sexta-feira, 11 de novembro de 2011

"Europa caminha para a recessão", diz a Comissão Europeia

Os líderes europeus estão numa encruzilhada: ou se unem para afastar o risco que paira sobre sua moeda ou terão que voltar às suas antigas moedas e partirem para um tática de cada um por si.

Homem alimenta pombos em Milão. Foto: Luca Bruno /AP/Washington Post
Howard Schneider – Tradução de Francisco Vianna

A Europa pode estar escorregando para uma “profunda e prolongada recessão” na medida em que as dívidas governamentais alcançam altos patamares e começa a ocorrer a paralisia de um mercado financeiro em apuros, num ciclo perigoso de queda, conforme disse a Comissão Européia (CE) na quinta feira de ontem.

O crescimento já estagnou em toda a região da zona do euro, uma zona econômica importante que inclui dezessete países que usam a mesma moeda, o euro, bem como outras, como a Grã Bretanha, que não o usam.

Os mercados estabilizaram na quinta-feira de ontem depois que a Grécia concordou afinal sobrem quem será o novo primeiro ministro helênico e a Itália prometeu reformas do tipo ‘fast track’, especulando sobre um novo primeiro ministro tecnocrata, já em andamento. As ações do tesouro italiano caíram a níveis perigosos, com o país latino sendo considerado como a ‘bola da vez’. (Nov. 10)

A CE reviu sua perspectiva de crescimento para a região e diminuiu-a em meros 0,6 por cento, mas disse que havia uma alta probabilidade de que o crescimento poderá lentificar ainda mais.

Como a Grécia e a Itália continuam tendo problemas de crise de lideranças, o relatório da CE ofereceu uma análise pontual da profundidade do dilema econômico que a Europa enfrenta e o custo potencial para a economia mundial. Os problemas da região tornaram-se autopropulsores — com fracas finanças governamentais, bancos fracos, e demanda privada fraca, tudo alimentando o agravamento da situação entre si, e uma resposta política mais fraca ainda, que, até o momento tem sido incapaz de barrar a queda.

Sem controle, uma lentificação ou uma nova recessão na Europa ameaçaria o resto do mundo através de numerosos canais. O fluxo de importações e exportações com os principais parceiros comerciais, como os EUA, por exemplo, já está caindo. O nível dos investimentos em economias européias de crescimento rápido poderá secar, rebaixando os preços dos produtos de uma parte da região que tem tido um desempenho de ponta. A China e outros países asiáticos perderiam clientes importantes e as falências bancárias poderão acrescentar impacto sob as mais amplas e inesperadas maneiras.

O mercado de ações global reagiu modestamente à sinistra previsão. O câmbio europeu foi largamente estável. Os índices americanos mostraram uma recuperação de uma quarta feira de vendas exageradas provocada pelas preocupações com a condição financeira da Itália.

Diversos desdobramentos ajudaram a acalmar os mercados. A Grécia indicou o economista Lucas Papademos como primeiro ministro de unidade governamental, a qual está sendo costurada para manter um socorro financeiro internacional cujo programa já está nos trilhos. E a Itália providenciou a indicação do político Mario Monti para dirigir um governo interino voltado para acelerar a reforma econômica.

Os papéis italianos caíram levemente após terem dado um salto de mais de 7 por cento, na quarta feira de ontem. Os analistas financeiros interpretaram essa queda nas taxas como uma evidência de que o Banco Central Europeu (BCE) tinha ampliado suas compras de ações italianas num esforço para manter em baixa os custos de empréstimos no país.

Mas isto pode ser apenas uma ilusão. Tanto faz uma Itália altamente devedora como uma Finlândia com dívida frugal, os países europeus irão ter agora que lutar para aparar seus déficits governamentais – criados essencialmente pela própria natureza assistencialista dos estados, principalmente os socialistas –, além de tentar fortificar seus sistemas bancários numa economia cada vez mais desafiadora.

