Helson França
Em 2005, após uma rotina estafante por quase duas décadas, a paulistana
Junia Machado estava na África pela primeira vez, germinando a ideia de um
registro fotográfico-documental sobre o comércio de marfim, responsável por
dizimar milhares de elefantes todos os anos.
Pouco mais de uma década após a experiência, a publicitária encabeça um
projeto que pretende salvar elefantes vítimas de maus tratos. Inaugurado
oficialmente na quarta-feira (12), após a chegada dos primeiros hóspedes, as
elefantas Maia e Guida, o Santuário de Elefantes Brasil, na Chapada dos
Guimarães (a 65 km de Cuiabá), é o primeiro em toda a América Latina voltado
para a conservação desses animais.
Em uma área equivalente a 1.540 campos de futebol, repleta de morros e
nascentes, o espaço tem capacidade para receber até 50 elefantes, segundo
avaliação de Junia.
Foto: Gesseca Ronfim |
A fazenda custou R$ 3,2 milhões e deverá ser paga em seis anos. O projeto
envolveu organizações internacionais que trabalham com conservação de
elefantes. "Dinheiro não havia, tampouco definição sobre onde
desenvolveríamos o projeto. Só sabíamos que não dava mais para esperar",
diz.
Ela conta que, desde criança, sente fascínio por elefantes. Após a morte
do pai, resolveu mudar de vida. "Não queria passar o resto dos meus dias
fazendo a mesma coisa", diz a ex-dona de uma agência de publicidade.
Foi estudar fotografia e, em 2010, recém-chegada do Quênia, deparou-se
com um elefante em péssima condição num zoológico. Procurou ajuda e encontrou
Joyce Poole, uma das responsáveis pela Elephant Voices, ONG que atua em defesa
dos elefantes.
O santuário é mantido por doações, boa parte do exterior. As primeiras
moradoras do local, Maia e Guida, foram resgatadas após passarem mais de 40
anos em cativeiro.
Elas estavam em Paraguaçu (MG), onde viviam desde 2010 acorrentadas na
propriedade rural do advogado de um circo. Ambas foram encontradas após
fiscalização do Ibama (instituto federal).
As fêmeas foram transportadas em contêineres construídos com tubos de aço
pelos próprios profissionais envolvidos no projeto, numa viagem de dois dias e
custo de R$ 80 mil. Por meio de uma "vaquinha on-line", foram
arrecadados R$ 53 mil.
Até o início do próximo ano, elas devem ganhar a companhia de Ramba,
também egressa do circo e que está no Chile. No santuário, os animais se
alimentam de frutas e vegetação da fazenda.
Ele não permitirá visitas. Câmeras serão instaladas em pontos
estratégicos e, por meio do site (santuariodeelefantes.org.br ), será possível
acompanhar, em tempo real, o cotidiano dos elefantes.
Especialista em elefantes, o norte-americano Scott Blais, que veio do
Tennesse com sua mulher, a veterinária Keith, para trabalhar no projeto, disse
que a adaptação de Maia e Guida ao novo lar aconteceu de maneira
surpreendentemente bem. "Era possível ver que uma interagia com a outra.
Elas descansaram tranquilamente e também se alimentaram normalmente",
contou.
Levantamento feito pela equipe do Santuário de Elefantes Brasil
identificou que, apenas no Brasil, pelo menos outros 30 elefantes encontram-se
em situação de risco, seja por exploração em circos ou maus tratos em fazendas.
Os procedimentos de resgate aos animais envolvem, além de conversas com
os responsáveis, muita burocracia, pois os casos, muitas vezes, são resolvidos
mediante interferência da Justiça.
Título e Texto: Helson França, colaboração para a Folha, em Cuiabá.
Folha de S. Paulo, 15-10-2016
Magnifico atitude de preservar elefantes na Chapada dos Guimarães.Considerando que os elefantes costumam viver em grupos e a longevidade é de 70 anos, portanto, Maia e Guida já viveram mais da metade da vida.
ResponderExcluirCabe uma pergunta será que no Santuário, terá um elefante macho reprodutor para dar sequencia na especie, espero que sim.
Abraços
Nelson Schuler