FratresInUnum.com
Que miséria! A única pátria
que restou aos cães-de-guarda do atual pontificado foi um falso argumento de
autoridade, na verdade, uma falácia catalogada entre os argumentos ad hominem,
chamada de apelo à autoridade.
A estrutura lógica – ou
ilógica – do argumento seria apenas esta: “se Francisco falou, então é porque é
verdade, pois ele é o papa”. O apelo chega a assumir contornos cômicos quando
seus pregoeiros se disfarçam com vestes de escândalo e dizem: “onde já se viu
alguém questionar o papa? Que absurdo, corrigir o Santo Padre!”, enquanto
cruzam os dedos para que ninguém perceba o vexame de que acusem aquilo que eles
mesmos fizeram com os papas anteriores.
Ora, os outros papas eram
menos papas que Francisco? Criticar João Paulo II e Bento XVI foi o ofício
dessa gente. Agora, fingem devoção papal, chegam a delírios de fervor,
unicamente porque ele diz exatamente aquilo que eles querem ouvir.
Pois bem, o problema é que o
argumento de autoridade não é o problema. Ao contrário, é bastante legítimo,
desde que seja usado legitimamente, inspirando confiança e retidão.
Durante o Concílio de Trento,
o Padre Diogo Laynez — que, depois, foi o primeiro sucessor de Santo Inácio de
Loyola na condução da Companhia de Jesus —, que a convite do Papa Paulo III foi
teólogo perito do Concílio, fez a seguinte afirmação, digna de nota:
“Como os dogmas da fé só podem
ser definidos pelas Sagradas Escrituras e pelos escritos dos Santos Padres da
Igreja, eu declaro que não irei citar, em suporte da minha opinião, nenhum
texto de nenhum Padre ou Doutor da Igreja, do qual eu não tenha lido as obras
completas ou que não tenha extraído todas as passagens que dão provas evidentes
de que esta realmente é a opinião do autor” (Daurignac, History of the
society of Jesus, Cincinnati, 1865, p. 98).
Isto é um argumento de
verdadeira autoridade! Em outras palavras, o argumentador está de tal forma
interessado em descobrir a verdade da fé que rastreia nas Sagradas Escrituras e
nos escritos dos Padres e Doutores da Igreja aquela coerência verdadeira que
debela a dúvida e estabelece, define a verdade!
Ora, isso é exatamente o
contrário do que está fazendo Francisco. Ele desautoriza toda a tradição da Igreja
para estabelecer o que ele quer. Este não é um uso legítimo da autoridade, mas
um autêntico abuso da mesma.
Quando os fiéis manifestam a
sua perplexidade e mencionam essa postura autorreferencial e autoritária não
estão desafiando a autoridade do pontífice, mas apenas o estão convidando a
exercê-la autenticamente. Afinal de contas, o seu ofício não é criticar a fé,
mas ser um custódio da mesma, o seu garante e guarda intransigente.
Esse criterioso trabalho de
investigação da verdade da fé foi o que fez o Concílio de Trento demorar tanto
tempo. Cada proposição devia ser analisada no contexto de toda a tradição
anterior, para que não houvesse alteração no sagrado depósito.
Os protestantes romperam com
este critério. Passaram a ler as Escrituras não a partir do patrimônio do
cristianismo, mas de suas próprias invenções e achismos. Francisco transformou
este modus operandi na estrutura mesma de seu pontificado, e
colocou a sua autoridade totalmente a serviço deste programa.
Os progressistas sempre
relativizaram a verdade e a autoridade; agora, se escondem por trás da
autoridade para destruí-la por completo. De fato, Francisco está autoafirmando
a sua autoridade para esvaziá-la de sua função mais específica: a de ser defensor
fidei, defensor da fé.
Contudo, contrariamente aos
progressistas que, através da sua teoria crítica, submetem a
realidade inteirinha à relativização mediante uma crítica metódica e
implacável, nós não apontamos esses erros com prazer ou por esporte.
De fato, trata-se de um dever
de caridade para com Francisco e de um dever de justiça para
com a Igreja!
É um dever de caridade porque,
com efeito, não sabemos se Francisco age por ignorância, malícia ou
fragilidade. Em todo o caso, está fazendo mal à sua própria alma e às dos
outros, escandalizando a muitos com sua atitude obstinada. É verdade que
muitos, em sua acusação, acabam se destemperando e partindo para a agressão
verbal mais grosseira. Não é possível admitirmos uma revolução contra a
autoridade. Podemos apontar o erro, mas sempre com o devido respeito e amor, em
vista do bem da Igreja e de sua unidade, contra qualquer cisma ou defecção.
Neste ponto, precisamos nos
firmar numa objetividade lógica muito rigorosa, pois é comum na atual retórica
ostensivamente apologista a este papa o deslocamento do debate para o âmbito
pessoal. Querem reduzir a posição católica a uma mera questão de antipatia por
Bergoglio ou ampliá-la para uma posição de crítica perpétua, projetando sobre
nós aquilo que eles mesmos sempre fizeram.
Lembramos, também, que os
apologetas de Francisco, sempre apressados em demonstrar-lhe total
subserviência, pouco têm de caridosos ou mesmo virtuosos. Como ensina o
Catecismo da Igreja Católica, “deve-se proscrever qualquer palavra ou atitude
que, por bajulação, adulação ou complacência,
encoraje e confirme o outro na malícia de seus atos e na perversidade de sua
conduta. A adulação é uma falta grave quando cúmplice de vícios ou de pecados
graves. O desejo de prestar serviço ou a amizade não justificam duplicidade na
linguagem” (n. 2480).
E, neste caso, vale lembrar
aos cleaners que de pouco serve cobrir a nudez de quem rasga
continuamente os lençóis com que é coberto e tampouco serve fingir que nada
acontece, para continuar apenas pregando a doutrina, quando o próprio Papa se
coloca a desmontar a arquitetura mesma da Igreja e a sua constituição divina, o
que é flagrantemente não somente contra a doutrina, mas, acima de tudo,
impossibilita completamente a sua conservação, visto que o ministério petrino
serve justamente para isso.
Além disso, corrigi-lo é um
dever de justiça para com a Igreja. Em meio às ambiguidades do seu
magistério, é evidente uma direcionalidade muito coerente.
Bergoglio não é um papa que fala através das palavras, mas sobretudo através da
direção para a qual encaminha a Igreja: de católica, ele a está tornando
luterana.
Os progressistas sempre
criticaram todos os papas, mas não apenas. Criticam as Sagradas Escrituras, os
Santos Padres, os Doutores da Igreja e até eles mesmos. A crítica metódica dos
progressistas é implacável. Mas, para que continuem a criticar, precisam
demolir todas as autoridades enquanto eles mesmos se imunizam contra a crítica,
escondendo-se por trás da autoridade papal de Francisco, à qual apelam como num
refrão contínuo.
Para os progressistas, não existe moral objetiva, nem lei, nem pecado. Mas, para isso, eles precisam criar um único pecado, o pecado original do progressismo bergogliano: corrigir Papa Francisco, até no que ele tem de escandalosamente corrigível.
Título e Texto: FratresInUnum.com,
5-11-2017
É bom que seja assim: “quebrar as estruturas engessadas da Igreja”, luteraniza-la e enfrentar os constantes escândalos no seio dela... Bergoglio está mandando bala, imprimindo uma segunda reforma....
ResponderExcluirHabitz