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(Juan Luis Cebrián, jornalista
sênior e conselheiro do grupo Prisa, controladora de El Pais, 02)
1. "A
violência e a injustiça dos governantes é um antigo mal, e eu receio que não
tenha remédio (...) A ganância mesquinha e o espírito monopolista dos
comerciantes e industriais, que não são e nem devem ser os governantes, é algo
que, embora talvez não possa ser corrigido, pode-se conseguir pelo menos, que
não perturbe a tranquilidade de ninguém, exceto deles mesmos".
2. Esta citação não vem de um
manifestante qualquer em um acampamento de indignados, mas da respeitada Bíblia
do liberalismo econômico (A Riqueza das Nações), cujo autor, Adam Smith, foi um
professor de filosofia que dedicou sua obra-prima para a Teoria dos sentimentos
morais. Desde a sua criação, o capitalismo tem necessidade de regras que
limitem e controlem o funcionamento dos mercados, e é responsabilidade dos
políticos e dos governantes estabelecer essas regras e aplicá-las. Por isso,
estão certos aqueles que dizem que a atual crise econômica é, sobretudo, uma
crise moral, em que a perda de valores não pode ser de forma alguma substituída
por promessas eleitorais. Mas também tem uma dimensão global quase sem
precedentes, pela abrangência e velocidade com que ocorreu.
3. O "diretório" franco-alemão
pretende constituir-se em um poder de fato na Europa, diante do silêncio ou da
cumplicidade das instituições da União Europeia e da maioria dos líderes
presentes as reuniões, sempre dispostos a culpar os mercados por todos os
nossos males. Acusação abstrata que evita que se pergunte, entre outras coisas,
quem era o Comissário Europeu responsável pelo acompanhamento da transparência
e fiabilidade das contas apresentadas pela Grécia, ou como foi possível o Banco
da Espanha e o Governo afirmar que tínhamos o sistema financeiro mais robusto
do mundo, apenas para acabar sendo aquele que mais precisa ser recapitalizado.
4. Niall Ferguson é um dos
muitos intelectuais que diz que na verdade foram os acontecimentos políticos
que moldaram o que ele considera as instituições da vida econômica moderna: as
burocracias fiscais, os Parlamentos, os bancos centrais e os mercados de
títulos (ou seja, a dívida). Os partidos políticos e a democracia representativa
têm sido prisioneiros desse quadrilátero de poder que eles próprios ajudaram a
criar. As grandes depressões econômicas do passado terminaram em conflitos
geopolíticos de imensa magnitude, e não devemos descartar acidentes semelhantes
se os líderes mundiais continuarem reunindo-se, como tem feito até agora, para
estabelecer planos que são incapazes de cumprir.
5. Em última análise, esta
crise é sistêmica. Por esta razão, deve-se ser moderado nas promessas e humilde
em suas expressões. O que está em jogo, ainda que lamentemos muito, é o
princípio da universalidade dos direitos. O século XX terminou com a queda do
Muro de Berlim e o século XXI começou com a queda do Lehman Brothers. Vivemos
em um mundo em transição em que os paradigmas estão mudando. Pela primeira vez
em 200 anos, as novas gerações dos países ocidentais não guardam a esperança de
um futuro melhor do que aquele que tiveram seus pais. O desânimo, não somente a
indignação, começou a apoderar-se dos mais jovens, presos ao medo de um retrocesso
histórico.
Título e Texto: Ex-Blog do
Cesar Maia, 11-11-2011
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