Mesmo um modesto crescimento pode ajudar a aliviar a carga da dívida de um país, espalhando a carga sobre uma base econômica mais ampla e provendo receitas tributárias maiores que possam reduzir a necessidade de empréstimos. Mas, a estagnação – ou pior, uma contração econômica sem controle — poderá tornar mais difícil mesmo para os países com melhor desempenho manter seus orçamentos governamentais em curso, manter seus bancos saudáveis e evitar outros picos de alta nas taxas de desemprego na Europa.

A Mia recente observação da CE enfatizou que não existe paraíso seguro a partir da lentificação do crescimento e economia. Quando cai o investimento, cai o trabalho, e isso atinge igualmente a todos, os mais ricos e os mais pobres. Mesmo os mais fortes da vasta zona econômica do euro, França e Alemanha, sofrerão com uma recessão de apenas 1 por cento em 2012, uma queda da atividade econômica maior do que a projetada na última primavera pela CE. O crescimento “é crítico, quer a crise se intensifique ou haja espaço para respirar”, disse David Bowers, diretor gerente da Consultoria Estratégia Absoluta, com base em Londres. “Antes que esta crise termine, vai-se precisar de um discurso de crescimento”.

O relatório da CE ofereceu uma alongada descrição de como os problemas da Europa se desenvolveram desde as preocupações iniciais, há dois anos, com os altos níveis de endividamento governamentais socialistas da Grécia até a emergência de uma crise plena de confiança que pôs o núcleo econômico da Europa em risco de um colapso. Tal situação tem levado a mudanças políticas cruciais e progressivas dentro da zona do euro, com os líderes sendo instados a abandonarem suas práticas socialistas de “distribuição de dinheiro” e de capitalismo de estado, tal como fez a alemã Angela Merkel ao pressionar nações membros como a Grécia, Itália, Espanha e Portugal, fortemente afetadas pelo ‘socialismo’ e pelo capitalismo estatal, a proceder suas respectivas reformas político-econômicas. A crise tem também aumentado as tensões entre a zona do euro e dez outros países membros da EU que não adotaram a moeda da zona e que agora se sentem ameaçadas.

O Primeiro Ministro Britânico, David Cameron, pisou em terreno sensitivo na terça feira de anteontem quando urgiu que as nações da eurozona deixassem que o BCE adotasse uma abordagem mais direta para estimular o crescimento e manter as finanças do governo da Itália e de outras nações estáveis. As autoridades alemãs têm insistido em que o banco permaneça focado quase que exclusivamente em combater a inflação.

Outros principais bancos centrais, inclusive o FED dos EUA e o Banco da Inglaterra, exercem um papel mais amplo no apoio à sanidade econômica. Muitos analistas dizem que um papel mais ativo por parte do BCE é a única maneira segura de solucionar os problemas Europeus da eurozona. “Caso os líderes da eurozona queiram salvar sua moeda, terão que, juntamente com as instituições da eurozona, agir já e agora”, disse Cameron em um discurso pronunciado em Londres. “Quanto mais se atrasarem, maior será o perigo”.

Para a França, a segunda maior economia da eurozona, um crescimento mais lento significa que provavelmente o país errará o alvo das reduções de déficits governamentais e precisará de uma “vigilância cada vez mais acurada” com relação aos gastos públicos, na medida em que sua importante dívida pública ultrapassar os 90 por cento do PIB anual. O custo securitário da dívida francesa contra o calote cresceu na quinta feira de ontem, apesar dos líderes políticos franceses terem dito que estarão engajados numa luta incessante para que seu país consiga reter a gradação de crédito AAA. Analistas têm dito que há sinais de deterioração financeira na França que provavelmente fariam com que as autoridades alemãs reconsiderem suas opiniões a respeito o papel apropriado do BCE.
Howard Schneider, Tradução de Francisco Vianna, The Washington Post, 11-11-2011

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