sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Os números não são os maus da fita

Isabel Stilwell
Mário Soares disse ontem que «as pessoas estão à frente dos números», referindo-se às medidas de austeridade tomadas, e ainda por tomar. Num primeiro momento não há ninguém que não concorde. Quem é que não dava tudo para evitar despedimentos, para que houvesse mais trabalho para os jovens, para que as empresas não falissem, e não houvesse tanta gente estrangulada por dívidas, sem saber como fazer contas à vida? Por isso sim, é claro que as pessoas valem mais do que o dinheiro, a ambição, ou o poder. Mas pensando melhor, tomamos consciência de que a frase é demagógica, e baseia-se na ideia, quase infantil, de que o dinheiro é mágico e infinito, notas de um jogo de monopólio, que se podem fotocopiar à medida das nossas necessidades. Quando, na realidade, o dinheiro é apenas a medição visível dos recursos reais, e se os recursos são limitados, se não há leite, medicamentos, gasolina que cheguem para todos, então é preciso gerir o que existe de forma a que cubra as necessidades mais essenciais, e sustente as prioridades estratégicas, nomeadamente aquelas que asseguram mais recursos para o futuro. Esta é a gestão complicada, que exige saber, coragem e visão, e que obviamente tem consequências dolorosas. Porque fazer escolhas é sempre difícil e subjectivo, mas sofremos agora as consequências de um mundo, e de um país, que achou que era possível ter tudo, como se o poço não tivesse fundo. Se conseguirmos perceber que sendo os recursos limitados é preciso optar entre financiar o tratamento de uma doença ou de outra, entre construir estradas ou pontes, entre subsidiar o ensino ou abrir hospitais, se percebermos que umas escolhas excluem as outras, talvez seja mais fácil entender que não podemos estar todos felizes ao mesmo tempo. E é por tudo isto que pessoas e números não se podem dissociar, nem dizer que uns devem estar à frente dos outros, porque são o mesmo.
Título e Texto: Isabel Stilwell, Destak, 11-11-2011

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