Os líderes europeus estão numa encruzilhada: ou se unem para afastar o
risco que paira sobre sua moeda ou terão que voltar às suas antigas moedas e
partirem para um tática de cada um por si.
![]() |
Homem alimenta pombos em Milão. Foto: Luca Bruno /AP/Washington Post
|
Howard Schneider – Tradução de Francisco Vianna
A Europa pode estar
escorregando para uma “profunda e prolongada recessão” na medida em que as
dívidas governamentais alcançam altos patamares e começa a ocorrer a paralisia
de um mercado financeiro em apuros, num ciclo perigoso de queda, conforme disse
a Comissão Européia (CE) na quinta feira de ontem.
O crescimento já estagnou em
toda a região da zona do euro, uma zona econômica importante que inclui
dezessete países que usam a mesma moeda, o euro, bem como outras, como a Grã
Bretanha, que não o usam.
Os mercados estabilizaram na
quinta-feira de ontem depois que a Grécia concordou afinal sobrem quem será o
novo primeiro ministro helênico e a Itália prometeu reformas do tipo ‘fast track’, especulando sobre um novo
primeiro ministro tecnocrata, já em andamento. As ações do tesouro italiano
caíram a níveis perigosos, com o país latino sendo considerado como a ‘bola da
vez’. (Nov. 10)
A CE reviu sua perspectiva de
crescimento para a região e diminuiu-a em meros 0,6 por cento, mas disse que
havia uma alta probabilidade de que o crescimento poderá lentificar ainda mais.
Como a Grécia e a Itália
continuam tendo problemas de crise de lideranças, o relatório da CE ofereceu
uma análise pontual da profundidade do dilema econômico que a Europa enfrenta e
o custo potencial para a economia mundial. Os problemas da região tornaram-se
autopropulsores — com fracas finanças governamentais, bancos fracos, e demanda
privada fraca, tudo alimentando o agravamento da situação entre si, e uma
resposta política mais fraca ainda, que, até o momento tem sido incapaz de
barrar a queda.
Sem controle, uma lentificação
ou uma nova recessão na Europa ameaçaria o resto do mundo através de numerosos
canais. O fluxo de importações e exportações com os principais parceiros
comerciais, como os EUA, por exemplo, já está caindo. O nível dos investimentos
em economias européias de crescimento rápido poderá secar, rebaixando os preços
dos produtos de uma parte da região que tem tido um desempenho de ponta. A
China e outros países asiáticos perderiam clientes importantes e as falências
bancárias poderão acrescentar impacto sob as mais amplas e inesperadas
maneiras.
O mercado de ações global
reagiu modestamente à sinistra previsão. O câmbio europeu foi largamente
estável. Os índices americanos mostraram uma recuperação de uma quarta feira de
vendas exageradas provocada pelas preocupações com a condição financeira da
Itália.
Diversos desdobramentos
ajudaram a acalmar os mercados. A Grécia indicou o economista Lucas Papademos
como primeiro ministro de unidade governamental, a qual está sendo costurada
para manter um socorro financeiro internacional cujo programa já está nos
trilhos. E a Itália providenciou a indicação do político Mario Monti para
dirigir um governo interino voltado para acelerar a reforma econômica.
Os papéis italianos caíram
levemente após terem dado um salto de mais de 7 por cento, na quarta feira de
ontem. Os analistas financeiros interpretaram essa queda nas taxas como uma
evidência de que o Banco Central Europeu (BCE) tinha ampliado suas compras de
ações italianas num esforço para manter em baixa os custos de empréstimos no
país.
Mas isto pode ser apenas uma
ilusão. Tanto faz uma Itália altamente devedora como uma Finlândia com dívida
frugal, os países europeus irão ter agora que lutar para aparar seus déficits
governamentais – criados essencialmente pela própria natureza assistencialista
dos estados, principalmente os socialistas –, além de tentar fortificar seus
sistemas bancários numa economia cada vez mais desafiadora.
