terça-feira, 10 de abril de 2018

[Aparecido rasga o verbo] Somos todos herdeiros da velha ditadura, uma dentadura que, ainda agora, nos morde escancaradamente a vergonha

Aparecido Raimundo de Souza

O que mudou de 1964 até agora? A colocação de uma velinha a mais, para ser apagada, no bolo (para lembrarmos) enorme de uma história que até hoje ninguém ousou justificar”.
Carlos Heitor Cony

EXATAMENTE EM 31 DE MARÇO passado, ou mais precisamente há dez dias, o País completou 54 anos de mais um golpe na sua história política entre tantos vividos por nossa pátria. Para falarmos do Brasil, de seu povo e de suas lutas, necessariamente teremos de voltar ao ontem adormecido dentro de nós. Mergulharmos de cabeça numa pequena introspecção. Para quem não sabe o que é introspecção, introspecção é tudo aquilo que se introspecta. Somos, na verdade, um povo que sofre de amnésia repentina irreversível. O chamado pelos médicos de ARI, transformado, a depois, em Ari Toledo. Esquecemos, com grande facilidade, fatos que tanto contribuíram para impor, a todos nós, a caótica situação dos dias atuais. Todo mal que hoje sentimos na pele, acreditem, se desenvolve de forma lenta e contínua. Porém, eficaz. Apesar disso, e por isso, segue corroendo a poucos bocados, lentamente, minando as forças e as precárias resistências que ainda restam para a nossa salvação.

Assim é a nossa história política. Agitada, conturbada, inquietante. Nossos conflitos, já de há muito, nos mostram que somos uma ralé da pior espécie, uma plebe desmantelada, sofrida, fodida, de fácil manipulação pelas elites dominantes, que sempre fizeram e desfizeram da nação. Como exemplos, citaremos os golpes de 1922, com (o levante dos “18 do Forte” de Copacabana), na verdade, eram 19, o de 1925 (o Golpe do Chile quando os militares derrubaram a “Junta de bois de Setembro”), e o de 1930, com Getúlio Vargas se empossando como governo provisório, se elegendo depois, em 1933, pelo sistema parlamentarista, oportunidade em que nos aplicou, por conta disso, uma tremenda pancada em nossos francos, e, em 1937, se transformando em ditador do Brasil, até 1945, quando foi deposto por “forças contrárias” ao seu estilo pouco ortodoxo de governo.

Eurico Gaspar (Gasparzinho, o fantasminha camarada, nasceu a partir de Eurico), ou Eurico Gaspar Dutra, seu sucessor, regeu a nação no período compreendido entre 1945 e 1950. Em volta triunfal, Getúlio Vargas, “malandramente”, desta vez, se viu eleito pelo voto popular. Governou de 1950 a 24 de agosto de 1954, quando, de forma ainda contestada, cometeu suicídio, um suicídio até hoje considerado esquisito. Recordando, caros companheiros, ele matou-se a si próprio. (Kikikikikiki).

Pelo sim, pelo não, gerou, na época, agitação descomedida, que se espalhou mundo afora. Seu vice, Café Filho, antes de virar café, assumiu.  Entretanto, não resistiu às pressões (tipo dona Marisa Letícia, esposa de Lula), sendo deposto em benefício de Carlos Luz e, posteriormente, Nereu Ramos (governo de transição para a era Juscelino e seu maravilhoso sonho popular de se perpetuar a qualquer custo na história).  Acreditamos que os senhores se lembram do “Brasil! Cinquenta anos em cinco”? Com esse slogan, a fundação de Brasília, a criação do polo de desenvolvimento da região central e o enriquecimento, em muitos casos escusos e ilícitos, de grandes grupos de construtoras e fornecedores ligados à Nova Capital.

Jânio Quadros, seu sucessor, assumiu em meio a uma desenfreada pompa, porém, terminou ficando pelo caminho (abandonando todos os brasileiros à sua própria sorte). Seu vice, João Goulart, por pouco não fez o mesmo (foi preciso muita negociação para se ver realmente empossado). Na época, se encontrava fora do país, e, ao entrar no exercício de tão elevado cargo, se obrigou, por um bom tempo, a comandar, ou como se dizia (governar), sob o sistema parlamentarista. Vencendo esta etapa, realizado plebiscito, trouxe de volta o sistema presidencialista republicano. Iniciou, então, as reformas da previdência, a trabalhista, que contrariavam os interesses das elites e também dos militares. Suas atitudes e seus pronunciamentos, inflamados dividiam as opiniões das correntes. Eram correntes a dar com o pau.

Naquele tempo, os morros vendiam correntes, ao invés de drogas. Traficavam correntes, ao invés de armas. Em 13 de março, o clima se mostrava o pior possível e se articulava, pelos bastidores, mais um golpe para derrubar o chefe da nação.

Jango em seu discurso, também no dia 13, em frente à Central do Brasil, na Presidente Vargas [foto abaixo], demonstrou claramente a aversão pela situação caótica, assinando, por conta disso, no palanque, decretos de desapropriações de terras e a estatização das refinarias de petróleo. Nessa noite, entre tapinhas e beijos, discursaram os principais líderes de esquerda, de Leonel Brizola a Miguel Arraes.

