Carina Bratt
Dizem a boca escancarada e
cheia de dentes, que o “Seguro morreu de velho”. Não acredito nesta hipótese,
até porque, ninguém sabe precisar a idade exata do falecido. Se de fato, o
senhor Seguro morreu velho, não partiu do nosso meio com menos de vinte ou trinta.
A coisa é tão certa como no dizer de Caetano Veloso, “dois e dois são cinco”.
Com vinte, ou trinta, o Seguro
seria moço demais e não um idoso na acepção literal da palavra. Vamos supor que
fosse aos setenta. Ou oitenta. Também um
desacerto, um disparate, uma asneirice sem tamanho. Na ponta da pistola pronta
para atirar, se levarmos em conta a vida do brasileiro, ou a tal sobrevida, tem
gente por aí com mais de cem. No papo dos anos, a mentira é o caminho que
engana o tempo.
Meu tatatatatataravô, por
exemplo, partiu para as nuvens celestes com quinhentos e dois. Apesar destes janeiros nas costas, não havia
um dia que deixasse de correr cinquenta quilômetros na Praia de Ipanema.
Comentavam que vinte e cinco de ida e vinte e cinco de volta. Diziam mais,
notadamente os que o conheceram e conviveram com ele, atrás de uma garota.
Garota? Na idade dele? Que
garota faria um senhorzinho correr assim?! Ainda que ele fizesse parte de um
ritual combinado com o Eterno... ah, tá legal, eu conto. A garota era a de
Ipanema, logicamente meu parente tatatatatataravozado se dava muito bem com o
seu conterrâneo Tom Jobim.
Danilo Gentili, num de seus
programas, o tal “The Noite”, exibido pelo SBT, disse recentemente que o
“Seguro morreu de acidente”. Não lembro (e me corrijam se estiver errada) ter
lido algo a respeito. Se o Seguro tivesse morrido de acidente, daria IBOPE.
Passaria em todos os
noticiários, inclusive no Jornal Nacional. Bonner não deixaria um “furo” destes
passar em branco. Seria realmente um furo. Um rombo maior que o provocado no
casco do Titanic, antes mesmo de ele estar nos sonhos secretos de Joseph Bruce
Ismay.
O Seguro não é um bosta
qualquer, um Mané sem eira nem beira. Não vive de azaração. Não paga mico. O
Seguro é importante, todo mundo sabe disto. A galera, em peso, corre atrás
dele, feito o diabo da cruz. Até paga uma boa grana mensalmente para ter a sua
proteção vinte e quatro horas.
Em Brasília, no circo armado
da posse do novo governo (para quem teve o desprazer de assistir), o Seguro
estava por toda parte. Dos seus olhos crepitavam labaredas fumegantes. Havia um
Seguro de tocaia, como um estandarte vigiando outro Seguro.
Espreitando para que este não
ficasse dessegurado, ou pior, DESASSEGURADO.
Bato o pé quando digo que o Danilo Gentili não foi nem um pouco gentile
em ter espalhado por aí que o “Seguro morreu de acidente”.
Ainda que hipoteticamente
fosse verdade, que tipo de acidente? Aéreo? De carro, de ônibus? De moto? De
lambreta? Atropelado? Vítima de bala perdida? Claro que existem os contra. O
Seguro, dizem eles, é um risco. Risco anunciado. É doloso, irresoluto,
indeciso, ineficiente, infiel, às vezes titubeante, a tal impertinência de
deixar alguém famoso levar uma facada do nada.
“Mais mau”, nisto, taxar, como
taxaram, a coisa como “ATENTADO”. Seria mais bonito e digerível rotular como
uma agressão, uma investida, uma insolência. Mas atentado... vamos e
convenhamos, conversa pra elefante dormir e roncar. Observando a coisa por
outra ótica, quem deu a facada igualmente se viu assegurado pela lei.
Esqueceram? O cidadão da
facada conseguiu arrebanhar proeminentes advogados, pelo menos para deixar
registrado que o Seguro, embora seja, às vezes displicente, protege os seis
lados. Segundo “a lêndia”, seguro que se
preza, e tem nome a zelar, não nos deixaria assim, num espirro, tampouco se
tomasse um susto, vítima de briga de cachorros numa esquina de nossa bela e
aconchegante cidade.
A pergunta que gostaria de
deixar suspensa, como os jardins babilônicos da Casa da Dinda frenteada com o
Lago Norte na capital do país: será que o Seguro vive com um olho na missa e
outro no padre? É um sujeito sério? Não
correria da Raia, acaso ela aparecesse com dois celulares nas mãos e o Edson a
tiracolo?
Estaria o Seguro em cima do
muro, como um corvo de mau agouro? Seguro, até onde sei, não trepa em muro.
Vive aos acordes dos enredos. Li numa revista francesa que o Seguro tem
parentesco com gato.
