Denis Tillinac
O proselitismo do Islã traz problema, não o
do cristianismo, já desaparecido. No entanto, é a islamofobia que é denunciada.
Dois pesos, duas medidas injustificadas.
Numa recente capa de Charlie Hebdo, vê-se um papa e um imã
apagando uma vela. Mensagem muito clara: a vela significa as Luzes apagadas em partes iguais pelo
cristianismo e o islã. Este paralelo ofende a razão tão cara a Voltaire,
ocultando grosseiramente a realidade. O terrorismo sob caução islamita arma
assassinos em todas as latitudes, e os caricaturistas do Charlie Hebdo pagaram com sangue para o saber. Estão eles sofrendo
amnésia? Nenhum terrorista cristão é visto em nenhum lugar e, graças ao Céu, o
clericalismo pesado e antigo tem poucos adeptos na França. Mesmo no meio dos
(raros) integralistas católicos, que não ameaçam ninguém. Portanto, é preciso
uma overdose de má fé para colocar em pé de igualdade uma confissão que causa
graves problemas de concórdia civil em nossas sociedades ocidentais
secularizadas e o cristianismo que não pretende obrigar ninguém a seguir os
seus preceitos.
Cada um é livre de repudiar a
fé em um Deus transcendente, seu impacto sobre as formas de pensar o mundo e de
o viver. Caucionado pelo princípio de laicidade, o direito de expressar alto e
forte seu agnosticismo ou seu ateísmo não é contestado por nenhum clérigo católico,
protestante ou judaico. Mas é, como é bem evidente, pela franja radicalizada do
islão. Os ultras do racionalismo têm o direito de acreditar que uma consciência
“emancipada” de todo o comércio com o divino acede à liberdade e predispõe à
tolerância. Lembraremos que dois dos maiores assassinos em série do século XX,
Lenine e Hitler, impuseram o dogma do ateísmo, proscreveram os cultos e
perseguiram os crentes.
Mas voltemos ao paralelo da
redação do Charlie Hebdo cuja
impertinência não pode ignorar. Aproximemo-los do discurso ambiente que
denuncia a “islamofobia” e, portanto, deveria indispor todo o anti-clero
consequente. Porque enfim, pela bitola da lógica deles, temos o direito de não
amar o islã como não amar o cristianismo, liberdade de pensamento e expressão
obrigam.
Ora, se a mídia e os políticos
não param de nos apresentar a islamofobia como um atentado à moral, ninguém
denuncia a cristianofobia que incita ao assassinato dos “cruzados” no mundo e no
nosso país. O álibi desse silêncio pesado de culpabilidade masoquista, é a
reprovação anacrônica de uma aventura colonial sofrida por populações muçulmanas.
Disfarça a verdadeira razão: um medo que tetaniza.
Atacar a Igreja (católica) não
comporta nenhum risco e quando as feministas FEMEN destroem um local de culto,
concedem-lhes indulgências plenas. Mas elas estariam em maus lençóis se elas
ousassem profanar uma mesquita; é por isso que elas se abstêm de o fazer.
Charlie Hebdo pode, impunemente, ridicularizar Jesus, a Virgem Maria, o Papa,
os padres, e nunca se privou de o fazer. Mas suas sátiras não gozam da mesma
impunidade quando ironizam Alá e os seus fiéis.
Não existe pior pecado contra o espírito, escreveu Jean Rostand, que o de dar má consciência àquele que diz a
verdade. Afogar o medo (legítimo) do islamismo numa mesma massa
anticlerical demonstra uma grave renúncia a pensar/expressar. Que se soma aos
sintomas de confusão mental que prometem uma era de barbárie. Nada de mais
pernicioso do que a negação da realidade por sectarismo ou por incapacidade de
descodificar o mal por trás da neblina de fantasmas ou de ideias preconcebidas.
Nada mais perigoso para a liberdade do homem, e para a sua dignidade, que a
cultura da troça sem discernimento. Quando vale tudo e tudo se vale, nada mais
vale, e o homem privado de farol e de bússola cambaleia como cego na beira de
um precipício.
Título e Texto: Denis Tillinac, Valeurs Actuelles, nº 4288, de 31
de janeiro a 6 de fevereiro de 2019
Tradução e Digitação: JP, 9-2-2019
Denis Tillinac, na edição número 4288, titula “O cristianismo e o Islã tratados desigualmente” e compara os dois. É um exercício perigoso. Esse é o princípio adotado pela esquerda laica, que conclui: sem religião nas nossas sociedades. É preciso combater esta assimilação.
ResponderExcluirO islã é um sistema político-social antes de ser religioso. O presidente Erdogan se admira de ouvir dizer “islã moderado”; para ele “o islã só pode ser uma única coisa.”
Que aqueles que pregam a compreensão, senão a submissão, procurem o verbo “amar” no Corão: não existe.
Jean-Paul Michel