sexta-feira, 6 de junho de 2014

Voto distrital protege o Reino Unido de aventuras políticas. Na França é o inverso

Cesar Maia           
1. O sistema eleitoral britânico de voto distrital puro uninominal, em pequenos distritos de uns 40 mil eleitores cada, protege o Reino Unido de aventuras políticas populistas na escolha do governo nacional. Num sistema de escolha direta e proporcional do presidente, os riscos de um candidato populista conjuntural vencer as eleições são infinitamente maiores.
           
2. Num sistema de voto distrital puro uninominal, a probabilidade de um partido obter maioria parlamentar requer capilaridade nacional, tornando-se majoritário distrito a distrito até a maioria dos distritos. Essa possibilidade independe do carisma do líder, por maior que for. Um líder populista e carismático se elegeria em seu distrito apenas e sua expressão parlamentar exigiria que seu partido tivesse líderes locais em centenas de distritos.
           
3. Isso é possível? Teoricamente sim, mas o crescimento progressivo de seu partido até se tornar majoritário iria além do tempo físico de vida do líder populista. Na eleição europeia que são listas partidárias nacionais, a liderança do líder populista funciona como numa eleição presidencial direta. Na eleição para o parlamento europeu, Nigel Farage, encabeçando a lista do UKIP – partido da independência –, ficou com 29% dos votos,  o Trabalhista com 24,%, o Conservador com 23,% e o Liberal-Democrata 7%.
           
4. Nas eleições municipais recentes, se transformarmos os votos em controle majoritário dos distritos, o que corresponderia aproximadamente a eleger um deputado por município, o UKIP elegeria 5% dos deputados, apesar de ter tido mais de 3 vezes a porcentagem de votos.
           
5. No sistema eleitoral francês, o voto para prefeito é distrital e uninominal. Uns 30 dias antes da eleição europeia, a Frente Nacional, com uma votação surpreendente, conquistou 6% dos municípios. Mas na eleição europeia de listas nacionais, a Frente Nacional encabeçada por Marine Le Pen obteve 25% dos votos e de deputados. A UMP de Sarkozy 20%, o PS de Hollande 14%, o Modem centrista 10%, os Verdes 9%, e a Frente de Esquerda 6%. 
           
6. O que serve de margem de segurança para os franceses contra a vitória presidencial do populismo de direita, é a eleição ser em dois turnos. No segundo turno todos se somariam contra Marine Le Pen. Com seu pai aconteceu isso. Mas a força de Marine é bem maior e, portanto, o segundo turno tenderia a ter um resultado muito mais apertado.
Título e Texto: Cesar Maia, 06-06-2014

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