Foto: O Cruzeiro
O pior, caríssimos amados e ilustríssimas amadas... diante do Panteão, ou (mais bonitinho que Panteão), o movimento, perdão, o monumento ao Duque de Caxias, a provocação suprema ao Exército Brasileiro, seus generais e coronéis, que assistiam cóleros e enfurecidos e, também pelo fato da Polícia Especial do Exército ter sido destacada para o policiamento da concentração. Foi a partir dessa concentração que um Elefante espertalhão, inventou o tomate em lata. De certa forma, hoje temos em nossas casas esses concentrados em face da brilhante ideia desse ilustre Paquiderme.  

Pois bem. A nação vivia momentos de angústias e incertezas. Incertezas e angústias. Dividiam-se opiniões em cada esquina, em cada bar, em cada rodada de cerveja: para uns, seria instalada a República Sindicalista. Seria a CUT, Central Única dos Trambiqueiros? Para outros, a implantação do comunismo. O dia 13 foi propriamente a gota d’água, para transbordar o copo.

Ele viria, de fato, inundar, dias depois, quando se rebelaram os marinheiros, logo “anistiados” pelo presidente João Goulart. Mesmo sendo orientado por seus sucessores e amigos, entre eles Tancredo Neves e outros, João Goulart compareceu a uma Assembleia de Sargentos e Sargentas do Exército, no Automóvel Clube, sediado na Cinelândia. Em seu falar, Tancredo, “tancredo!” ratificou os propósitos de realização das reformas agrícola, urbana, educacional e bancária, mostrando enorme simpatia (de fato simpática) pelo Movimento movimentoso dos Sargentos e Sargentas.

Verdadeiro sacrilégio, é bem verdade, para os oficiais das três forças, inclusive a da Light, pondo em xeque-mate a hierarquia militar. Nessa altura, em Juiz de Fora (avô de Sergio Moro era um juiz de fora, veio da Alemanha), nas Minas Gerais, o general Olímpio Mourão Mourinho Filho se decidiu a derrubar o presidente na noite do dia 31 de março, se aliando ao general Carlos Luiz Guedes, o Guedinho, ao governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto Carçudo, ao general Odílio Denys (nosso Pimentinha, que perturba o senhor Wilson) e um seleto grupo de empresários mineiros. Por assim, Mourão de Cerca Filho (o mesmo que em 1937 chefiava o Serviço da Ação Integralista Brasileira) e que, igualmente, forjou o golpe fascista que instalou o Estado Novo no Brasil (os golpes eram a sua especialidade), rasterou o pobre do presidente.

Dizem as más línguas, que, vez em quando, ele dava golpe em si mesmo e logo depois se autoflagelava pelas burrices. Dessa forma, com suas tropas e trapas, tripas e trepas, em ação conjunta, em 1° de abril invadiu o Rio de Janeiro, tendo seu governador, Carlos Lacerda, depois de ter sido fulminantemente cercado, aderido ao golpe. Esperto, o cara. Deu uma de Temer. Até o comandante do 2° Exército, general Amauri Junior Kruel (outro extremamente kruel), compadre e amigo leal do presidente, passou para o lado dos golpistas.

Por seu turno, o até então imbatível sistema de segurança do general Assis Brasil, chefe da Casa Militar da Presidência da República, foi por terra. Sem alternativa, João Goulart se refugiou no Uruguai, disfarçado de Pablo Vittar e, assim, mais uma vez, se desmoronava a frágil estrutura democrática brasileira. O que, diga-se de passagem, dura ou perdura, até nossos dias.

Na atualidade, se os prezados leitores pararem para pensar, verão e não só verão (perceberão igualmente), que a nossa democracia combalida e atolada na corrupção, persiste. Tem vida própria. Descobrirão ainda, ou enxergarão estupefatos e boquiabertados que muito daqueles, que falsamente ostentaram a bandeira da honra e da liberdade, cassados, anistiados, congelados, petrificados, e hoje no poder, continuam, seguem a desonrar abertamente o seu povo e, pior que isso, caros amigos e leitores: o nosso fracassado BRASIL, ou como é conhecido além-fronteiras e mares: L-I-S-A-R-B. Ao contrário?! Sim, amados. Perfeitamente, amadas. Ao contrário.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, ainda em frente à sede da Polícia Federal de Curitiba, no Paraná. 10-4-2018

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4 comentários:

  1. BEM SENHOR APARECIDO ESSE FOI MELHOR QUE OS OUTROS.
    APENAS UMA RESSALVA:
    O golpe de 31 de Março de 1964, foi do legislativo depondo Jango por abandono de poder, e colocando um GENERAL na presidência. O verdadeiro golpe militar foi em 1967. E não vale a retórica de ele e Brizola fugiram vestidos de mulher para o Uruguai, que é uma BAITA ATOCHADA.
    FUI...

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  2. Pelo que entendi da leitura. nonguem fugiu vestido de mulher. Ainda mais na pele de Pablo Bittar. Pelo tempo esse-essa pessoa na epoca nao existia. Cpm certeza uma tirada do autor com os fatos da historia. Angelo Fernandes editor da revista Talismã Sao Paulo.

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  3. ASSIM BRIZOLA SAIU DO BRASIL EM 1964

    http://www.geneton.com.br/archives/000306.html

    Paizote

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  4. Sobre o mesmo ou quase recomendo a leitura deFolclore político: 1950 histórias
    Por Sebastião Nery "https://books.google.com.br/books?id=LTc6MpZwpM4C&pg=PA235&lpg=PA235&dq=varig+brizola&source=bl&ots=5YDoBQHJiy&sig=PFEWt1fgUuSfytxEi3Ge8yZ-G1s&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjTnN35l7DaAhXDEZAKHfLZDwgQ6AEIJzAA#v=onepage&q=varig%20brizola&f=false

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