Seria “acasoamente” com o
bichano preto do Sétimo Guardião da trama das vinte e uma horas da emissora dos
Marinhos? – O que mais me intriga nesta pergunta: por que gato? Possivelmente
em face da consanguinidade com a cantora e compositora canadense Alanis
Morissette.
Alanis bateu com as doze sete
vezes. E retornou sem um arranhão. Se ela resolvesse comer capim pela raiz de
novo, sem azeite, vinagre e sal, tipo o Seguro que ela paga rigorosamente em
dia, cobriria a sua ida definitiva para a terra santa dos pés juntos?! Depende da seguradora. Não propriamente do
vendedor, ou corretor, mas da seguradora.
Quanta bobeira, meu Deus!
Falei, divaguei, esperneei... contudo não expliquei os motivos a que vim. Nada
de concreto. Direi agora. O Seguro, foco do texto, não morreu de velho, nem de
acidente, nem caiu de cima do muro. O
Seguro não perde a vida, a cor, o brilho, a pose, a postura, a estrela. É
imorredouro. Isto é perfeito, tanto quanto os lados de um triângulo escaleno
são iguais.
Idênticos, a bem da verdade,
porque a área de circunferência quadrada da pirâmide é o dobro do raio que o
parta. Fiz me entender? “Escrevinhado” de forma mais coerente. É imorredouro,
como os imortais de qualquer academia, ainda que esta associação não seja de
letras.
Ao comprido estafante das
tristezas e dissabores do dia a dia, o cotidiano do senhor Seguro se reveste de
um heroísmo à moda Super-Homem. Bastou precisar dele, para vê-lo escapar por
entre os dedos, voando por aí. Pela janela. De preferência, a criatura costuma
pular de um prédio extremamente alto.
O morcego Batman, coitado, com
seu sofisticado Batmóvel a trezentos por hora, não conseguiria se colocar em
seus rastros, ainda que fustigasse os calcanhares até sangrarem.
O certo é que o recado que eu
queria dar, se funda (não na funda com a qual Sansão não matou um leão) num
pequeno e quase insignificante empecilho. Moramos no Brasil. O Brasil é uma
Gothan City onde prevalecem os mais altos índices de criminalidade do mundo.
Além dos ladrões que
precisamos nos esquivar deles o ano inteiro, quando deixamos a sutileza de
nossas casas, ou topamos com uma centena de vilões, os mais cabeludos e
endiabrados.
Entre eles, o ex-cachaceiro
louco, o Coringa (quem seria o Coringa de agora?), o Charada (quem você
batizaria neste momento como o Charada da vez?), e claro, as kikikikikiki... as
eternas Arlequinas e etc. etc. etc. Em resumo, nesta maçaroca toda, nesta
porção de fios enrolados prefiro ficar com o pensamento vivo do gaúcho Mário
Quintana.
“O Seguro – na visão dele -
morreu de guarda-chuva”. O resto são ablepsias e desvairamentos obsessivos de
uma jovem senhorita que não tem nada, absolutamente nada a fazer. A não ser,
danar.
Título e Texto: Carina
Bratt, São Paulo Capital, 6-1-2019
Anteriores:
Prezada Carina ,
ResponderExcluirParabéns , pelo texto ,ficticio ,bem humorado , com toques de " non sense",
como o extraido à seguir;
“
"Vamos supor que fosse aos setenta. Ou oitenta, …”,” Na ponta da pistola pronta para atirar..."
Isto dá nova esperança á nós todos, que já,digamos, perderam o “trato com a coisa” , e ficaramos só na saudade!
Sei que a maioria dos leitores “veteranos” vai se indignar dizendo “eu não!”, mas estamos na fase em que se abandona a prática e passamos para a teoria.
Ou seja abandonamos o esporte ,mas insistimos em ficar na ativa!
Pelo menos como treinadores!
Trocamos a “prática” e a substituímos por um bom livro!
E como cantado em versos pelo mundo afora, confirma-se que a garota de ipanema era “aficionada” , e com um gosto por sexo geriátrico , não bastassem Vinicius e Jobim ,"cercava" todos velhinhos sapecas de Ipanema!
Como seu tatatataravô!
Para os “mais vividos’ é um deleite , porque amor com velha...é como comer bife de da semana passada!
RSRSRS
paizote
Carina, você a cada dia me surpreende. Talvez o amor da sua vida começe com a letra EUZINHO. Que Gadu te guarde e esqueça onde. Às vezes penso que você será a minha fortaleza. Ceará??!!
ResponderExcluirAparecido Raimundo de Souza, de Fortaleza, no Ceará.
Ah... entendi. Você não quis começar porque o meu começe foi assim e não assim. Juro que coloquei esse começe para ser um comece diferente, igualmente a letrinha EUZINHO. Como você não respondeu, magoei!
ResponderExcluir