Você sabia que o pensador da
nova esquerda Michel Foucault foi um forte simpatizante da revolução fanática
iraniana de 1979? Sim, foi sim, apesar de seu séquito na academia gostar de
esconder esse "erro de Foucault" a sete chaves.
Fico impressionado quando
intelectuais defendem o Irã dizendo que o Estado xiita não é um horror.
O guru Foucault ainda teve a
desculpa de que, quando teve seu "orgasmo xiita", após suas visitas
ao Irã por duas vezes em 1978, e ao aiatolá Khomeini exilado em Paris também em
1978, ainda não dava tempo para ver no que ia dar aquilo.
Desculpa esfarrapada de
qualquer jeito. Como o "gênio" contra os "aparelhos da
repressão" não sentiu o cheiro de carne queimada no Irã de então? Acho que
ele errou porque no fundo amava o "Eros xiita".
Mas como bem disse meu colega
J. P. Coutinho em sua coluna alguns dias atrás nesta Folha, citando por sua vez
um colunista de língua inglesa, às vezes é melhor dar o destino de um país na
mão do primeiro nome que acharmos na lista telefônica do que nas mãos do corpo
docente de algum departamento de ciências humanas. E por quê?
Porque muitos dos nossos
colegas acadêmicos são uns irresponsáveis que ficam fazendo a cabeça de seus
alunos no sentido de acreditarem cegamente nas bobagens que autores (como
Foucault) escrevem em suas alcovas.
No recente caso da USP, como
em tantos outros, o fenômeno se repete. O modo como muito desses
"estudantes" (muitos deles nem são estudantes de fato, são
profissionais de bagunçar o cotidiano da universidade e mais nada) agem, nos
faz pensar no tipo de fé "foucaultiana" numa "espiritualidade
política contra as tecnologias da repressão".
E onde Foucault encontrou sua
inspiração para esse nome chique para fanatismo chamado "espiritualidade
política"?
Leiam o excelente volume
"Foucault e a Revolução Iraniana", de Janet Afary e Kevin B.
Anderson, publicado pela É Realizações, e vocês verão como a revolução xiita do
Irã e seu fascínio pelo martírio e pela irracionalidade foram importantes no "último
Foucault".
As ciências humanas (das quais
faço parte) se caracterizam por sua quase inutilidade prática e, portanto,
quase impossibilidade de verificação de resultados.
Esse vazio de critérios de
aplicação garante outro tipo de vazio: o vazio de responsabilidade pelo que é
passado aos alunos.
Muitos docentes simplesmente
"lavam o cérebro" dos alunos usando os "dois caras" que
leram no doutorado e que assumem ter descoberto o que é o homem, o mundo, e
como reformá-los. Duvide de todo professor que quer reformar o mundo a partir
de seu doutorado.
Não é por acaso que alunos e
docentes de ciências humanas aderem tão facilmente a manifestações vazias, como
a recente da USP, ou a quaisquer outras, como a dos desocupados de Wall Street
ou de São Paulo.
Essa crítica ao vazio prático
das ciências humanas já foi feita mesmo por sociólogos peso pesado, em momentos
distintos, como Edmund Burke, Robert Nisbet e Norbert Elias.
Essa crítica não quer dizer
que devemos acabar com as ciências humanas, mas sim que devemos ficar atentos a
equívocos causados por essa sua peculiar carência: sua inutilidade prática e,
por isso mesmo, como decorrência dessa, um tipo específico de cegueira teórica.
Nesse caso, refiro-me ao seu constante equívoco quanto à realidade.
Trocando em miúdos: as ciências
humanas e seus "atores sociais" viajam na maionese em meio a seus
delírios em sala de aula, tecendo julgamentos (que julgam científicos e
racionais) sem nenhuma responsabilidade.
Proponho que da próxima vez
que "os indignados sem causa" ocuparem a faculdade de filosofia da
USP (ou "FeFeLeCHe", nome horrível!) que sejam trancados lá até que
descubram que não são donos do mundo e que a USP (sou um egresso da faculdade
de filosofia da USP) não é o quintal de seus delírios.
Agem com a USP não muito diferente
da falsa aristocracia política de Brasília: "sequestram" o público a
serviço de seus pequenos interesses.
No caso desses "xiitas
das ciências humanas", seus pequenos delírios de grande
"espiritualidade política".
Título e Texto: Luiz Felipe Pondé, pernambucano, é escritor, filósofo e ensaísta. Doutor em filosofia pela USP, é professor da PUC, da FAAP e da Universidade Federal de SP. Discute temas como crenças, preconceito e manipulações.
Título e Texto: Luiz Felipe Pondé, pernambucano, é escritor, filósofo e ensaísta. Doutor em filosofia pela USP, é professor da PUC, da FAAP e da Universidade Federal de SP. Discute temas como crenças, preconceito e manipulações.
Publicado originalmente no
jornal “Folha de São Paulo”, 21-11-2011
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