sábado, 2 de abril de 2011

O que Merkel não sabe sobre Sócrates

Foto: Wolfgang Kumm/EPA

Revista Sábado
José Sócrates não consegue viver sem inimigos. Depois do Presidente da República, do PSD, dos “mercados” e do FMI, esta semana arranjou um novo: os jornalistas que têm a impertinência de fazer perguntas sobre a crise. Na conferência de imprensa que deu no fim do Conselho Europeu, levantou o dedo, bateu com a mão na mesa e acusou os repórteres que o questionavam de estarem “do lado dos especuladores” e de “pretenderem apenas enfraquecer a posição portuguesa”.
Se este exercício delirante de autoritarismo fosse feito apenas em São Bento, não haveria grandes problemas, uma vez que os portugueses já se habituaram a dar-lhe uma importância relativa. Mas, desta vez, estavam na audiência jornalistas estrangeiros, que seguramente tomarão este comportamento exótico como mais uma demonstração de fraqueza de um Governo que está a esgotar a sua capacidade de resistência.
O ministro das Finanças também tem ajudado a criar essa imagem de desespero. Depois de ter passado os últimos anos a garantir que os contribuintes portugueses não pagariam 1 cêntimo por causa do BPN, admitiu agora que, afinal, é preciso cobrar um buraco de 2 mil milhões de euros. Não o fez num ataque súbito de sinceridade – fê-lo pressionado pelo Eurostat, que, por causa de truques como este, obrigará Portugal a rever a previsão do défice. Além do BPN, os prejuízos das empresas públicas de transporte levarão esse valor para 8%, sendo que o Governo tinha falado em 7,3% e, depois de uma execução orçamental “extraordinária”, reduziu esse valor para uns surpreendentes 6,9%.
Como se vê, a coleção de inimigos imaginário do Governo não para de crescer. O mais desejado, porém, ainda terá de esperar: Para já, tem que lhe obedecer, mas se a chanceler Merkel continuar a ser derrotada nas eleições no seu país e a perder força política. José Sócrates não hesitará em juntá-la à lista de aliados do FMI.
Editorial, Sábado, nº 361, 31 de março a 6 de abril de 2011
Digitação e Edição: JP

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