terça-feira, 29 de outubro de 2019

Partidos desesperados para dar nas vistas

A extrema-esquerda vota orçamentos de Estado aprovados em Bruxelas e acha os pobres racistas. Não fossem as saias e o ódio à bandeira, como se distinguiriam esses deputados de um qualquer socialista?


Rui Ramos

Uma das maiores partidas que Salazar pregou às esquerdas foi não se ter deixado sepultar no Mosteiro dos Jerónimos. Imaginem a alegria que agora teriam as esquerdas, se pudessem dividir o país, como fizeram os seus correligionários do outro lado da fronteira, com a profanação do túmulo do general Franco. Em vez disso, resta-lhes pôr saias nos assessores nascidos com o sexo masculino (é assim que se deve dizer?), e esperar que dê fotos na imprensa e comentários nas redes sociais. Para além das saias, há a bandeira da República Portuguesa. Em 1910, para marcar a ruptura de regime, os antepassados carbonários da extrema-esquerda insistiram numa nova bandeira, com as cores da revolução. E é essa mesma bandeira que o esquerdismo, depois de a ter imposto ao país, agora acha “imperialista”, pelo menos na opinião dos fãs da deputada do Livre.

Em 1910, os revolucionários mudaram as cores da bandeira e eliminaram a coroa. No entanto, mantiveram as armas nacionais e adicionaram-lhes a esfera armilar. A ideia era ainda anexar a história que a bandeira contava. A extrema-esquerda de hoje, porém, não gosta dessa história. Todo o passado português lhe parece criminoso. Gostaria, por isso, de o apagar. Nada disto, aliás, é muito original. Decorre, de maneira muito pedestre, da colonização das universidades portuguesas pelo radicalismo acadêmico americano.

Pensarão: mas não é isto um erro, que só pode hostilizar e ser estranhado pela maioria dos portugueses? Não é, porque esta extrema-esquerda não aspira a persuadir maiorias. O que lhe importa são umas dezenas de milhares de votos, sobretudo em Lisboa, que lhe sirvam para aceder aos subsídios do Estado. Esta, de resto, já não é a extrema-esquerda do COPCON, mas de António Costa, isto é, mais um alicerce do domínio do PS. Vota orçamentos de Estado aprovados em Bruxelas e acha os pobres racistas. Não fossem as saias e o ódio à bandeira, como se distinguiria um deputado de extrema-esquerda de um qualquer deputado socialista?

No outro extremo, a vida parece mais fácil. Bem sei que é costume haver muitas queixas em Portugal sobre a injustiça com que a direita é tratada (por mais democrática, é sempre fascista; por mais filantrópica, é sempre racista). Mas quando o que interessa, como no caso do Chega, é a fama de ruptura e de iconoclastia, essa tradicional má vontade contra a direita é muito útil. Pensem em André Ventura. O novo deputado não precisa de truques de indumentária nem sequer de grandes guerras simbólicas para passar por radical e perigoso. Pelo contrário, pode até permitir-se o luxo da moderação, como numa entrevista de ontem.

Que disse Ventura? Que se recusa a falar com a Alternativa para a Alemanha, que considera “um partido ridículo, extremista e desumano”; que pretende ser uma muralha contra esse tipo de extremismo em Portugal; e que quer que a deputada do Livre tenha mais tempo para falar do que os outros, porque “nós temos de ser tolerantes”. Eis a face hedionda do fascismo português. Eis a propostas tremendas que fazem os porteiros do regime exigir que na Escola Prática de Cavalaria de Santarém os Chaimites estejam de motores ligados, prontos a arrancar para Lisboa ao primeiro sinal de que Ventura vai obrigar mais um deputado do CDS a levantar-se. André Ventura poderia até dormir durante todas as sessões da próxima legislatura, confiante em que os deputados seus colegas nunca se esquecerão de o lembrar ao povo como uma opção para todos os que estiverem frustrados com o regime. Com que inveja deve a extrema-esquerda parlamentar, do BE e do Livre, olhar para o Chega.
Título e Texto: Rui Ramos, Observador, 29-10-2019

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