Não conheci um único americano que veja
em Hillary Clinton as qualidades para ser presidente deste país; ela é citada
como “a opção menos pior” por alguns
Flavio Quintela
Eu gosto de conversar com as
pessoas. Podem me chamar de chato, mas puxo conversa na fila do mercado, no
avião, na sala de espera, no táxi, na reunião de condomínio etc. Nesses últimos
tempos, marcados pela proximidade da eleição para presidente, tento sempre
abordar o assunto e tentar descobrir o que as pessoas comuns pensam a respeito
de Donald Trump e Hillary Clinton. E o que tenho visto pode ser resumido em
três afirmações básicas: a pessoa declara voto para o Trump porque gosta dele
ou porque não suporta mais “os políticos de sempre”; a pessoa não gosta de
nenhum dos dois, mas acha o Trump louco demais para ser presidente; ou a pessoa
não gosta de nenhum dos dois, mas acha a Hillary criminosa demais para ser
presidente.
Tive a sorte, em minhas
incursões conversativas, de nunca topar com um democrata radical (o equivalente
americano dos petistas), daqueles que amam Hillary apesar de tudo de ruim que
ela representa. Pode parecer mentira, mas não conheci um único americano que
veja em Hillary Clinton as qualidades para ser presidente deste país; ela é
citada como “a opção menos pior” por alguns.
Depois de terminado o primeiro
debate presidencial, na segunda-feira, li inúmeras análises que davam a Hillary
a vitória. A mídia televisiva norte-americana chegou a mostrar um certo
alvoroço pelo desempenho de sua candidata preferida, e muitos comentaristas
isentos ou apoiadores de Trump seguiram pela mesma linha de raciocínio. Para
mim – e para alguns outros poucos analistas –, Trump saiu vitorioso do debate
justamente por ter mostrado que não é o louco-racista-misógino que Hillary
vinha exibindo em sua propaganda eleitoral. Trump mostrou que não passa de um
homem normal; profissionalmente, um empresário de sucesso com pouca atuação
política. Enfim, alguém de fora do establishment, com uma postura muito
mais de pessoa comum do que a robotizada Clinton, com seu sorriso falso sempre
presente. Enquanto ele mostrava indignação diante das mentiras de Hillary, ela
ria em tom de deboche de tudo o que ele falava – o tipo de atitude que os
americanos não esperam de um presidente.
Mas será que os debates
realmente terão um papel fundamental na eleição do próximo presidente
americano? Será que as propagandas eleitorais mudarão o voto dos indecisos?
Será que as pesquisas de intenção tirarão os preguiçosos de casa para votar
contra o candidato que acham inaceitável para governar o país? De acordo com o
professor Helmut Norpoth, da Stony Brook University, não. Norpoth é o
desenvolvedor de um método preditivo que acertou o resultado das eleições
presidenciais dos últimos 20 anos. O Modelo das Primárias, como ele o chama, é
um método analítico que, ao ser aplicado a todas as eleições presidenciais
americanas desde 1912, produz apenas um resultado errado (nas eleições de 1960)
e acerta todos os outros. Ele se baseia em dois fatores principais – o
movimento do pêndulo eleitoral e o resultado das primárias – para prever quem
será o candidato vencedor. Em 2012, Norpoth aplicou seu método e previu a
reeleição de Barack Obama; em 2016, ele mostra que o legado de Obama foi
insuficiente para suscitar o desejo de “quero mais” na população. O pêndulo se
moveu, e os democratas não têm mais o momento favorável. Em outras palavras, as
eleições americanas têm um caráter plebiscitário, justamente por acontecerem
dentro de um modelo marcado pelo bipartidarismo: se A foi bem, A recebe uma
nova chance; se A não foi bem, é hora de trocar para B. E vice-versa.
Assim, a não ser que um
escândalo de proporções lulopetísticas morda o calcanhar de Trump, o candidato
republicano tem quase 90% de chance de ser o 45.º presidente dos Estados
Unidos. Seria o primeiro a nunca ter ocupado um cargo eletivo ou uma posição de
comando nas Forças Armadas. Aos que ainda acham loucura colocá-lo na cadeira
mais importante do mundo, vale lembrar que insanidade é fazer as coisas da mesma
maneira e esperar resultados diferentes. Espero que os americanos não refutem o
método do professor Norpoth justamente nesta eleição, e mostrem que ainda são
um povo bom da cabeça.
Título e Texto: Flavio Quintela, Gazeta
do Povo, 29-9-2016
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