Rui Verde
À medida que avançam as
investigações sobre o ex-presidente do Brasil Lula da Silva, no âmbito da
Operação Lava-Jato, e sobre o ex-primeiro-ministro português José Sócrates no
âmbito da Operação Marquês, destaca-se um elemento comum: boa parte dos actos de
corrupção tem origem em Angola ou está ligado a este país, seja sob a forma de
subornos, de transferências monetárias, de contratação de obras públicas ou de
financiamentos bancários. Angola tornou-se o habitat natural dos corruptos e
corruptores do mundo lusófono.
Recentemente, o Ministério
Público Federal brasileiro denunciou o ex-presidente Lula da Silva e o
empresário brasileiro Marcelo Odebrecht pelos crimes de corrupção activa e
passiva, lavagem de dinheiro, tráfico de influências e organização criminosa. A
procuradoria-federal indicia Lula por práticas criminosas que terão ocorrido
entre, pelo menos, 2008 e 2015 e que incluem a sua actuação junto do Banco
Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) para financiar
empreitadas da Odebrecht em Angola. Como contrapartida, Lula e os seus
associados teriam recebido o equivalente e 12 milhões de dólares. Ao serem
analisados os dez países a quem o BNDES emprestou dinheiro, verifica-se que, no
período a que a investigação corresponde, Angola foi aquele com que o banco
celebrou mais contratos, que recebeu o maior volume de dinheiro e que
beneficiou das taxas de juro mais favoráveis.
Nas actividades ilegais surge
um sobrinho (por afinidade) de Lula, de seu nome Taiguara Rodrigues dos Santos,
que se terá estabelecido em Angola em 2007 para aí acompanhar os negócios do
tio. Este sobrinho terá usado duas empresas para fazer circular o dinheiro: a
Exergia Brasil e a Exergia Portugal.
Em Portugal, o Grupo Lena,
suspeito de ter canalizado dinheiros para José Sócrates, terá pago comissões
relativas a obras em Angola, no valor de 16 milhões de euros, à empresa do
sobrinho de Lula da Silva, bem como ao amigo de infância de José Sócrates,
Carlos Santos Silva, que foi preso preventivamente ao mesmo tempo que Sócrates,
em Novembro de 2015.
Taiguara Rodrigues dos Santos
e a sua empresa Exergia fazem a ponte completa entre Brasil, Portugal e Angola,
em parceria com o amigo de infância de Sócrates.
Um caso concreto já sob
investigação pelas autoridades é o da reabilitação da estrada entre Lucusse e
Lumbala N’Guimbo, no Moxico, a segunda maior obra contratada pelo Grupo Lena,
com um valor adjudicado de 230 milhões de euros.
Neste negócio, aparentemente,
os intermediários brasileiros capitaneados por Lula terão lucrado 12 milhões de
dólares, enquanto os intermediários portugueses capitaneados por Sócrates terão
recebido quatro milhões de dólares
Resta agora saber quem terão
sido as contrapartes em Angola e que quantias terão recebido.
O mais interessante de toda
esta história é perceber que existiu uma óbvia triangulação de interesses
corruptos entre Lula, Sócrates e Angola, a qual está finalmente a vir ao de
cima. Trata-se de uma verdadeira organização criminosa internacional, em que
dois elementos — o sobrinho de Lula, Taiguara Rodrigues dos Santos, e o amigo
de infância de Sócrates, Carlos Santos Silva — funcionavam como
testas-de-ferro. Naturalmente, a este triângulo falta adicionar os responsáveis
angolanos. Um dia, quando as devidas investigações se realizarem em Angola,
eles serão descobertos, responsabilizados e, espera-se, julgados em tribunal.
Título, Imagem e Texto: Rui Verde, Maka Angola, 14-10-2016
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