quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Maronauta – o filho do mar


M. F. A.
Meu amigo, hoje o negócio foi ESPETACULAR! Por muito pouco sua amiga (medrosa!) não saiu voando da praia! Criei coragem e fui sozinha até o final da praia para ver em que lugar o ultraleve parava, aproveitei que tinha visto o avião na festa da Base Aérea esse ano e usei o argumento pra me aproximar e pedir permissão para ver a aeronave de perto. Qual não foi a minha surpresa pois lá estava um amigo que conheci em 1999 (outro dessa época ligado à coisa de avião! Olha só!)
Conheci esse amigo em uma boate, no tal ano de 99, e olhe só como são as coisas na minha vida: a boate estava lotada de gente, sou louca por avião, e eis que eu lá dançando incorporando a "essência da coisa" - as coisas do Oráculo, se aproxima de mim quem? Marquinho, o organizador dos ultraleves da praia do Atalaia! Sem saber que gosto da coisa! Conversamos muito ele arrastou a asinha pra mim e acabou que prometi voltar a vê-lo, chegando montada a cavalo no final da praia. Mas na situação abaixo não deu, é que tá cada vez mais difícil arrumar uma boa montaria na praia. Pô, Duquesa que é Duquesa tem que ter um bom cavalo!
Fui andando e apreciando a beleza da beira do mar, com suas conchas, peixes, garças e gaivotinhas e uma imensidão de céu e nuvens, numa sensação eterna de liberdade e uma imensidão de areia fazendo a alegria da minha genética libanesa... Quando vou às dunas fico igual pinto no terreiro cheio de minhocas, só alegria. Me sinto no deserto do Saara… voltando às origens!
E foi esse mesmo Marquinho que já encontrei hoje no fim da praia, com os cabelos já acinzentados coroando a pele sempre morena do típico paraense - e ele é a tranqüilidade em pessoa. E o Marquinho é famoso como personagem daqui, o cara faz parte de um projeto de esportes ecológicos, curte essa coisa de preservação da natureza. Posso dizer que esse é, literalmente, um legítimo homem alado filho do mar. Um "maronauta" hahahahaha! Ele participa dum negócio maluco, uma espécie de “bonde do Xibé (pirão de farinha) ”, lembrava um pouco a caravana da Fundef... (nem tente entender essa última expressão, isso é coisa de Governo Federal...)
Quando cheguei o avião estava estacionado, e  o tal Marquinho com as mãos sujas de óleo consertando um quadriciclo me cumprimentou com o cotovelo! Apresentou-me o outro piloto, o Raul (que estava com o avião verdinho em questão na BABE. Este Raul é que estava dando voltas sobre as barracas da praia, e haja eu lá de baixo a atentar o coitado...)
Virei pra ele e disse: “Tu não vais lembrar-se de mim, mas já me conheces há mais de dez anos!!!” Nós nos vimos na Zeppelin! (boate da capital, que por sinal também tinha certa temática eh... aérea.) Ele olhou... me olhou... pensou, procurou pela memória...
- Pô, faz tempo isso, heim??!
- É, mas se tu não lembra, lembro como se fosse ontem.
Voltando ao ultraleve, quando cheguei lá estava ele: verdinho feito uma folhinha de espinafre, asinhas abertas, jeitinho de motocicleta.
O que mais me cativou foi o adesivo perto da base do pequeno pára-brisa que dizia: “Asas de Deus”, num cativante reconhecimento ao verdadeiro dono do espaço aéreo freqüentado pelos humanos. Olhei bem curiosa pra ele de perto, suas asas de lona com zíper (ZÍPER NUMA ASA DE AVIÃO? HÃ??). Tem coisas que só a terra do Oráculo mostra para esta pobre mortal aqui... Os banquinhos de forro de automóvel (acho uns baratos aviõezinhos com esse tipo de banco, eu ficava cutucando com a ponta do dedo pra ver se era macio).
Passei um tempo conversando com o Marcos sobre as propriedades de aeronavegabilidade e segurança do ultraleve, que na praia do Oráculo (Atalaia) possui índice de segurança incrivelmente superior ao da aviação controlada de uma cidade grande (é que os pilotos da praia NUNCA estão estressados...). Houve anos em que realmente pensei em fazer um passeio e quase caio na tentação desse, mas não confio mais nos meus nervos: sou muito despirocada pra voar...
