Alberto de Freitas
Há umas semanas, na quinzenal ida do governo à Assembleia da República, ouvindo na TSF a explanação inicial de Passos Coelho, a voz da repórter-comentadora – num tom grave, recheado de sensualidade – sobrepôs-se: "António José Seguro está a sorrir" – e mais não disse. Gorando a minha expectativa sobre o que estariam a fazer o Jerónimo de Sousa, ou o Louçã.
Há umas semanas, na quinzenal ida do governo à Assembleia da República, ouvindo na TSF a explanação inicial de Passos Coelho, a voz da repórter-comentadora – num tom grave, recheado de sensualidade – sobrepôs-se: "António José Seguro está a sorrir" – e mais não disse. Gorando a minha expectativa sobre o que estariam a fazer o Jerónimo de Sousa, ou o Louçã.
Depreendi que o sorriso de
Seguro era toda uma mensagem política. Talvez mesmo, a ansiada alternativa à
austeridade.
Daí, a exigida demissão de
Carlos Moedas por parte da oposição. Que, como se sabe, inclui o PSD.
Todos sabem que a situação é
insustentável, que o FMI não veio dar qualquer novidade – podemos ser
inconscientes, mas não somos estúpidos – e aí reside o busílis: nós não
queremos que nos digam como fazer, nós queremos que alguém faça.
Razão para todos querer ser
oposição, a fazer de conta que o querem deixar de ser.
É esse faz-de-conta que Passos
e Gaspar não se podem permitir: alguém tem que fazer o trabalho sujo... e sem
sorrir.
Há pouco, no texto, pespeguei
que não somos estúpidos. Bem, talvez haja um pouco de exagero... pois gostamos
que nos comam por parvos. Preferimos que não nos anunciem a desgraça, mas que
nos exagerem a desgraça... para depois a amenizarem. Ao estilo da anedota: houve
um incêndio e morreu-te toda a família. Tristeza seguida da alegria de saber
que, afinal, só tinha morrido a mãe. Sócrates – um especialista na matéria –
utilizou essa táctica com o acordo da troika: anunciou o que não nos iria
acontecer. Do que nos iria acontecer mesmo, não falou. Nem sorriu. Isso fizemos
nós: achamos muita piada às trapaças.
Título e Texto: Alberto de Freitas, 11-01-2013
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