domingo, 8 de janeiro de 2017

Chorar mais por criminosos que pelas vítimas pode ser mais cruel que bradar “bandido bom é bandido morto”

Luciano Ayan

Embora possamos discordar de Janaína Paschoal numa coisa ou outra, ela normalmente é coerente e sensata no que diz.

Sobre as manifestações pedindo morte de bandidos, ela afirma: “A vítima, o acusado, o preso, o policial, os familiares da vítima e do preso… Todos têm direitos fundamentais. Parem de particularizar! Estou profundamente triste com tudo que li e ouvi, entre ontem e hoje. Volto logo mais para explicar. Mas, por favor, reflitam se não estamos rumando à barbárie. Os direitos fundamentais são de TODOS!”.

É preciso separar as coisas, embora ela esteja correta, em termos. Claro que sair pedindo o extermínio de criminosos é uma barbárie. É assim que muitos inocentes são assassinados. É para evitar tal injustiça que serve o Estado de Direito. Até aqui, sem discordâncias.

Mas falta dizer algo adicional – que não discorda da opinião de Janaína, mas a complementa – sobre um padrão que podemos mapear: compreensão dos atos imorais a partir de atenuante.  Isso significa que mesmo que possamos reconhecer um ato como imoral, igualmente compreendemos que há atenuantes para quem o pratique. Por exemplo, a extrema-esquerda faz isso com os criminosos violentos.

Observe o padrão:
·  “Ele estuprou a mulher, mas ele também é uma vítima da sociedade”
· “Ele assaltou o morador, mas quem é você para jogar a primeira pedra? Será que o ‘acusado’ não sofreu na vida também?”

Nesse modelo de narrativa, as sentenças reconhecem e condenam os crimes mas, em parte, os justificam. Essa é a narrativa padrão da extrema-esquerda sobre os crimes violentos.

Mas o padrão narrativo da compreensão dos atos imorais a partir de atenuante pode e deve ser utilizada de forma muito mais justa para explicar comportamentos de potenciais vítimas de crime. 

Veja:

· “Ele disse que ‘bandido bom é bandido morto’, mas ele também é vítima potencial de crimes, e vive com medo”
· “Ele afirmou que ‘deveriam morrer mais’ bandidos nos massacres dos presídios, mas quem é você para jogar a primeira pedra? Será que essa pessoa não sofreu violência de criminosos na vida também?”.

Assim, não precisamos (e não devemos) julgar como corretas as declarações que pedem “bandido bom é bandido morto” ou “tomara que morram mais bandidos nas prisões”. Mas mesmo que julguemos as declarações como moralmente falhas, podemos podemos aplicar o padrão compreensão dos atos imorais a partir de atenuante para quem fornece tais declarações. A partir daí, basta utilizarmos a empatia para tentar compreender os motivos daqueles que estão pedindo o extermínio de criminosos.

A problematização é: por que apenas os criminosos violentos devem ser beneficiados com a aplicação do padrão compreensão dos atos imorais a partir de atenuante?

Isso nos leva a outro questionamento, igualmente muito justo: no momento de chorar mais pelos criminosos do que pelas vítimas inocentes – como fez a mídia – não está sendo praticada uma crueldade com a maior parte da população que tem sido vítima de crimes? Será que os longos minutos dedicados pela grande mídia – sempre colocando seus jornalistas para encerar expressões pesarosas, quando no fundo muitos riam por dentro ou ao menos manifestavam alívio – para “chorar” pelos bandidos mortos não servirá para inflamar a maior parte da população que se sentiu desprezada e humilhada ao ver que os bandidos merecem mais “choro” que as vítimas?

Essa é outra problematização inevitável. Assim, é preciso compreender de forma humanitária aqueles que estão pedindo “bandido bom é bandido morto”. O sofrimento dessas pessoas nas mãos de bandidos – ou ao menos o medo de que isso aconteça – não pode ser ignorado. Oprimir as vítimas (ou potenciais vítimas) que se manifestam de modo inflamado contra os criminosos violentos é a maior das desumanidades.
Título e Texto: Luciano Ayan, Ceticismo Político, 8-1-2017

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