Isabel Stilwell
Mário Soares disse ontem que
«as pessoas estão à frente dos números», referindo-se às medidas de austeridade
tomadas, e ainda por tomar. Num primeiro momento não há ninguém que não
concorde. Quem é que não dava tudo para evitar despedimentos, para que houvesse
mais trabalho para os jovens, para que as empresas não falissem, e não houvesse
tanta gente estrangulada por dívidas, sem saber como fazer contas à vida? Por
isso sim, é claro que as pessoas valem mais do que o dinheiro, a ambição, ou o
poder. Mas pensando melhor, tomamos consciência de que a frase é demagógica, e
baseia-se na ideia, quase infantil, de que o dinheiro é mágico e infinito,
notas de um jogo de monopólio, que se podem fotocopiar à medida das nossas
necessidades. Quando, na realidade, o dinheiro é apenas a medição visível dos
recursos reais, e se os recursos são limitados, se não há leite, medicamentos,
gasolina que cheguem para todos, então é preciso gerir o que existe de forma a
que cubra as necessidades mais essenciais, e sustente as prioridades
estratégicas, nomeadamente aquelas que asseguram mais recursos para o futuro.
Esta é a gestão complicada, que exige saber, coragem e visão, e que obviamente
tem consequências dolorosas. Porque fazer escolhas é sempre difícil e
subjectivo, mas sofremos agora as consequências de um mundo, e de um país, que
achou que era possível ter tudo, como se o poço não tivesse fundo. Se
conseguirmos perceber que sendo os recursos limitados é preciso optar entre
financiar o tratamento de uma doença ou de outra, entre construir estradas ou
pontes, entre subsidiar o ensino ou abrir hospitais, se percebermos que umas
escolhas excluem as outras, talvez seja mais fácil entender que não podemos
estar todos felizes ao mesmo tempo. E é por tudo isto que pessoas e números não
se podem dissociar, nem dizer que uns devem estar à frente dos outros, porque
são o mesmo.
Título e Texto: Isabel
Stilwell, Destak, 11-11-2011
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