Em fim de ano, a maioria das
pessoas questiona sobre o que de mais importante deverá ocorrer no novo ano. Na
maioria das vezes, tais questionamentos são simplistas, uma vez que são tantos
os acontecimentos que costumam advir com o desenrolar do ano, que fica difícil
para o simples mortal fazer qualquer previsão com segurança. Uma coisa é certa,
em tempos de crise econômica – e política nem se fala – todos anseiam que o
novo ano seja diferente e essa expectativa acaba sendo a mais importante.
Todavia, ainda vale a pena
considerar alguns assuntos isoladamente numa tentativa de avaliar a
possibilidade deles mudarem de curso. Um desses assuntos, segundo penso, são os
rumos que tomarão a Europa e a América Latina em 2013.
Se a considerarmos como uma
única entidade geográfica, a Europa tem de fato a maior economia do mundo, ao
passo que a América Latina, em conjunto, não chega a ser a sexta. Assim
considerada, a Europa pode se tornar uma rival militar dos EUA, já a América Latina
está bem longe disso. Ora, a Europa é um dos pilares do “sistema global”, e o
que vier a acontecer com a Europa irá definir em última análise como o mundo
irá funcionar. Eu acredito que, ao longo do ano de 2013, o mundo começará a ver
com maior clareza o futuro da Europa. Não acredito, por outro lado, que a
América Latina, como um todo, irá melhorar, pelo contrário. Nações como a
Venezuela e a Argentina estão em queda livre, enquanto o Brasil, cujo PIB é
maior do que os PIBs latino-americanos somados, escorrega no pântano da
corrupção, da incompetência e do centralismo governamental.
A maioria dos países europeus
foi em grande escala influenciada pelas doutrinas políticas e econômicas
geradas na Alemanha a partir do final do século XIX e que em seu conjunto configuram
o que hoje se chama de “socialismo”. Por outro lado, o final do século XX
demonstrou sobejamente que o estatismo, a concentração de poder político na mão
dos governos nacionais em detrimento dos governos locais e regionais, bem como
a centralização da economia na mão do estado – configurando aquilo que hoje
chamamos de “capitalismo estatal” – juntamente com a multiplicação de
oligopólios, monopólios e trustes, tudo isso junto, fez com que as populações
europeias se sentissem falsamente ricas acreditando que seus estados eram
portentos capazes de lhes garantir uma vida mais confortável e com um custo
menor de trabalho do que a realidade costuma impor.
A primeira grande desilusão
com o socialismo ocorreu com o fim da ex-União Soviética e com a independência
política (pelo menos) de todos os estados que a ela estavam incorporados a
partir da revolução bolchevista de 1917. A reação europeia veio em cascata e,
com ela, a crise iniciada em 2008.
Para muitos, a questão sobre
se a União Europeia irá ou não se estabilizar, passa necessariamente pela
eventual capacidade de fragmentação nacional e aumento de sua integração e
expansão. Em vista de isso ser esperado com um processo já em curso, as tensões
do bloco – que deverá ser cada vez menos bloco e cada vez mais nação – com os
países que o compõem irão também aumentar, gerando uma crise de legitimidade
entre as instituições pan-europeias e as de cada país componente, fazendo com
que cada um da maioria deles busque a adoção de suas próprias políticas, tanto
externas quanto internas.
Apesar da crise financeira que
se abate sobre a maioria dos seus países membros, na verdade, os europeus devem
estar agora mesmo buscando um meio de não voltar aos tempos difíceis de pobreza
e miséria do sovietismo e ao mesmo tempo não cair na esparrela ilusória
distributivista que fez com que o europeu se acostumasse a um padrão de vida
elevado a Europa ocidental sem a contrapartida de este mesmo padrão ser fruto
do trabalho duro e persistente de sua gente.
Para isso, os europeus têm um
excelente modelo para se autoajustarem, sendo ou não mais do que um simples
bloco econômico, que é o histórico de mais de um século dos países
escandinavos, histórico esse muito parecido com o que ocorreu no Canadá e na
Austrália.
Podemos dizer que esses países
são “socialistas”? Não, dentro da conceituação comum de socialismo (nazista,
soviética, fascista, e outras variantes, inclusive a gramscista e a mais atual
islamofascista). Mas são países que já há algum tempo entenderam para o que realmente
serve o estado, têm altas cargas tributárias, mas ninguém, por lá, está
insatisfeito com isso, uma vez que o estado devolve à população – na maioria
das vezes em nível local e regional – serviços públicos de alta qualidade,
sobressaindo-se a educação /ensino, e a assistência médico-hospitalar.
Acredito que 2013 possa ser o
ano em que o europeu irá decidir o que quer fazer do seu futuro, ou seja, se
irá permanecer fiel às soberanias de cada um de seus estados tentando tirar
proveito econômico de uma Europa mantida apenas como bloco econômico, ou se irá
aceitar sua condição de europeu como uma nova nacionalidade, proveniente de um
novo país, algo como uns Estados Unidos da Europa.
A segunda hipótese parece ser
a menos entusiasmante, haja vista que, desde o início da crise em 2008 até
hoje, os países europeus, com a exceção da Alemanha e dos países escandinavos,
mergulharam numa recessão econômica preocupante com uma taxa de desemprego
média passando dos dez por cento no continente. Nada como um choque de
realidade para acabar com o onirismo socialista...
Reforçando a primeira
hipótese, está o fato de, durante esse período, no qual o aparato de tomada de
decisão ficou centralizado pelo bloco, a União Europeia não foi capaz de criar
soluções políticas que fossem amplamente aceitáveis pelos estados membros ou
facilmente postas em prática.
Enquanto o mundo livre e
civilizado está de olho nos rumos a serem tomados pelos países europeus, na
América Latina, a maioria dos estados tenta repetir os mesmos erros cometidos
no século passado no leste europeu, na Ásia e na Europa. Parecem incapazes de
aprender as mais simples lições da História recente da humanidade.
Destarte, os países
latino-americanos, liderados por Chile, Colômbia, Brasil e México, deverão
continuar a patinar na sua própria incúria e incompetência, até decidirem, como
se espera que os europeus decidam, construir, pela educação e pelo ensino,
basicamente, uma cidadania melhor capaz de coibir a corrupção endêmica que os
afeta e de estimular o trabalho produtivo como única ferramenta de criação de
capital e riqueza, fatores que realmente aumentam a produção e elevam o padrão
de vida de seus povos.
Aí poderão, até, adotar
algumas práticas distributivistas, desde que baseadas em contrapartidas de
mérito, principalmente em âmbitos locais e regionais, e que não sejam apenas
meios de comprar votos como têm sido observados nos governos onde predominam as
viúvas do Muro de Berlim.
Título e Texto: Francisco Vianna, 11-01-2013
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