Mesmo um modesto crescimento
pode ajudar a aliviar a carga da dívida de um país, espalhando a carga sobre
uma base econômica mais ampla e provendo receitas tributárias maiores que
possam reduzir a necessidade de empréstimos. Mas, a estagnação – ou pior, uma
contração econômica sem controle — poderá tornar mais difícil mesmo para os
países com melhor desempenho manter seus orçamentos governamentais em curso,
manter seus bancos saudáveis e evitar outros picos de alta nas taxas de
desemprego na Europa.
A Mia recente observação da CE
enfatizou que não existe paraíso seguro a partir da lentificação do crescimento
e economia. Quando cai o investimento, cai o trabalho, e isso atinge igualmente
a todos, os mais ricos e os mais pobres. Mesmo os mais fortes da vasta zona
econômica do euro, França e Alemanha, sofrerão com uma recessão de apenas 1 por
cento em 2012, uma queda da atividade econômica maior do que a projetada na
última primavera pela CE. O crescimento “é crítico, quer a crise se
intensifique ou haja espaço para respirar”, disse David Bowers, diretor gerente
da Consultoria Estratégia Absoluta, com base em Londres. “Antes que esta crise
termine, vai-se precisar de um discurso de crescimento”.
O relatório da CE ofereceu uma
alongada descrição de como os problemas da Europa se desenvolveram desde as
preocupações iniciais, há dois anos, com os altos níveis de endividamento
governamentais socialistas da Grécia até a emergência de uma crise plena de
confiança que pôs o núcleo econômico da Europa em risco de um colapso. Tal situação
tem levado a mudanças políticas cruciais e progressivas dentro da zona do euro,
com os líderes sendo instados a abandonarem suas práticas socialistas de
“distribuição de dinheiro” e de capitalismo de estado, tal como fez a alemã
Angela Merkel ao pressionar nações membros como a Grécia, Itália, Espanha e
Portugal, fortemente afetadas pelo ‘socialismo’ e pelo capitalismo estatal, a
proceder suas respectivas reformas político-econômicas. A crise tem também
aumentado as tensões entre a zona do euro e dez outros países membros da EU que
não adotaram a moeda da zona e que agora se sentem ameaçadas.
O Primeiro Ministro Britânico,
David Cameron, pisou em terreno sensitivo na terça feira de anteontem quando
urgiu que as nações da eurozona deixassem que o BCE adotasse uma abordagem mais
direta para estimular o crescimento e manter as finanças do governo da Itália e
de outras nações estáveis. As autoridades alemãs têm insistido em que o banco
permaneça focado quase que exclusivamente em combater a inflação.
Outros principais bancos
centrais, inclusive o FED dos EUA e o Banco da Inglaterra, exercem um papel
mais amplo no apoio à sanidade econômica. Muitos analistas dizem que um papel
mais ativo por parte do BCE é a única maneira segura de solucionar os problemas
Europeus da eurozona. “Caso os líderes da eurozona queiram salvar sua moeda,
terão que, juntamente com as instituições da eurozona, agir já e agora”, disse
Cameron em um discurso pronunciado em Londres. “Quanto mais se atrasarem, maior
será o perigo”.
Para a França, a segunda maior
economia da eurozona, um crescimento mais lento significa que provavelmente o
país errará o alvo das reduções de déficits governamentais e precisará de uma
“vigilância cada vez mais acurada” com relação aos gastos públicos, na medida
em que sua importante dívida pública ultrapassar os 90 por cento do PIB anual.
O custo securitário da dívida francesa contra o calote cresceu na quinta feira
de ontem, apesar dos líderes políticos franceses terem dito que estarão
engajados numa luta incessante para que seu país consiga reter a gradação de
crédito AAA. Analistas têm dito que há sinais de deterioração financeira na
França que provavelmente fariam com que as autoridades alemãs reconsiderem suas
opiniões a respeito o papel apropriado do BCE.
Howard Schneider, Tradução de Francisco Vianna, The Washington Post, 11-11-2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-