Momentos de tensão: Estávamos conversando eu, Marquinho, o apresentador do Carimbó da Sorte (outro dia explico que p… é essa), e o piloto do helicóptero da Rede Globo local (que por sinal tava era muito loko àquela hora), e o Marquinho me pega devagar pelo braço e vai me levando:
- Vamos que você é a próxima!
- Próxima do quê?
 - Cê vai voar comigo, vamos dar uma volta?
 - Não, não vou voar agora não! Eh... sabe como é, não tou preparada psicologicamente pra isso...
- Ah, não... Pára com isso. (é a 5.890.456.023 vez que escuto isso de um amigo que voa ou que viaja freqüentemente)
Sabe, Jim, acho que a coisa que aeronauta mais deve detestar é gente com fobia de avião. Quer queira, quer não queira, estamos silenciosa e implicitamente chamando vocês de malucos e suicidas... Toda vez que falo que tenho medo, o povo das quatro listras faz uma cara... Eu fico morta de vergonha, mas não posso fazer nada (um dia dissertarei sobre isso, faz-se necessário lavar mais essa roupa suja na aviação).
Bom, de repente apareceram duas clientes e pelo menos se esqueceram de mim um pouco. Fiquei vendo a decolagem, acompanhei a órbita do bichinho... e a minha parte favorita: O pouso. Ele pousou tão pertinho que mais dez passos e eu passava a mão na barriga dele enquanto descia (metáfora romântica, porque se eu fizesse isso de verdade o trem de pouso levava a minha mão embora!)
A sensação de ver um avião pousando perto de mim é única, é como se meu corpo desaparecesse e eu me transformasse apenas em um olhar contemplando o avião, senti o vento da praia passar através de mim. É muito espiritual.
O Raul aterrissou com a cliente e eu não resisti: fui fazer baliza pro ultraleve, usando os movimentos que aprendi com os fiscais de pátio do aeroporto. E fiz direitinho! Agora respeita o uniforme da fiscal de pátio aqui: biquíni dourado com a parte superior com uma bela fivela dourada e rebordado de dourado no estilo tomara-que-caia (não é piadinha pro avião!), a calça dourado escuro, um bronzeado que realçou fortemente meus olhos verdes sobre o rosto avermelhado do Sol. E o cabelo muito abaixo da linha da cintura, ondulado pelo vento e pelo mar como uma sereia fugida da beira da água.
E ainda fui promovida a portuga...! O cara do carimbó perguntou se eu era de fora do Estado, e eu expliquei que sou daqui, mas sou branca por causa da avó portuguesa. Porra, só faltaram me chamar de Maria, mulher de Joaquim! Passaram o resto da tarde me chamando de portuga, e eu pensando “Ah, o Jim aqui assistindo a isso!”
Depois me distraí tentando me comunicar com o cidadão do helicóptero, mas ele estava tão pomba-leso da cabeça que fiquei pensando: Cacete, só não quero o helicóptero desse doido passando em cima da minha cabeça!
Quando eu já ia embora procurei: Cadê o Marquinho?
O cara já estava dentro do Ultraleve, e se preparando pra levar a próxima cliente para passear. Corri até lá e antes que ele amarrasse cinto ou fizesse outra coisa eu peguei e dei um longo e carinhoso beijo na bochecha dele. Aí ele ficou todo derretido... Desejou-me tudo de bom, perguntou quando eu voltava e prometi revê-lo na Páscoa, fiquei de pensar se ia no Ultraleve com ele nessa próxima oportunidade. Aff... Não sei, não sei... E olha que ele tem muita experiência, é mais de 15 anos curtindo aquilo ali.
Assisti a decolagem dele e logo parti de volta pro meu carro perto da barraca onde estávamos, era bem longe e o dia já estava acabando, mas ainda tive tempo de ver o meu amigo sobrevoando a beira do mar e por cima do meu carro, e haja eu acenar e jogar beijinho... E as meninas na barraca caindo na gargalhada:
- Tú és impossível! Não podes ver um avião que tu vai atrás daqui até Belém!!!
- Hummmmmm!!! Tô “assim” (coleguinha) com a galera do ultraleve tá?
E o dia terminou belíssimo na cidade de Salinas, com as nuvens formando um imenso pássaro de fogo sobre o horizonte, foi incrível.
E nesse dia mais uma vez dormi olhando para a sua foto com seus colegas, me questionando sobre a essência da aviação, essa coisa que flui com tanta facilidade ao meu redor.
É isso.
Um grande beijo.
M. F. A.
Abaixo, uma foto de ultraleve do mesmo modelo:



Vôo de ultraleve no Atalaia - Salinas - PA
Vídeo: plugfcm

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