Sem assento na Concertação,
queixam-se de ser penalizados pelo sistema pela independência política
Nelson Pereira
Ignorados pelas grandes
estruturas sindicais, os sindicatos independentes têm vindo a ganhar força em
Portugal. Propõem-se hoje como alternativa não conotada com os partidos
políticos. E queixam-se de ser penalizados por esta independência.
“Temos hoje profissões novas e
os sindicatos independentes permanecem menos presos a dependências partidárias,
em contraste com as estruturas tradicionais, onde os partidos políticos são
demasiado dominantes. Talvez por isto, os sindicatos independentes têm
conseguido conquistar espaço em Portugal”, disse ao i Alan Stoleroff, sociólogo
do Instituto Superior Ciências Trabalho e da Empresa (ISCTE). Para Paulo
Marques Alves, outro estudioso do movimento sindical e sociólogo do ISCTE, “um
grande desafio criado aos sindicatos hoje é a nova realidade do mercado de
trabalho, nomeadamente os precários e o desemprego. Face a este desafio, os
sindicatos independentes mostram maior flexibilidade”.
“A independência paga uma
factura”, frisa António Medeiros, presidente do Sindicato dos Maquinistas
(SMAQ), que critica o facto de os independentes serem mantidos fora da
Concertação Social. Fundado em 1978, o SMAQ esteve entre os pioneiros do
movimento sindical não alinhado e apartidário em Portugal. “Somos mantidos fora
da Concertação Social por um modelo que necessita há muito de actualização,
relíquia de uma realidade ultrapassada”, acrescenta o sindicalista.
Os sindicatos independentes
permanecem fora da Comissão Permanente de Concertação Social (CPCS), onde a
CGTP e a UGT têm cada uma dois representantes. Esta composição está definida na
lei desde o início dos anos 90 e só poderia ser alterada por iniciativa legislativa.
“Em termos de Concertação, não evoluímos uma polegada desde 1989, por falta de
decisão política”, disse ao i o sociólogo Paulo Pereira de Almeida, do
Observatório Português de Boas Práticas Laborais (OPBPL).
“Vemo-nos sempre limitados na
participação e na intervenção, apesar de termos uma representação quase total
entre os maquinistas, com 1700 associados”, denuncia António Medeiros.
A representatividade dos
sindicatos permanece questão tabu em Portugal. Quando, em 1985, foi criado o
Balanço Social, incluía uma questão sobre a taxa de sindicalização que foi
retirada por ser incómoda para ambas as partes – sindicatos e empresas. “Não há
disponibilidade dos sindicatos para aferir a sua representatividade”, lamenta o
sociólogo Paulo Alves, sublinhando que, enquanto em Portugal não há dados
rigorosos sobre a representatividade dos sindicatos, “em Espanha é diferente,
existindo a possibilidade de aferir estes dados pelas eleições sociais e pelas
votações”. Em Portugal os sindicatos fornecem à tutela do Trabalho as actas das
suas eleições. “Segundo a lei sindical de 1975, as actas deveriam ser
publicadas no Boletim de Trabalho e Emprego, mas nunca aconteceu”, acrescenta
Paulo Alves.
A taxa de sindicalização
sofreu em Portugal uma das maiores quebras registadas na Europa ocidental,
tendo passado de 60,8% em 1978 para 19,3% em 2010.
Em 2000, Alan Stoleroff
avaliou o índice de sindicalização das duas centrais sindicais, tendo concluído
que a CGTP tinha 737 mil sócios e a UGT 238 mil. Segundo o mesmo estudo, os
sindicatos independentes contavam 60 mil membros. Os resultados não foram na
altura bem recebidos pelas centrais sindicais. (Claro que não!)
Os dados da Fundação Europeia
para a Melhoria das Condições de Vida e do Trabalho (EIRO) respeitantes a 2008
mostram uma evolução em sentido contrário, com a CGTP a contar 537 mil
associados e a UGT com 210 mil.
Com uma taxa de crescimento de
40% na década de 2000, a USI conta actualmente com cerca de 40 mil sócios e
reúne 11 sindicatos.
“A nova realidade dos
precários e do desemprego provocou respostas interessantes entre os sindicatos
independentes”, defende Paulo Alves. E avança exemplos: “Ligado a uma profissão
altamente precarizada, o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses desenvolve
muitas iniciativas focadas nos precários. O Sindicato dos Professores da Grande
Lisboa (SPGL) tem uma frente de trabalho para professores desempregados e
precários.” Existem também tentativas de criar soluções estruturais novas,
acrescenta o sociólogo do ISCTE. Segundo Paulo Alves, “um dos exemplos
originais em Portugal” é a fusão do antigo Sindicato dos Músicos com a da
Plataforma dos Intermitentes do Espectáculo e do Audiovisual e com o Centro
Profissional do Sector do Audiovisual (CPAV), que deu origem ao Sindicato dos
Músicos, dos Profissionais do Espectáculo e do Audiovisual (CENA).
Texto: Nelson Pereira, jornal “i”,
16-05-2012
Ora ora, aí está para a vossa reflexão, sim, a de vocês, 9 milhões e 25 mil cidadãos portugueses. Até quando vocês vão deixar ser "representados" por 975 mil cidadãos (menos de 10%)?? Olhem que somei os associados das duas centrais sindicais, pois que se considerasse só a "representatividade" do departamento sindical da CGTP... Aliás, departamento que não é composto só pela CGTP mas também por células em determinadas empresas públicas. É só prestar atenção à sua volta, à RTP por exemplo, que há pouco ficou 15 minutos linchando o ministro Miguel Relvas... por que será? Por que ele é defensor da privatização dessa estação, está na cara!
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