias, de todos. E isso não será
feito somente com enfoque na economia, com argumentos racionais.
Não acreditem naquela máxima
do marqueteiro de Clinton, de que é a economia, estúpido. A esquerda não leva
isso a sério. Tanto que ignora os estragos que causa na economia e ainda assim
vence eleições, pois controla a cultura. A batalha é moral, cultural, acima de
tudo, e temos que chegar não apenas nas mentes, mas também nos corações do
nosso público potencial.
Título, Imagem e Texto: Rodrigo Constantino, 19-9-2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não aceitamos/não publicamos comentários anônimos.
Se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-