Luciano Ayan
Embora possamos discordar de
Janaína Paschoal numa coisa ou outra, ela normalmente é coerente e sensata no
que diz.
Sobre as manifestações pedindo
morte de bandidos, ela afirma: “A vítima, o acusado, o preso, o policial, os
familiares da vítima e do preso… Todos têm direitos fundamentais. Parem de
particularizar! Estou profundamente triste com tudo que li e ouvi, entre
ontem e hoje. Volto logo mais para explicar. Mas, por favor, reflitam se
não estamos rumando à barbárie. Os direitos fundamentais são de TODOS!”.
É preciso separar as coisas,
embora ela esteja correta, em termos. Claro que sair pedindo o extermínio de
criminosos é uma barbárie. É assim que muitos inocentes são assassinados. É
para evitar tal injustiça que serve o Estado de Direito. Até aqui, sem
discordâncias.
Mas falta dizer algo adicional
– que não discorda da opinião de Janaína, mas a complementa – sobre um padrão
que podemos mapear: compreensão dos atos imorais a partir
de atenuante. Isso significa que mesmo que possamos reconhecer
um ato como imoral, igualmente compreendemos que há atenuantes para quem o
pratique. Por exemplo, a extrema-esquerda faz isso com os criminosos violentos.
Observe o padrão:
· “Ele estuprou a mulher, mas ele também é uma
vítima da sociedade”
· “Ele assaltou o morador, mas quem é você para
jogar a primeira pedra? Será que o ‘acusado’ não sofreu na vida também?”
Nesse modelo de narrativa, as sentenças
reconhecem e condenam os crimes mas, em parte, os justificam. Essa é a
narrativa padrão da extrema-esquerda sobre os crimes violentos.
Mas o padrão narrativo
da compreensão dos atos imorais a partir de atenuante pode
e deve ser utilizada de forma muito mais justa para explicar comportamentos de
potenciais vítimas de crime.
Veja:
· “Ele disse que ‘bandido bom é bandido morto’,
mas ele também é vítima potencial de crimes, e vive com medo”
· “Ele afirmou que ‘deveriam morrer mais’ bandidos
nos massacres dos presídios, mas quem é você para jogar a primeira pedra? Será
que essa pessoa não sofreu violência de criminosos na vida também?”.
Assim, não precisamos (e não
devemos) julgar como corretas as declarações que pedem “bandido bom é bandido
morto” ou “tomara que morram mais bandidos nas prisões”. Mas mesmo que
julguemos as declarações como moralmente falhas, podemos podemos aplicar o
padrão compreensão dos atos imorais a partir de atenuante para
quem fornece tais declarações. A partir daí, basta utilizarmos a empatia para
tentar compreender os motivos daqueles que estão pedindo o extermínio de
criminosos.
A problematização é: por que
apenas os criminosos violentos devem ser beneficiados com a aplicação do
padrão compreensão dos atos imorais a partir de atenuante?
Isso nos leva a outro
questionamento, igualmente muito justo: no momento de chorar mais pelos
criminosos do que pelas vítimas inocentes – como fez a mídia – não está sendo
praticada uma crueldade com a maior parte da população que tem sido vítima de crimes?
Será que os longos minutos dedicados pela grande mídia – sempre colocando seus
jornalistas para encerar expressões pesarosas, quando no fundo muitos riam por
dentro ou ao menos manifestavam alívio – para “chorar” pelos bandidos mortos
não servirá para inflamar a maior parte da população que se sentiu desprezada e
humilhada ao ver que os bandidos merecem mais “choro” que as vítimas?
Essa é outra problematização
inevitável. Assim, é preciso compreender de forma humanitária aqueles que estão
pedindo “bandido bom é bandido morto”. O sofrimento dessas pessoas nas mãos de
bandidos – ou ao menos o medo de que isso aconteça – não pode ser ignorado.
Oprimir as vítimas (ou potenciais vítimas) que se manifestam de modo inflamado
contra os criminosos violentos é a maior das desumanidades.
Título e Texto:
Luciano Ayan, Ceticismo Político, 8-1-2017
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