Rodrigo Constantino
A pequena São José do Vale do
Rio Preto registrou, durante todo o ano, seis roubos, uma
impressionante média de um caso a cada 50 dias. Mas é justamente a violência o
pesadelo que vem tirando o sono de produtores, comerciantes e trabalhadores da
pacata cidade da Região Serrana. Isso porque metade de sua economia é
movimentada pelos abatedouros, que enviam 80% de tudo o que produzem — cerca de
600 mil aves por semana — para o município do Rio de Janeiro.
Negócio garantido, pelo menos,
até o ano passado. De lá para cá, a entrega de mercadorias virou uma roleta
russa, a ponto de ameaçar o mais promissor setor de produção local. A descida
da serra é quase uma certeza de prejuízo. O Estado do Rio já contabiliza 30
roubos de carga por dia, a maioria na Região Metropolitana. Dados da Polícia
Civil mostram que os gêneros alimentícios tornaram-se os principais alvos dos
ladrões, junto com bebidas e cigarros. Se antes esse tipo de crime era
praticado por quadrilhas especializadas, agora tornou-se braço financeiro do
tráfico de drogas.
Em 2013, foram 3.534 roubos de
carga no estado. Desde então, os números não param de aumentar: 5.890
registros, em 2014; no ano passado, 7.225 e, até outubro deste ano, 7.439
ocorrências. Estimativas da Polícia Civil e do Sindicato das Empresas do
Transporte Rodoviário de Cargas e Logística do Rio de Janeiro (Sindicarga)
mostram que devem fechar 2016 em nove mil casos. Um crescimento de 154,66% nos
últimos quatro anos.
[…]
O Polo Empresarial da Pavuna
(PEP), com 36 empresas, fica em uma das regiões mais atingidas pelo roubo de
cargas e instalou câmeras de alta definição em 20 pontos de maior incidência do
crime. Não há um único dia, em que o equipamento não grave flagrantes da ação
dos assaltantes.
— A gente nunca imaginou que
pudesse chegar a esta situação, que se agravou principalmente a partir do meio
do ano. E agora esses crimes estão atingindo números inaceitáveis e
extremamente prejudiciais à economia do estado. Nós já aumentamos em 60% os
gastos com segurança. Nossas imagens são compartilhadas entre as empresas e
também com a polícia na tentativa de ajudar no controle desse grave problema.
São prejuízos milionários, sem contar que, com o trauma, motoristas muitas
vezes têm que se afastar do trabalho e demoram a retomar suas atividades —
contou o presidente do Polo da Pavuna, Marcelo Andrade.
Esse tipo de reportagem, que
expõe a triste realidade do Rio, vale mil vezes mais do que as notícias
deturpadas sobre a morte do filho da funkeira Tati Quebra Barraco. O mesmo
jornal GLOBO é capaz de produzir uma reportagem com dados objetivos como esses
acima, ilustrando o absurdo da criminalidade descontrolada no estado, e
manipulações grotescas que pintam o filho da funkeira, que era marginal e
estava armado, como a vítima em questão, transformando os policiais em algozes.
Reparem que as notícias sobre
a morte do jovem falam em assassinato, em crime, com destaque nas manchetes, e
só lá dentro, perdido no meio de um monte de coisas, descobre-se se tratar de
um bandido. O jornal dá destaque ainda para as “desumanas mensagens de ódio”
que a funkeira teria recebido, sem explicar que foi uma reação às acusações que
ela fez contra a polícia. O povo está simplesmente cansado, saturado dessas
inversões todas, que tratam bandidos como “vítimas da sociedade”.
E basta ler com atenção essa
reportagem acima para entender o motivo. O Rio está largado às traças, dominado
pelo crime, tomado pelo caos. A operação de logística, que deveria ser complexa
apenas pelos aspectos comerciais, torna-se uma aventura infernal no estado. As
empresas precisam acrescentar às planilhas de custo fixo um montante para
perdas com roubos, e os motoristas vivem aflitos, tensos, angustiados, não pelo
trabalho em si, que já seria cansativo, mas pela insegurança total.
É um ato de heroísmo ou
maluquice empreender num lugar desses. O empresário está sujeito a todo tipo de
abuso pelas autoridades, sob leis arbitrárias e fiscais corruptos, asfixiado
por uma burocracia insana e sufocado pelo peso dos infindáveis impostos, tendo
de utilizar uma mão de obra pouco qualificada, uma infraestrutura capenga, e
ainda por cima sob o controle de bandidos.
E, como se não bastasse tudo
isso, depois ainda tem que aturar os “intelectuais” e artistas engajados
condenando o lucro, o empresário “explorador”, enquanto esses mesmos bandidos,
no poder ou fora dele, são retratados como as vítimas ou os heróis. E essa
turma ainda quer desarmar o cidadão inocente, tirar-lhe o direito de legítima
defesa. É muita inversão! É muito cansativo. Sim, o Brasil cansa, e o Rio cansa
em dobro. Para a beautiful people, a dor da funkeira importa muito mais do que
aquela de todas as vítimas desses marginais que atormentam o estado.
Mas o povo pensa diferente.
Sempre que tiver de escolher entre a dor da mãe do policial ou do motorista de
caminhão, e a dor da mãe dos bandidos, escolherá a última. E com toda razão.
Título, Imagem e Texto: Rodrigo Constantino, 13-12-2016
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