Maria João Marques
Nem todas as críticas às mulheres políticas
são sexismo. E os homens terão de aceitar que o mundo mudou e têm de competir
com quem é diferente (mas mais parecido com outros eleitores).
Por estes dias a infeliz
ex-ministra Constança Urbano de Sousa veio queixar-se que porventura teria tido
mais respeito no ano passado se não fosse mulher. (Suspiro.)
Não tenho qualquer dúvida de
que as mulheres são tratadas de uma forma mais brutal, exigente, irracional e
cruel que os homens nos media. Basta ver as reações aos últimos Golden Globes,
com o seu dress code negro em apoio aos movimentos #metoo e Time’s Up. O
assunto do assédio sexual, cuja autoria é masculina, ficou de lado em muitas
cabecinhas (que não o queriam na ribalta).
O importante foi evidenciar
que Oprah, dona de um discurso bonito e contundente, seria uma péssima
candidata presidencial (candidatura com que doidos em simétrico sonham). Ou que
as mulheres de Hollywood sempre conviveram com os abusadores, pelo que são umas
hipócritas. (Já se sabe: quando as mulheres calam, são cúmplices; quando falam,
são hipócritas; quando contam logo, são mentirosas que querem enlamear homens
inocentes e bons pais de família). Gente particularmente amante da liberdade
considera que as mulheres que não são escravas sexuais do ISIS ou intocáveis na
Índia são umas dondocas do primeiro mundo sem problemas e deviam manter-se
caladinhas. As mulheres financeiramente bem-sucedidas e com mediatismo por
alguma razão obscura estão privadas de liberdade de expressão.
Às mulheres foi oferecido um
rol de críticas feroz. Aos abusadores? Bem, não devemos ser demasiado
puritanos.
Não tenho dúvidas que
Constança Urbano de Sousa, como qualquer política portuguesa com visibilidade,
sofre ataques sexistas. Sucede que, no caso desta senhora, esta desculpa é
muito esfarrapada. Morreram 111 pessoas, pelo menos, em incêndios florestais.
Houve mudanças questionáveis na liderança da proteção civil sob a sua tutela.
As condições meteorológicas antes dos incêndios eram conhecidas. Jogar a
cartada do machismo perante a morte de 111 pessoas é patético e insultuoso. Tal
como foi a queixa das férias que não teve.
Até digo mais: como mulher e
como feminista a atuação de Constança Urbano de Sousa foi assaz ofensiva. Gosto
muito da feminilidade das políticas (como das restantes profissionais), aprecio
sempre o ponto de vista diferente das mulheres, aplaudo a diversidade, não
gosto de autómatos. Mas não perdoo a Constança Urbano de Sousa ter-se portado
como uma barata tonta incapaz de controlar as emoções depois da calamidade de
Pedrógão. Deu uma péssima imagem das mulheres na política. As mulheres que
conheço não vivem à beira de ataques de choro, nem tal despautério é
característica feminina fora dos romances oitocentistas. Estou mais acostumada
a mulheres que sabem enfrentar adversidades. Em boa verdade, uma característica
que associo às mulheres é uma enorme resiliência.
A ministra a chorar (numerosas
vezes) e a conversa sobre os seus sentimentos foram uma caricatura das reações
femininas tão provocadora de icterícia quanto a paródia à imperturbabilidade
masculina que Costa nos ofertou, com a sua frieza e falta de empatia em todas
as ocasiões a propósito dos incêndios e das mortes.
Como disse Nancy Mitford de
Madame de Pompadour, a incursão de Urbano de Sousa pela política não foi de
molde a deixar as feministas satisfeitas. Mas a ex-MAI parece fazer parte de
uma moda de queixinhas. Por estes dias Theresa May fez uma remodelação que
trouxe políticos mais novos, mais mulheres e com maior diversidade racial para
o governo. É certo que o primeiro objetivo é enviar um susto por correio para a
UE, ao dar sinal de planearem a possibilidade da saída da Grã-Bretanha sem um
acordo. Em todo o caso, um segundo objetivo pretende tornar o governo mais
representativo do país atual.
Pois faz muito bem, porque os
assuntos da representatividade não se esgotam na proximidade ideológica, mas
alastram-se também à partilha de experiências comuns, local onde se vive, tom
de pele, sexo, classe social, idade e por aí fora. Como um membro do governo
disse aos media, May percebia que os eleitores olhavam para o governo e viam um
grupo ‘stale, male and pale on the wrong side of the fifties’.
Vai daí despediu alguns dos
membros masculinos do governo (a ministra da Educação saiu porque não aceitou a
mudança de ministério). Dos elementos seniores eram dezessete homens versus
seis mulheres. Uma atroz escassez de saias e saltos altos. Mesmo assim houve
queixinhas. Um deputado conservador rezingou que se estava a promover gente
impreparada devido ao sexo e à cor de pele. Como se sabe, só os homens louros
(que também se sentem melhor representados por outros homens louros – é da
natureza humana de gostarmos de quem se nos assemelha), ou com outra cor de
cabelo, são sempre poços sem fundo de mérito e nunca, lá agora, são escolhidos
porque são homens, donde mais do mesmo, seguidores das regras do old
boys club e previsíveis.
O governo inglês continuará a
ter uma larga maioria de utentes das gravatas. Contudo alguns senhores
consideram pouco e amuam e fazem birra porque alguns lugares vão para arrivistas
de sexo ou cor questionável.
Eu digo que anda demasiada
gente – homens e mulheres – de cabeça perdida com as questões do sexismo e da
necessidade de diversidade na política e nas administrações públicas – esta
última é, para mim, um fim político em si mesmo. Nem todas as críticas às
mulheres políticas são sexismo. E os homens terão de aceitar que o mundo mudou
e têm de competir com quem é diferente (mas mais parecido com outros
eleitores). O que é bom, porque maior concorrência faz sempre bem.
Título e Texto: Maria João Marques, Observador, 10-1-2018
"O lar é um campo de concentração confortável". A liberdade exige mais trabalho que a submissão, entretanto a liberdade traz angustia a medida que você não é dirigido pela submissão e é livre para escolhas. Ser dirigido é cômodo. Mulheres são seres acomodados com raríssimas exceções.
ResponderExcluirNa matéria, a melhor resposta para questionamentos estranhamente feministas: http://www.portaldoholanda.com.br/famosos-tv/em-foto-mulher-de-stenio-garcia-surge-completamente-nua-praticando-yoga
ResponderExcluirColoque um arreio em um cavalo/égua e nas primeiras semanas ele dará coices e relinchará. Em seguida e após algum tempo, este mesmo cavalo/égua sentirá um grande prazer em mastigar o arreio de couro em sua boca e estará pronto para ser montado. É assim que se acostumam as pessoas à submissão. Simples assim.
ResponderExcluir??
ResponderExcluirYes, i understand the family is over.
ResponderExcluirThere is no fathers and mothers, only aunts and babysisters.
There is no other word to describe the children in this days then "EASYRIDERS".
I was born when mothers are mothers and fathers are fathers.
I wrote this text to show I learned English by myself when i was 14 years old.
FUI...
Me too. I mean, I was born when mothers were mothers and fathers were fathers...
ExcluirBy the way, lembremos de Gramsci, Trotski e outros menos votados: penetrar dissimuladamente para, depois, destruir por dentro e de dentro.
ExcluirÉ! "Berço" esta é a questão! Creio que esta fundamental e importantíssima Educação de Berço, de Pai e Mãe, está em extinção. É uma lastima.
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